A Promessa de Maldição 5

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       ( K a t h l e e n N i g h t s h a d e )

A Bruxa da Noite recobrou a consciência ao ouvir Erik chamar OSÍRIS. Sequer teve tempo para contestar os riscos que o seu ex-marido estava se expondo, ao sentir as mãos de Yussefer estrangular o seu pescoço.

— Ah, professora! Eu também tenho um segredinho a confessar... Eu também dei um beijo divino em alguém.

Kathleen com a garganta pressionada não refletiu sobre aquelas palavras. Antes que ficasse sem ar, sussurrou, suplicando pela ÍSIS DIVINA, que prontamente a atendeu, fazendo as mãos do bruxo explodirem em pura luz. Aproveitou a cegueira momentânea do Messias do Mal e fez estacas de gelo e, com elas, perfurou os olhos de Yussefer. Um jorro de sangue quente melou suas mãos em segundos. Ele berrou em desespero.

— I-Isso n-não vai... acabar assim! — ele gritava com veemência com as mãos trêmulas na face — VASSAGO, Anjo Divino Corrompido e Príncipe do Inferno, abra o caminho da magia das trevas: oledasep od oproc!

O corpo dele se enrijeceu. Parou de gritar ensandecido. Arrancou às duas estacas gélidas, juntamente aos globos oculares gelatinosos como quem tirasse ranho do nariz.

Agora não havia mais dor! Não havia medo! Só existia vontade de matar tudo aquilo que estava em seu caminho! Kathleen percebeu que o bruxo havia tornado seu corpo como um daqueles matadores de filme de terror. Quando ele atacou, o sobretudo vermelho da bruxa agitou-se; o pano se transmutou em asas de borboleta feitas de fogo, as quais atingiram em cheio Yussefer e, mesmo experimentando as chamas arderem sobre pele e vestes, o Messias do Mal nada sentiu.

— Do que está com medo, professora? Eu não vou te matar. Quero que você viva! Viva para ver todas as pessoas com quem você se importa morrerem uma por uma! E mesmo que eu morra hoje, meu desejo irá se realizar pelas mãos de quem meu beijo foi merecedor!

Yussefer bateu no rosto dela com as costas da mão e, mesmo Kathleen esperneando, batendo e chutando, ele a arrastou pelos cabelos vermelhos até a beirada da ponte, tramando fazer com que Erik abortasse a missão, quando visse a vida de sua amada em perigo. A bruxa ouviu ele recitar uma magia que fez o tecido preto nas costas dele borbulhar. Era uma armadilha para ser disparada somente quando Erik viesse salvá-la.

— Agora você vai saber quanta dor eu senti por você ter me abandonado, principalmente, quando o seu maridinho vier salvá-la e encontrar a morte certa. — Yussefer falava, sufocando-a com a mão firme em seu pescoço, colocando o corpo dela na ponta do despenhadeiro.

O Merlin Moderno lançou todo o cardume. Os tubarões entupiram o buraco negro, retendo seu efeito.

Contudo, ao vislumbrar sua amada em perigo, Erik abandonou o cardume, soltando um grito que cortou a noite. Transformou seu tubarão numa enorme vassoura de bruxa, na cor gelo, que varou a noite como um raio, indo de encontro a Yussefer e Kathleen.

— Isso mesmo, me ataque pelas costas. — sussurrou o Messias do Mal fingindo não perceber a investida.

— Erik, por favor, me salve! — gritou a bruxa, desprendendo a garganta das mãos do seu agressor.

De súbito, Erik deu meia volta, passando longe das agulhas negras que se expandiram das costas do Messias do Mal, como se fosse um porco-espinho. Yussefer virou-se assustado, pois não compreendia porque o mago desistiu da investida. Foi então que a voz de Kathleen ganhou a sua atenção.

— Uma Bruxa da Noite nunca pede ajuda! — na realidade, era um código entre os dois para saberem se a situação estava sob controle.

Ela pegou o Messias do Mal desprevenido. Aplicou uma chave de pernas nele e, ao mesmo tempo, impulsionou o próprio corpo para baixo, fazendo ambos caírem da ponte. Clamou pela ÍSIS DIVINA em plena queda. O baque contra o solo foi violento.

Yussefer havia se espatifado no chão de terra, enquanto a Bruxa da Noite flutuava com as asas de borboleta de cores entre o vermelho, laranja e rosa, ganhando cada vez mais altura nos céus da noite. O bruxo, ainda vivo, levantou o semblante encarando sua professora, sem poder dizer nada, pois a Bruxa da Noite havia derretido a sua boca, com uma magia pronta, para que não pudesse evocar o Anjo Divino Corrompido. A julgar pelo estado destroçado do corpo do Messias do Mal, a bruxa imaginou que ele deveria ter quebrado as costelas, ou, talvez, quebrado o pescoço; no fundo, ela ficou torcendo para que ambas as coisas lhe tivessem acontecido! Ele tentou se levantar. Não conseguiu. A magia do corpo o impedia de morrer, mas não aliviava a sua dor.

— Tudo o que eu quero é que, quando estiver no inferno, você veja Samyra nos céus, e implore pelo seu perdão! — Kathleen fitou o olhar no moribundo.

E como último encantamento, ao convocar a ÍSIS DIVINA, fez surgir uma coruja de chamas da cor laranja-avermelhada que desceu voando tranquilamente até onde se encontrava Yussefer. Desesperado, ele arranhava a carne com as unhas tentando descolar a boca. Não deu tempo! A coruja de chamas ardentes tocou nele e foi como uma faísca em óleo fervente.

O corpo de Yussefer foi carbonizado em segundos. O Merlin Moderno se juntou a Bruxa da Noite, quando esta voltou para a beirada da ponte, desfazendo as asas. Ambos contemplaram os céus explodirem em relâmpagos brancos. O buraco negro havia sido fechado para sempre.

Kathleen Nightshade abraçou o ex-marido assistindo satisfeita ao fogaréu. Ficou esperando a parabenização pelos seus atos, porém, o que ouviu dele foi:

— Quantas vezes eu disse que o queria vivo? Eu iria humilhá-lo perante o Conselho, mas você é teimosa e nunca me escuta! Viu só o que fez? Jamais aceitarão você de volta! Perdeu o seu cargo para sempre. E dessa vez não conte com a minha ajuda!

Erik Lersen deu-lhe as costas e saiu marchando cheio de raiva. A Bruxa da Noite procurou não se abalar, embora esperasse mais carinho e consolo do homem que amava, assim como também a compreensão pela morte da amiga. Mas, Erik sempre tinha uma resposta áspera quando as coisas não eram do jeito dele.

No fim, Kathleen Nightshade, a Bruxa da Noite, completou seu objetivo! Então, percebeu que a vingança não a fez mais feliz, apenas lhe trouxera mais vazio, mais dor. Não trouxe Samyra e, tampouco, aqueles momentos felizes de volta.

O tempo passou e Kathleen seguiu sua vida. Entretanto, as ameaças de Yussefer a deixaram inquieta. Em meio aos pesadelos, sempre ouvia aquelas palavras ecoando em sua cabeça: "Eu quero que você viva! Viva para ver todas as pessoas com quem você se importa, morrerem, uma por uma!". A bruxa Kathleen, naquela noite, teve um sonho-premunição! Na visão, via o corpo morto da Samyra sustentado por cordões, que a faziam se mexer. Ela advertia a bruxa que seu corpo não lhe pertencia mais! Ao se aproximar, viu uma menina fantasmagórica, a mesma que estava com Yussefer e era ela quem manipulava as cordas.

Quando se deu por conta, a amiga estava afundando em um líquido vermelho. Sangue! E não era só Samyra, mas a própria Bruxa da Noite estava se afogando junto com ela! Porém não era sangue comum. Aquilo era sangue de vampiro! Kathleen não soube explicar como sabia daquilo quando acordou.

Alguma coisa de ruim estava para acontecer na cidade de Samyra e Yussefer. Diante dessa situação, Kathleen decidiu voltar.

O SOBRETUDO VERMELHO AFOGADO - PARTE I : A CRIANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora