PENÚLTIMO CAPÍTULO 25 - A Festa Dos Balões (Parte Dois)

44 8 10
                                    


Tocava uma música remixada da Lana Del Rey no rádio, e os meninos viravam bebidas numa aposta ridícula de quem conseguia virar tudo sem vomitar. Enquanto isso, o andar de cima, eu tentava ignorar que alguns adolescentes estavam no meu quarto e node meus pais. Essa festa não está saindo do controle, ela é tomando o seu próprio. Eu me sentia em um filme, mesmo que amanhã eu não esteja vivo. Vai saber qual será a hora em que meu coração irá parar para sempre.

Bom, faltavam duas horas para o fim do meu mundo.

Abaixaram um pouco o som e algumas pessoas me puxaram para o centro da sala, com uma garrafa girando no meio de vários adolescentes, eu presumi que era verdade ou consequência. Mais consequência do que verdade. Sentei junto a eles e Joaquim no outro extremo, as meninas igualmente e todos os demais. 

Estavam ali todos os convidados, todas as pessoas que conheci. A menina da igreja, as líderes de torcida, a do café, os meninos da loja de festa, os jogadores de futebol e todos os demais. Uma variedade de pessoas, e eu me sentia tão bem.

Aquela garrafa girava, e eu já tinha beijado quase todas as garotas da roda, e Joaquim igualmente. Não era momento de ciúmes, eu não estava nem um pouco. De dois beijo que nós dávamos, cinco era nosso. Eu poderia eternizar esse momento e viver no infinito de possibilidades boas, onde minha mente vazia e alcoólica, não enxergava a maldade no mundo. Somos jovens, problemáticos e adoráveis, e nesse momento, só isso importava.

Passado uns trinta minutos, me arrastaram para outro cômodo. E a brincadeira era a seguinte: Quem achar o Barín primeiro, ganha cinquenta reais na casa de jogos do Thunder no centro da cidade. Naquela histeria, qualquer coisa estava animando a gente. Poder gastar cinquenta reais em jogatina parecia como ir a Disney, todos eles viraram para uma parede e eu saí correndo em disparada para me esconder. 

Subi as escadas e entrei no meu quarto, abri a parte debaixo da minha cama sem colchão, entrei e fiz força para fechar. 

-PODEM PROCURAR! - escutei gritarem. 

Passos apressados começou, uns tropeços também, uns gritos igualmente. Eu encarava o estrado da cama, respirando ofegante.

E ali, sozinho, lembrei.

"Eu vou morrer' minha mente disse.

Naquela hora não tinha Lana Del Rey tocando em versão de forró, não tinha gummys ou Skol Beats misturando meus sentidos. Simplesmente não tinha nada que pudesse afastar aquele pensamento fúnebre de mim.

Nada.

Um verdadeiro vazio e escuro sem fim.

Como mergulhar no mar a noite.

Era aquilo que iria me encontrar depois de algumas horas, e ao invés de estar recitando poemas para os céus, orando, ou qualquer coisa que um homem comum faria, eu estou desperdiçando horas da minha vida escondido debaixo da cama em uma brincadeira fútil. Será que valeu a pena esse tempo todo?

Eu poderia gastarem viagem, eu poderia beijar mais pessoas, poderia conhecer novas religiões ou gastar todo o dinheiro que tinha. Ao invés disso eu fui me apaixonar por uma pessoa que não vai ficar comigo.

Sinto a gaveta gigante onde estou deitado se mexer e aqueles olhos marrons me encaram.

-Aí está você - diz Joaquim. - O que houve?

Ele muda de expressão ao perceber meus olhos marejados, e corre para trancar a porta, me levanta dali com um puxão e me coloca na cama.

-Barín?

-Eu vou morrer - digo.

Minha garganta seca.

Naquele momento, as estrelas se alinhavam, o universo parecia mais denso e todos os homens e mulheres entravam na eterna paz alcançada. Eu iria enfim para o vazio, sobrevoar os medos dos homens. Afinal, existe vida após a morte?

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora