8 - Medo Em Todas As Formas

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Marquei de encontrar com Sung e ficamos juntos por um grande intervalo de tempo. Ela não teria trabalho hoje então ficou falando de animes por horas corridas. Estive pensando longe, ás vezes admirando minha tatuagem recém feita, aquele pequeno balão rosa. Para quem olhasse, era apenas um balão. Mas o que a maioria não sabe, é que eu tenho um medo mortal.

-Não consigo entender essa sua paranoia.

-Não gosto do barulho - revidei.

-Só isso?

Revirei os olhos. Não era isso, mas eu não queria ficar explicando. Vergonha? Talvez.

-Tanto faz - dá de ombros. - Olha...

Ela vira o celular para o meu rosto revelando um garoto de cabelo cortadinho.

-O que tem ele?

-Meu amigo.

-E...

-Você disse que estava querendo conhecer pessoas novas - ela diz me entregando o celular. - Ele é legal e estuda na Santo Paulo.

-Eu estudo lá também.

-Já o viu?

Paro novamente para ver o garoto. E sim, percebo que já o vi. Ele era mais baixo que eu, usava óculos, tinha uma pele morena e bochechas redondas. Não só sei quem ele é só de vista como sei o que falaram dele. Engulo em seco e digo que sim.

-Ah! Então porque não chamá-lo? 

O que acontece é que, todos sabem quem é Alec pelo o que ele fez na dança cultural. Dançar I Will Survive para uma escola inteira ver, marca a pessoa. Então, sim, todos sabem quem é Alec e o que ele é

-Pode ser - digo. - Me passa o número.

Já era possível enxergar que teremos todas as tribos nessa festa. 

-Sung, acho que vou indo - digo.

-Barín, o meu nome não é Sung, sabia? - ela sorri e se levanta. - É Cariene.

-Cariene?

-Sim, e eu odeio.

Ela sai sorridente e me deixa ali na mesa, logo em seguida pego o caminho de casa. Andando pelas ruas de pedra, lembrei da proposta de Julieta para quando ela, seguida de Amina, Joaquim e Gabriela, me levasse para enfrentar meus medos. Esse seria meu desafio de hoje, sim, incrível. 

O que eles não sabiam, ou pelo menos Julieta fingia não saber, é que meu único medo no mundo atualmente era a merda dos balões. Já passei do medo da morte já que essa dádiva já me foi premeditada. 

Observei os prédios e ia vendo a diferença da cidade grande pro subúrbio no caminho, e quando adentrei as casas iguais, sentei em um banco sozinho. 

Estava longe de casa, dos meus amigos e de conhecidos. No meu campo de visão: crianças corriam de seus cachorros, adultos conversavam alegremente e trocavam selinhos, idosos jogavam xadrez se preocupando em ganhar as três notas de dois reais da mesa. O mundo seguia, com ou sem Barín. Ah, se seguia... As crianças iriam para a casa e dormiriam até quatro horas da tarde, os cachorros começariam a latir quando ficassem preso, os adultos iriam brigar pelas contas e os idosos... É, os idosos iriam ficar tristes pela solidão que não conseguimos suprir. 

Coloquei o fone do Mickey Mouse e começou a tocar "Sozinho" do Caetano. Olhei ao redor, tudo ficou mais cinza e mais triste. Lembrei da minha infância, eu queria tanto ser veterinário, cuidar dos ratos para não ser de laboratórios. Sim, eu sempre amei ratos e nem tenta refutar. 

150 Dias de BarínOnde histórias criam vida. Descubra agora