O banquete foi magnífico. O Conselho dos Reis começou no meio da manhã, depois dos cristãos realizarem mais uma cerimônia. Vhan achava que realizavam cerimônias demais, pois todas as horas do dia pareciam exigir uma nova adoração da cruz, mas o atraso serviu para dar tempo aos príncipes e aos guerreiros para se recomporem da noite de bebida, gabarolice e lutas. O Conselho dos Reis teve lugar no grande salão que estava de novo iluminado por tochas, pois apesar do sol da Primavera brilhar, as poucas janelas do salão eram pequenas e estavam muito altas, menos apropriadas para deixar o sol entrar do que para deixar a fumaça sair, apesar de nem para isso serem muito boas. Akum, o Imperador Supremo, estava sentado numa tribuna acima do estrado reservado aos reis, príncipes herdeiros e Paladinos.
Thiago de Golum, o anfitrião do Conselho, sentava-se abaixo de Akum e do outro lado do trono de Thiago havia uma dúzia de outros tronos, ocupados nesse dia por reis ou príncipes que pagavam tributo a Akum ou a Thiago.
Estavam lá o príncipe Perci de Ilha de Sangue, o rei Melenio de Bestar e o príncipe Belior, Lorde das Guerras, enquanto o distante Cidadedasneves, o reino selvagem da extremidade ocidental da N'ox, enviara o seu Príncipe Herdeiro, o príncipe Brendom, que se sentava enrolado em peles de lobo na extremidade do estrado ao lado de dois tronos vazios.
Na verdade, os tronos nada mais eram do que cadeiras trazidas da sala do banquete disfarçadas com xairéis, e no chão à frente de cada cadeira e encostados ao estrado estavam os escudos dos reinos.
Tempos houvera em que eram trinta e três os escudos encostados ao estrado, mas agora as tribos da N'ox lutavam umas contra as outras e alguns dos reinos tinham sido enterrados pelas lâminas Orcs. Um dos objetivos deste Conselho dos Reis era estabelecer a paz entre os reinos de N'ox restantes, uma paz que já estava ameaçada pois Perys e Inglan não compareceram ao Conselho.
Os seus tronos estavam vazios, testemunho mudo de que continuava a existir a hostilidade destes reinos em relação a Golum e a Terrasemagua.
Em frente aos reis e aos príncipes, e depois de um pequeno espaço aberto deixado para os discursos, estavam sentados os conselheiros e os magistradoschefes dos reinos. Alguns dos grupos de conselheiros, como os de Golum e os de Terrasemagua, eram enormes, enquanto outros se reduziam a uma mão-cheia de homens. Os magistrados e os conselheiros sentavam-se no chão, que estava decorado com milhares de minúsculas pedrinhas coloridas ordenadas de modo a formar uma imagem enorme que aparecia por entre os corpos sentados.
Todos os conselheiros tinham trazido cobertores para fazerem de almofadas, pois sabiam que as deliberações do Conselho dos Reispodiam durar até depois do anoitecer. Além dos conselheiros e presentes apenas como observadores estavam os guerreiros armados, a Garda Real e os espadachins. Alguns com os seus cães de caça favoritos ao lado, presos com as trelas.
Vhan ficou ao lado desses guerreiros armados. O crucifixo do Cavaleiro Negro de bronze que foi dado pelo proprio Imperador depois do duelo das lebres o dava toda a autoridade de que Vhan precisava para estar presente. Haviam duas mulheres no Conselho, apenas duas, e mesmo assim a sua presença causara rumores de protesto entre os homens que aguardavam, até que um pestanejar de olhos de Akum acalmou o murmúrio de descontentamento. Elum estava sentada à frente de Akum.
Os conselheiros afastaram-se cautelosamente dela e assim ela estava sentada sozinha até Rebecy entrar com ousadia pela porta do salão e abrir caminho através de todos aqueles homens sentados para arranjar um lugar ao lado dela.
Rebecy entrara com tanta calma e tanta firmeza que ninguém tentou impedi-la. Depois de se sentar olhou para Akum, o Rei Supremo, como que a desafiá-lo a expulsá-la, mas o rei ignorou a sua chegada.
Elum também ignorou a sua jovem rival que se sentou muito quieta e muito direita. Vestia a sua túnica branca de linho com o cinto de escrava de couro muito fino e, entre aqueles homens de cabelo grisalho e grossas capas parecia delicada e vulnerável. O Conselho dos Reis começou, tal como começam todos os conselhos, com uma oração.
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Sangue e Honra
FantasyO Sangue vermelho dos velhos deuses atravessam o céu como cometas. E a partir da cidade antiga de Ukrar, reina o caos. quatro nações lutam pelo controle absoluto da terra dividida, preparando-se para o embate através de tumulto, confusão e guerra. É...