Perplexa, engoli saliva mantendo os olhos fechados e quase senti meu coração trincar.
Embora eu já nem soubesse definir o que sentia pelo Nicolas, uma vez que Gustavo entrara na jogada (mesmo não sendo de forma assumida), aquilo me frustrou.
Poxa, o garoto me convidava para ir a uma lancha com ele e os amigos dele, me chamava pra uma festa, me cantava e depois vejo que fora apenas
mais uma?Tudo bem que não estávamos namorando e que, portanto, ele não me devia satisfações, mas tinha que se ter muita cara-de-pau pra ficar dando em cima de mim e mais trocentas ao mesmo tempo.
Deus, como fora ingênua...
Entretanto, com ou sem a consciência de minha outrora ingenuidade, aquilo doeu.
Com ou sem namoro, aquilo destruiu o restinho de fé que eu tinha em relacionamentos.
— Então era isso... — Murmurei com a voz cortada.
— Exatamente... — Concordou triste.
Levando um pouco de ar aos pulmões, eu me indagava se as trocas gasosas ainda estavam ocorrendo de forma correta dentro de mim. As sensações e ritmos em que as coisas andavam fazia tudo parecer dessincronizado, desordenado.
— Uma pena que não tenha conseguido me avisar antes. — Opinei num suspiro, voltando-me para trás.
— Eu tentei... — Encolheu os ombros, ao passo que nossos olhos se encontraram, ambos perdidos e levemente entristecidos.
É, ele havia tentado. Preferia ter o escutado antes de ver com meus próprios olhos aquela cena fatídica.
Mudos por alguns segundos, digerindo o fato, me ocorreu de lembrar sobre algo importante.
— Ei, você não deveria estar com a Jennifer? — Perguntei confusa.
— Deveria. — Deu uma pausa misteriosa. — Mas fui beber água e, enquanto ia até o bebedouro, acabei te vendo a uns 20 metros de distância de onde estava, com um olhar mais desorientado e transtornado do que o Nemo. — Arriscou uma piadinha. — Fiquei preocupado e me aproximei para perguntar se estava bem, mas, antes de dizer algo, acompanhei seu olhar. Foi então que entendi tudo. — Falou com pesar. — Sinto muito, Clara.
— É a vida... — Engoli em seco.
— Mas não fica triste, ok? — Tentou me reconfortar. — O Nicolas é assim mesmo. Desde que terminou com a Charlotte, não fica em relacionamento nenhum. Só paquera e tenta pegar as garotas mais bonitas que encontra. Então... olha pelo lado bom: ele com toda certeza te achou muito bonita. Sei que isso já é óbvio, mas... enfatizei pra tentar te animar.
Não sabia se sorria, ria, ou agradecia. No meio dessa indecisão maluca, um sorriso felizinho acabou saindo contra o meu impulso de barra-lo, de forma que tentei, mesmo que fracassadamente, curvar a fronte, para que não notasse.
Mas ele viu. O sorriso em seu rosto condenava-lhe.
— Gustavo! — A voz estridente da Jennifer gritando de longe rompeu todo nosso clima. — Você disse que só ia beber água! — Veio até nós, tentando tirar satisfações com seu ex.
— E depois ainda me pergunta por que eu quis terminar... — Resmungou revirando os olhos, enquanto se virava para trás. — Oi, Jennifer. — Cumprimentou com a voz arrastada e um tanto irônica.
Todavia, apesar da inconveniência, a alegria ainda marcava presença em meus lábios.
Era o ditado:
"Às vezes o universo nos tira certas coisas porque o que tem para dar em troca é muito melhor."
*~*~*~*
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Tudo Começou Aqui [Concluído]
FantasíaMaria Clara tinha uma vida de adolescente quase normal. Terceiro ano do Ensino Médio, uma melhor amiga, um irmão mais velho chato, uma mãe louca, um pai implicante, colegas idiotas na escola e uma coisa detestável chamada "invisibilidade social". P...