#21

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Tudo parecia ter sumido. Os pensamentos, agitações, medos, incertezas... todas as preocupações se iam pouco a pouco enquanto os lábios dele sentiam os meus.

Era óbvio que aquilo acontecera inesperadamente, que Jennifer estava com o anel, que Naia havia brigado comigo, que eu deveria estar surtando, mas... não. Nada parecia importante durante aquele curto e singelo momento.

Eu sabia que o mundo estava caminhando à ruína e que talvez nunca mais possuísse o prazer de estar na companhia do Gustavo. Eu sabia que não tinha tempo para uma paixonite de verão.

A questão era que... ele não era só uma "paixonite de verão". Não para mim. E... se o mundo estava mesmo prestes a acabar, então que acabasse ali, com seus lábios junto aos meus.

— Por que não disse antes? — Indaguei tomando um pouco de fôlego quando nosso beijo finalmente terminou.

— E precisava dizer? — Sorriu com os olhos, que estavam perdidos nos meus. — Eu deixei tudo tão óbvio... — Murmurou. — Inclusive... não sei se percebeu, mas a blusa que o Nicolas te deu no posto de gasolina quando te conheceu era, na realidade, minha.

Pisquei os olhos, boquiaberta.

O quê?!

— Meu nome estava escrito na etiqueta... — Explicou.

Tirei a blusa que estava amarrada em minha cintura a fim de verificar o fato.

Era verdade.

Quando, embasbacada, voltei meus olhos aos de Gustavo, o mesmo não conseguia tirar o sorriso bobo da face.

Agora eu via o moletom sob outra perspectiva. Até mesmo sua estampa do homem pisando na lua parecia a coisa mais interessante do mundo.

— Sabe... — Se sentou na borda do deque, ao passo que fiz o mesmo. — Quando eu era criança, achava que a lua podia ser roubada, como naquele filme infantil do homem careca que passava na sessão da tarde às vezes.

O Gru? — Dei uma risada.

É. — Confirmou rindo. — Mas, conforme o tempo foi passando, descobri que a vida não é tão legal e fantástica como parecia nos filmes. Infelizmente a lua era um pouco grande demais para ser roubada, então tive que desistir do meu plano. Eu só não imaginava que, uns 10 anos depois, quando fosse tirar férias com meus amigos, a encontraria nos olhos de uma garota. — Pensou rindo. — Só que... dessa vez ela fica tão linda com o sorriso, o cabelo, o corpo dela, que seria um pecado rouba-la. Mas... também seria um pecado perder os meus olhos nos seus, para nunca deixar de ver tamanha beleza?

Muda. Fora assim que seu discurso me deixara.

— Gus, você é um poeta... — Deixei algumas palavras despencarem.

Ele só me surpreendia...

— Bem... — Deu um suspiro fraco. — Eu faço o que posso. — Encolheu os ombros de forma modesta.

Tinha como não me apaixonar por aquela criatura?

— Hum... Clara, — Ele chamou.

— Oi? — Falei com uma cara de boba apaixonada. Minha mente estava em outra dimensão.

— Por que você brigou com a Jennifer àquela hora?

E aquilo foi o suficiente para me fazer acordar.

— Ahh... — Balbuciei. — Ela jogou o anel que amiga minha deu na piscina.

— Ah não... eu não vou deixar isso barato! — Se levantou no mesmo instante.

Tudo Começou Aqui [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora