Sangue e Honra

A feiticeira negra Rebecy vai para a igreja.

Na noite anterior ao Conselho Dos Reis houve um serviço cristão no salão do grandioso edifício do centro da cidade. Thiago era um Cristão fervoroso e os seus seguidores encheram o salão iluminado por tochas chamejantes colocadas em argolas de ferro em lustres pendurados no teto. Chovera nessa noite e o salão cheio de gente tresandava a suor, lã húmida e fumaça de lenha. As mulheres ficavam no lado esquerdo do salão e os homens no lado direito, porem Rebecy ignorou aquela disposição e subiu para um pedestal que ficava por trás da escura multidão de homens com capas e sem chapéus, Luar a estava acompanhado hesitou por segundos, então jogou seu longo capuz sobre seu rosto e a seguiu. havia muitos pedestais e a maior parte deles com estátuas, mas o pedestal de Rebecy e luar estava vazio e tinha espaço suficiente para elas sentarem para assistir aos rituais cristãos. O rei Thiago estava lá e com ele alguns dos reis e príncipes que estariam presentes no Conselho dos Reis do dia seguinte. Essas pessoas importantes tinham assento na parte da frente do salão, mas a luz do fogo brilhava não à volta deles, mas sim à volta dos padres cristãos reunidos ao redor de uma mesa.

– O que é exatamente um padre?– Luar perguntou a Rebecy.

– É como um mago– disse ela, e, na realidade, os padres cristãos usavam o cabelo rapado na frente. – Só que eles não tem formação como um boba da corte – acrescentou Rebecy com ironia.

– Eles são todos padres?– Luar perguntou, pois havia muitos homens de cabelo rapado andando de um lado para o outro, percorrendo o salão de cima a baixo, dando voltas entorno das pessoas.

–Não. Alguns são bispos. é engraçado eles pregarem igualdade e mesmo assim eles mesmo criam separações de classes– Rebecy riu.

– E há padres mulheres?– Luar perguntou envolvendo seus braços por entre os pescoço  de Rebecy.

– Na religião deles – disse ela com desdém, – as mulheres tem que obedecer os homens.

– E Vhan, ele se batizou não foi?

Rebecy gospiu para afugentar o mal e alguns dos Cristãos ali á volta lançaram-lhe olhares desaprovadores – Sim, Vhan não passa de um traidor da velha fé, lembre-se disso. uma vez traidor sempre traidor.

Rebecy ignorou os comentários de desaprovação dos cristãos ao seu redor. ela estava envolta no seu manto negro com os braços á volta dos joelhos dobrados. Elum proibia os órfãos de Thomas de assistir ás cerimonias cristãs, era um mal que corrompia ela falava, mas Rebecy já não obedecia ás ordens de ninguém. A luz do fogo, o seu rosto magro ensombrava-se e os seus olhos faiscavam ódio e rancor.

Os padres entoavam cânticos na língua grega que nada dizia as diziam . Estavam sempre inclinado-se e, perante isso, a multidão ajoelhava-se e levantava-se no salão com esforço. cada movimento para baixo era marcado no lado direito do salão por um barulho desleixado, quando cem ou mais espadas batiam no chão coberto com pedrinhas.

Luar se aborreceu com tudo aquilo e só queria escapulir para ter certeza que arranjaria um bom lugar para conseguir comer no grande banquete que terria lugar depois da cerimonia, nos aposentos de Akum, Mas, depois, a linguagem da noite mudou para a língua falada em Ukrar quando um jovem padre se dirigiu à multidão.

O jovem padre era Sazamya, e aquela noite foi a primeira vez que Rebecy viu o seu pior inimigo. Ele era um rapaz jovem, tinha doze luas de idade, mas era considerado o futuro da igreja em Ukrar, a esperança do povo cristão, e os bispos iluminados no fundo do salão deram-lhe deliberadamente a honra de pregar aquele sermão diante dos reis e príncipes, com forma de o ajudarem a progredir na carreira.

Sazamya foi sempre um homem forte, alto, com um queixo imponente, o seu cabelo enrolado se elevava dourado como ouro escorrendo até seus ombros, apesar de ter sido aparado encima perto da testa, como o dos outros padres.

– Parece Skyra – murmurou Rebecy, e Luar riu alto, pois Skyra é o deus da trapaça, uma criatura vil e maldoso, que porem sempre foge quando a luz de Hórus aparece no horizonte. no entanto esse Sazamya sabia pregar, Luar nunca tinha ouvido o Evangelho sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por vezes estremeceu o modo como ele o pronunciava. Sazamya estava em cima de uma plataforma para que pudesse ver e ser visto, e, ás vezes, no entusiasmo da sua pregação, quase caia e tinha de ser segurado pelos outros padres. Luar não pode deixar de ficar encantada com a historia do salvador cristão, não sabia se era pela forma que a historia seguia ou se era pela bela voz de Sazamya.

A sua pregação seguiu de uma forma muito convencional. Agradeceu a Deus a presença dos grandes reis e dos poderosos príncipes que tinham vindo escutar o Evangelho, depois teceu alguns elogios ao rei Thiago antes de se lançar numa censura que expunha a visão cristã do estado em que estava o mundo de N'ox particularmente o reino de Ukrar e de Golum.

Sazamya disse que o mundo de N'ox é amado por Deus. Era uma terra especial, porem separadas por varias outras religiões e recheada de inimigos, e continuou dizendo que os reinos desse mundo eram abençoados por grandes governantes e guerreiros poderosos. toda via, ultimamente o mundo estava despedaçado pela falsa fé, disse que os magos estavam falando sobre a volta dos velhos deuses, continuou dizendo que um mago verde da regiam de Golum estava proclamando que os deuses viriam nos messes que seguiriam, no dia dos mortos, ele apontava para estrelas e dizia ser seus deuses, a multidão ficou em polvorosa. Mas Sazamya os acalmou com um gesto de suas mãos e continuou dizendo que o mago estava errado ele confundia estrelas cadentes com deuses. então continuou dizendo que os Orcs eram o verdadeiro problema, e que eles destruíam as aldeias, celeiros e plantações com seus machados sangrentos, os Orcs estavam se apoderando da terra dos nossos antepassados e a transformando em lixo. Sazamya declarava que os Orcs profanavam os túmulos violavam as mulheres e assassinavam as crianças e que coisas como estas não podiam acontecer, a não ser que fossem a vontade de Deus, e perguntou por que razão Deus permitiria que o sangue de seus filhos trilhassem um caminho pelo chão, se ele nos ama tanto e nos acha tão especiais.

Porque, dizia ele, os seus filhos recusaram-se a ouvir a Sua mensagem sagrada. Os seus filhos de N'ox ainda se inclinavam perante um pedaço de madeira ou uma pedra. Sazamya dizia que essas coisas não eram vistas pelos cidadãos das grandes cidades, pois a maior parte dos estavam nas aldeias infestadas de demónios que sussurravam nos ouvidos das pobres almas. Já deviam ser poucos os magos no mundo, no entanto em todos os vales e fazendas havia homens e mulheres que agiriam como magos, que sacrificavam humanos a uma pedra morta, e que adoravam a feitiçaria e amuletos, os demónios iludiam os simplórios. Até os cristãos e neste momento Sazamya lançou um olhar carrancudo á sua congregação e continuou, levavam as suas doenças a bruxas idolatras e os seus sonhos a profetisa pagãs, e enquanto estas praticas do mal fossem encorajadas Deus amaldiçoaria o nosso mundo com violações, assassinos e Orcs. fez uma pausa dramatica. Luar tocou em seu colar com a imagem do Olho que tudo vê esculpido na madeira, e menina sabia que menino Sazamya queria destruir tudo que tinha haver com magia inclusive os magos e sacerdotisas como Elum, Rebecy e o Mago Thomas.

Pecamos contra nosso salvador quando permitimos que isso aconteça! ele abriu os braços e por alguns momentos pareceu que as chamas das velas atrás dele se intensificaram enquanto ele dizia; e todos temos que nos arrepender. e continuou, dizendo que os reis do mundo deviam amar somente a Jesus Cristo e sua mãe abençoada, e que só quando todas as raças do mundo de N'ox estivessem unidas em Deus é que Deus uniria todo o mundo. Nesta altura a multidão resplandeceu em gritos de glorificação a Deus.

Rebecy reparou que nem todos os gritos eram de glorificação alguns dos cristãos pediam misericórdia ao seu Deus, porem uma boa parte não implorava misericórdia e nem glorificava e sim gritava pedindo a morte dos Magos e seus seguidores demoníacos.

O que Rebecy viu nos olhos desse cristãos era algo amedrontador, era terrífico. ela sabia no fundo de sua alma que era essa reação era planejada por Sazamya, ódio aos pagãos – Vamos– sussurrou Rebecy, –Já ouvimos o suficiente.

– Você acha que os deuses viram no dia dos mortos?– perguntou Luar.

– Claro que eles vêem, eu mesma já estou preparando algo para eles nesse dia– disse Rebecy com um sorriso malicioso. 

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