Árduos Sentimentos

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— Carmilla Karnstein. — Disse o diretor Queen colocando as mãos no bolso quando se aproximava para dar as boas vindas a condessa de Karnstein. — E eu achava que nunca a veria em um Jeans na vida. — Ele sorriu.

— Nem me fala! — Disse Laura cruzando os braços. — Esse século não existe um minúsculo ardor de vergonha nessas damas, não?

— Damas? Você pode falar meninas, Laura. — Disse o diretor.

— Sou uma lady educada, Sr. Queen. — Respondeu dando-lhe língua.

— Eu vejo. — Respondeu ele.

— E então, vai poder conceder nosso pedido? — Falou Carmilla cortando o assunto e indo direto ao ponto.

— Por que desejam se matricular aqui ? Digo, vocês poderiam ter aproveitado e ficado na Romênia, não iria oportuná-las, sei que são capazes de controlar suas respectivas peculiaridades.

— Laura e eu achamos melhor ficarmos por perto, para o caso da menina... Enfim.

— Da menina o que? — Perguntou o diretor não gostando do tom de voz da condessa.

— Rebecca é uma dama poderosa Bel. E convenhamos que ela poderia matar quem quiser durante um piscar de olhos. — Disse Laura.

— Isso é mesmo pelo fato da Becca ser poderosa ou... — Ele se sentou ajeitando o terno. — O fato dela ter abrido os portões do inferno. — Ele pressionou o maxilar fazendo Carmilla arregalar os olhos.

— Então você já sabe? — Perguntou Laura.

— E aparentemente vocês também. — Disse ele intercalando o olhar para as duas.

  Ao que parece essa foi a primeira coisa que Rachel disse ao bater na porta das duas quando pediu ajuda.

— Muito bem. Irei colocá-las na escola. Há um quarto disponível, vocês podem ficar nele. — Respondeu. — Mas estarei de olhos nas duas, fiquem longe de Rebecca. — Respondeu as encarando firmemente.

— Você não me assusta diretor. — Disse Carmilla com sua voz sedutora.

— Não? Deveria. — Respondeu e os olhos do diretor ficaram arroxeados com um preto cobrindo toda região branca do globo ocular.

— Falou bem. Deveria. — Os olhos de Carmilla ficaram vermelhos e Laura a puxou para fora da sala.

— Vem Carm... — Disse ao perceber o clima que a sala havia ficado.

***

 Andava pelas escadas aos tropeços tentando achar o caminho de volta para o meu dormitório, mas estava tudo tão confuso! Aquela sala era ali mesmo? Deus aonde eu estava? 

  Abri uma porta qualquer e acabei caindo no chão ao escorregar no nada.

  Eu estava um caco.

— Shhhhh! — Fiz um sinal na boca mandando-me calar a boca, talvez estivesse um pouco alterada.

— Rebecca? — Chamou uma voz que não reconheci de imediato, apertei os olhos e olhei para cima para vê-lo enquanto estava naquele chão desconhecido.

— Você? — Perguntei, minha visão estava duplicada, mas o reconheci. Não era ninguém que eu gostaria de conversar, ou que gostaria que me vez esse daquela forma. — Belzebu... — Sussurrei batendo a cabeça no chão com a raiva me consumindo. 

— Que cheiro é esse? — Perguntou ele me ajudando a me levantar. — Você está bêbada?

— Shhhhhhh! — Fiz com a boca. — Eu estou ótima!

— Está arrastando as palavras... — Ele respondeu me colocando em cima de uma poltrona e só então reparei onde estava. Não era seu escritório. 

— Esse é seu quarto? — Perguntei e ele parecia preocupado.

— Quem te deu bebida alcoólica Becca?

— O meu anjinho da guarda. — Sorri completamente irônica enquanto ele pegava um copo d'água.

  O quarto dele era bastante antigo, um papel de parede antigo de vetores vermelhos estampando a decoração. 

  Sua cama era de casal, embora dormisse sempre sozinho, ficava em um canto próximo a janela de seu quarto, e o sofá em que eu estava sentada era de couro marrom, confortável, porém pequeno.

— Beba. — Ele pediu respirando fundo.

— Não vai me dar bronca? — Perguntei franzindo o cenho da testa enquanto pegava o copo de água desconfiada.

— Não. Não tenho esse direito sobre você. — Ele me deu um sorriso tristonho e voltou para buscar algo no guarda roupa no canto do cômodo.

— Você é meu pai. Como não tem esse direito? — Perguntei ainda confusa e dei um gole do copo contendo o líquido transparente.

— Você quer que eu te dê bronca? — Ele pegou um cobertor e um travesseiro.

— Não. — Ele me olhou como se me perguntasse "então por que está insistindo?" — É que geralmente, os pais dão bronca nos filhos... Por mais endemoniados ou sei lá mais o que eles possam ser. — Respondi e o diretor respirou fundo se aproximando de mim e deixando o cobertor em cima da cama.

— Você já levou bronca demais vindo dos seus antigos pais. E se fez isso é por que tem lá seus motivos, e eu os entendo. Becca você quase morreu. Sua vida virou de cabeça pra baixo e você acaba tendo de carregar um fardo gigantesco nas costas. Agir como uma adolescente rebelde uma única vez na vida não vai mudar quem você é. — Ele respondeu colocando as mãos nos bolso de sua calça moletom. Um milagre ele não estar usando seu terno. — Sim, eu sou o seu pai, mas... — Aquele olhar triste novamente. — Mas eu nunca fui presente em sua vida Becca. Quando você mais precisou de mim, eu estava aqui, assinando papéis e achando que estava segura. — Respondeu me deixando pensativa. — Não te protegi o quanto a sua mãe queria, ou o quanto eu queria. Achava que se eu me mantivesse longe de você, estaria te protegendo.

— De que? — perguntei sem entender nada.

— De mim! Você me despreza, eu sou um demônio! E responsável obviamente por toda a desgraça na sua vida, então achava que... Que se ficasse longe eu.. Eu.. — Segurei seu braço tirando sua mão do bolso, ainda estava sentada no sofá, mas precisava dar a minha versão daquela história.

— Se você não tivesse me trazido pra cá, provavelmente o forte negro já teria me matado, ou eu estaria em um reformatório. E outra, nunca te culpei pelas desgraças da minha vida. Esse fardo é meu Bel, e só eu posso carregá-lo. — Respondi com a voz um pouco menos embriagada. Olhei para o nada buscando as palavras certas e sorri ao me lembrar de uma memória agradável. — Eu vi ela. — Ele franziu o cenho da testa. — A mamãe. 

  Agora a expressão dele era como se ele tivesse trilhões e trilhões de perguntas para me fazer.

— Foi no momento em que eu estive "morta" por uns minutos. — Sorri. — Ela me levou para ver o passado, ela me mostrou você lutando contra Azrael para me proteger. Me mostrou o que vocês tiveram de sacrificar para me manter a salvo. E sinceramente eu agradeço. — Sorri ainda mais. — No fundo, no fundo... Eu amo vocês dois. — Ele estava tão sem palavras quanto eu estava, mas me sentia tão cansada... Queria tanto... Dormir.

  Apaguei no sofá logo depois de minhas palavras o reconfortarem e senti que alguém, provavelmente ele, me pegou no colo levando-me a deitar sob uma substância macia e aconchegante, logo depois senti o travesseiro afofar-me a cabeça, e o cobertor me esquentar daquela noite fria e escura.

  Um beijo amoroso em minha testa, me deixou ainda mais confortável e especialmente o sussurro quente nos meus ouvidos.

— Eu vou estar sempre aqui por você Becca... Eu amo você minha filha. Do meu jeito, mas amo...  — Disse a voz do diretor Queen e eu me senti completamente segura agora em meus sonhos profundos.



Renegados do Inferno - Marcada - Vol 2 (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora