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Os dias daquela semana se emendaram com os da seguinte, passando lentamente entre saídas à praia com os meninos, experiências malucas em casa e algumas pesquisas sobre a atual situação do meio ambiente.

Larissa quase surtou de felicidade quando contei que Gustavo havia me dado seu colar. Isso sem contar das várias conversas até meia-noite que eu e ele tivemos pelo aplicativo de mensagens e as músicas que compartilhamos pelo Spotify.

Até chegamos a fazer alguns picolés caseiros na kitnet com a minha família (que, a propósito, gostou dele até demais). A melhor parte foi quando tentamos fazer paletas mexicanas. Se não fosse pelo leite condensado, nossa brincadeira (que terminou em desastre) provavelmente teria ido parar no lixo.

Depois que finalmente aprendemos a fazer paletas da forma correta, meu suposto "namorado" me forçou a superar meu preconceito com abacaxi. O desgraçado preparou uma paleta de leite condensado, colocou vários pedaços de abacaxi congelado no meio e me ofereceu dizendo que era apenas de creme. Eu teria batido nele se não fosse por um pequeno detalhe: A paleta estava mesmo gostosa.

Tudo ia muito bem.

Quer dizer...

Quase tudo.

Ainda naquela semana, apresentei o Glub à Naia. Pra quê... me senti quase um monstro quando as aulas que me deram ao longo dos dias a respeito do que estava acontecendo com o oceano finalmente acabaram.

— Quer dizer que 2,5 trilhões de animais marinhos são retirados das águas todo ano e que pra cada 1 quilo de peixe até 5 quilos de outras espécies são pegos e descartados, incluindo baleias e golfinhos, além da estimativa de que 650 mil baleias, golfinhos e focas são mortos todos os anos por navios de pesca e até 2050 o oceano terá mais plástico que peixes e que, antes disso, em 2030, praticamente todos eles serão impróprios para o cosumo devido ao alto índice de mercúrio no mar?

— Exatamente. — Naia confirmou num suspiro triste.

— Meu Deus, isso é terrível! — Exclamei horrorizada, ao passo que meus olhos quase lacrimejaram. — Como ninguém está fazendo nada para resolver essa situação? — Indaguei revoltada.

Glub e Naia abaixaram a cabeça.

— Bem-vinda ao questionamento de todas as sereias do mundo... — Ela deixou os ombros caírem, triste. — Infelizmente, a pesca é um negócio muito grande. Ninguém tem interesse de para-la. Não é "vantajoso" financeiramente.

Engoli saliva. Eu sempre achei que os peixes não sentissem dor, que não tivessem boa memória... pensamentos tão populares, mas tão infundados e ridículos...

O mar estava morrendo. Plástico, derramamento de óleo, poluição, chacinas marítimas... por que ninguém estava divulgando aquilo? Por que ninguém estava dando importância àquela situação?

Fiquei me perguntando como tudo havia chegado àquele ponto. Como as autoridades não haviam percebido tamanha catástrofe ambiental. E o mais triste de tudo era saber a resposta: "Ah, o mar está sempre sujo." "É 'só' petróleo."

Se não fossem por duas SEREIAS, ninguém jamais ia ter ficado sabendo que havia um vírus no oceano. Só quando chegasse ao prato deles e os hipócritas se recusassem a comer. Só quando a água ficasse insalubre. Só quando interferisse em suas vidas.

— O que podemos fazer? — Perguntei depois de alguns minutos taciturna.

— Protestos, campanhas online, vídeos... — O peixinho sugeriu de seu aquário (se é que dava pra chamar um ex pote de azeitonas cheio d'água de "aquário").

Tudo Começou Aqui [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora