— Ok, Clara, já deu. O que diabos você tem? — Ela perguntou, já sem paciência. — Desde que você saiu com aquele pessoal ontem está estranha desse jeito. Por que não quer entrar na água?
Eu estava nervosa. Meu Deus do céu, como estava. Especialmente porque, a menos de 3 metros de mim, havia dois meninos brincando de jogar água no outro. Estaria mais que morta se uma gotinha daquele líquido chegasse à superfície da minha pele na frente da minha mãe e daquele monte de pessoas ao redor.
Só então percebi que era melhor ter simplesmente inventado uma gripe antes de acabar indo à praia e ficar exposta a algo chamado MAR. Minha presença ali era quase irônica.
— Clara, eu estou falando com você. — Insistiu, me tirando de meus devaneios. — Só seja sincera, querida.
Ah, mas que maravilha! Se era a sinceridade que ela queria, o que raios me restava pra dizer além de "Mãe, eu virei uma sereia"?
Quando eu já estava começando a cogitar seriamente a possibilidade de sair correndo dali e me esconder em um quiosque qualquer, Naia, a mulher do dia anterior, ficou bem diante dos meus olhos, encostada junto à abertura de um rochedo dali.
Ela sorriu de maneira provocativa, seus olhos insinuando algo como "Parece que alguém estava enganada quando disse que não queria me ver mais, não é mesmo?".
— Mãe...
— O que foi?
— Posso falar com uma pessoa agora? É meio urgente...
— Como assim?
— Hum... digamos que...
— Digamos que a Clarinha esqueceu o O.B. — Naia, que eu nem mesmo havia notado que estava andando até nós durante aquele meio tempo, disse colocando a mão no meu ombro. Olhei pra ela assustada, mas a moça simplesmente sorria, como se não soubesse de absolutamente nada.
Meu Deus, a desgraçada dava pra ser atriz da Globo com uma atuação daquelas!
Uma ruguinha se fez na testa da minha mãe.
— Quem é você? — Indagou desconfiada.
Ok, a desconfiança dela fazia sentido. Uma moça com cara de 24 anos, alta, magra, ruiva e com pinta de modelo falando comigo como se fosse minha "bff" era algo significativamente esquisito.
— Hum... eu sou a Naia, prima de uma amiga de escola da Clara. — Ela sorriu com seus dentes simetricamente perfeitos. — Prazer em conhecê-la. — Estendeu a mão.
Minha mãe devolveu o cumprimento com um olhar não muito convencido daquela história.
— Que amiga? — Insistiu.
— A-a...
— A Larissa. — Completei, sorrindo de modo cúmplice para a Naia.
Ela ainda estava desconfiada, mas viu que não iria adiantar ficar insistindo.
— Tudo bem. — Cedeu num suspiro, já pegando sua revista, colocando seus óculos escuros e se encostando na cadeira de praia novamente. — Só não demorem.
— Obrigada. — Agradeci, aliviada.
Então Naia pegou meu braço e me arrastou até aquele rochedo onde estava anteriormente.
— Como me achou? — Indaguei. Aquilo tudo não podia ser simplesmente coincidência.
— Bem... sereias um pouco mais velhas conseguem sentir quando há alguma outra sereia em perigo.
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Tudo Começou Aqui [Concluído]
FantasyMaria Clara tinha uma vida de adolescente quase normal. Terceiro ano do Ensino Médio, uma melhor amiga, um irmão mais velho chato, uma mãe louca, um pai implicante, colegas idiotas na escola e uma coisa detestável chamada "invisibilidade social". P...