Pode soar como hipérbole, mas... aquele indivíduo era, com quase absoluta certeza, o mais lindo que eu já vira até o citado momento. É sério. Ele não parecia, nem em um milhão de anos, o tipo de pessoa que você encontra por aí em um posto de gasolina no meio do nada. E, sim, meu rosto ficou quente quando o tal menino se deu conta de que a criatura aqui o encarava feito boba há sabe lá Deus quanto tempo, direcionando seu belo par de olhos mel a mim.
Percebi que não só ele, como todos os outros, me olhavam, agravando minha fobia social.
— Clara, tá tudo bem com você? — Minha mãe perguntou preocupada e saí do transe no mesmo instante.
— Tô sim! — Sorri envergonhada enquanto ela arqueava a sobrancelha, desconfiada.
— Então tá... — Respondeu não muito convencida. — Enfim... os salgados estão prontos.
Se sentou na mesa e sorri de nervoso ao perceber que agora os garotos se dispersavam por todo canto do posto de gasolina, boa parte ainda me perscrutando de um jeito nada discreto.
— Clara, — Minha mãe me olhou fixamente. — tem certeza que está tudo bem?
— Claro que tá. Por que não estaria? — Sorri absurdamente nervosa por dentro, abocanhando um pedaço do meu pastel pra dar mais naturalidade a ação.
Ela espremeu os lábios.
— É que... você está comendo o papel junto com o pastel...
Engasguei. Pastel com papel? As duas coisas combinavam nas últimas duas letras, mas, com toda certeza, não no meu estômago.
— Hum... eu vou ao banheiro rapidinho... — Joguei uma desculpa esfarrapada pra poder dar o fora dali o mais rápido possível.
Passei por meia duzia de garotos e, não tenho certeza se foi apenas fruto da minha timidez, mas juro ter ouvido alguns assobios e um "delícia!". Engoli em seco, ignorei e continuei andando.
Não pude deixar de notar o quanto uma blusa estava fazendo falta. Parecia que, a cada passo, o frio se intensificava.
Abri a porta metálica e barulhenta do banheiro e, antes de ir à pia lavar a boca, me olhei no espelho e...
Ai-meu-rim.
Meu cabelo estava tão frisado e armado que eu parecia ter acabado de sair de uma montanha-russa. E, pra completar a desgraça, havia uma remela GIGANTESCA no meu olho e minha regatinha branca deixava à mostra TODO o meu biquíni rosa bebê.
Calma, Clara, respira, respira...
Percebi que tinha companhia quando escutei um barulho de descarga e a porta de uma das cabines se abrindo.
Uma garotinha loira, que aparentava ter por volta dos 3 aninhos de idade e estava acompanhada da mãe, passou por trás de mim dando risada, enquanto a mulher adulta a repreendia, guiando-a para fora do banheiro o mais rápido o possível.
Que esquisito...
Como não dava pra saber qual era o motivo pelo qual a garotinha estava rindo de mim, apenas dei de ombros.
Quando saí do banheiro e vi quem estava ali, a primeira reação que tive foi um mini ataque cardíaco. Coisa leve. Só que não.
Era ele...
— Ahn... eu sei que você não me conhece nem nada, mas... acho que precisa de uma blusa. — O model... digo, jogador de futebol, sorriu um tanto sem graça.
Devido ao choque, fiquei uma eternidade apenas parada o encarando perplexa.
— E-e-eu não... sei. — Balbuciei olhando a blusa de moletom cinza que o próprio me estendia. — Não vai te fazer falta?
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Tudo Começou Aqui [Concluído]
FantasyMaria Clara tinha uma vida de adolescente quase normal. Terceiro ano do Ensino Médio, uma melhor amiga, um irmão mais velho chato, uma mãe louca, um pai implicante, colegas idiotas na escola e uma coisa detestável chamada "invisibilidade social". P...