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Acho que seria no mínimo compreensível se dissesse que demorei quase 5 minutos pra conseguir absorver o choque que tive ao ver que, no lugar de pernas, agora tinha uma cauda coberta de escamas azul-violeta prateadas.

Ok, com toda certeza aquele afogamento devia ter mexido com a ordem dos miolos dentro da minha cabeça. Senhor amado, eu estava tendo alucinações!!!

Talvez aquele meu desejo frustrado de ser uma sereia quando assisti H2O aos 7 anos de idade tivesse sido reacendido com o choque térmico da água gelada durante o afogamento, provocando aquela esquizofrenia repentina.

Cara, já não bastava ser pobre e anti-social não? Agora eu também precisava ser esquizofrênica?! E pior: Em grau avançado! A ilusão era poderosa ao ponto de minha mão conseguir até SENTIR a textura das escamas!

Depois de debater comigo mesma por mais de 10 minutos se aquilo era real ou não, cheguei à conclusão de que, sendo ou não real, deveria guardar aquela informação somente comigo.

Imagina se chegasse na minha mãe dizendo: "Mãe do céuuu, você acredita que eu virei um peixe?!"

Sem dúvida eu iria fazer uma visita longa ao manicômio.

Fora que, pelo que me lembrava em H2O, contar a alguém sobre o fato de ser sereia não era lá algo muito inteligente...

A única pessoa além de mim que talvez pudesse ficar sabendo sobre aquilo era a Larissa. O problema estava no fato de que, graças à cabeça dura dela, a infeliz só iria acreditar vendo...

Santo Cristo, o que é que eu vou fazer?

Jogada no chão do box, molhada e com uma cauda de peixe enorme, a única opção que me restava era esticar o braço e tentar pegar a toalha que colocara por cima do vidro minutos antes.

Quando consegui, comecei a esfregar o tecido contra as escamas. E, ao fazer isso, notei que o resto do meu corpo abaixo da cintura ficava um tanto "confuso" entre ser uma cauda de peixe ou duas pernas humanas de novo. Quanto mais eu esfregava, mais minhas pernas tentavam voltar. Até que, finalmente, elas retornaram.

Coloquei a mão no peito, aliviada, mas me assustei com as batidas na porta que vieram em seguida.

— Clara, você entrou aí pra tomar banho e morreu, é? Saí logo daí, praga, eu preciso me lavar! — Mateus gritou.

Revirei os olhos.

— Já vai! — Devolvi.

Apoiei minhas mãos na parede e me ergui do chão. Pus uma toalha na cabeça e outra ao redor do corpo e então abri a porta.

— Pronto, pode usar.

— Amém!

Meu Deus, como aquele garoto era fresco!

Engolindo minha raiva, marchei em direção ao quarto.

Ele não merecia minha atenção.

Abri a porta e, quando estava prestes a fecha-la para então acender a luz...

— Clara?!

Me virei no mesmo instante.

— Quem é você?! — Perguntei trêmula e com os olhos saltados à mulher desconhecida.

— Shhh! — Tapou minha boca imediatamente. — Quer que seus pais escutem?!

— Oxi, mas é claro que sim! Eu nem te conheço, mulher! Vai que você é uma ladra ou uma psicopata! — A afastei.

A moça, cujo rosto eu ainda não conseguira visualizar por conta da ausência de iluminação no quarto, deu uma gargalhada gostosa em voz baixa, arrepiando todos os fios de cabelo do meu corpo. Ela trancou a porta e acendeu a luz, tornando nítido à minha visão seu sorriso debochado e sua aparência, que me deixou boquiaberta.

Tudo Começou Aqui [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora