Depois de quase dois minutos digitando uma resposta, como se estivesse escrevendo a bíblia, minha melhor amiga mandou um simples:
"Posso te ligar?"
Meus pais e o Mateus provavelmente já haviam ido à praia, então eu tinha liberdade para atender a ligação.
"Ok."
A chamada começou.
— Oi, La, eu se...
— QUE HISTÓRIA É ESSA? — Ela me cortou. — Isso é uma pegadinha? Sério, Clara, se for uma, pode esquecer que eu existo. Você bebeu por acaso? Ah, quase me esqueci... estava numa FESTA ontem à noite, então é ÓBVIO que bebeu e bateu a cabeça quando não conseguiu pôr a chave na fechadura da porta de casa, onde chegou de madrugada. Acertei?
Fiquei muda por alguns segundos.
— Larissa, quando foi que você entrou pro FBI?
Minha amiga riu alto do outro lado da linha.
— Então acertei. — Concluiu. — Agora pode começar a explicar como foi que essa palhaçada toda aconteceu e como seus pais permitiram - se é que permitiram?
— Certo, tudo começou na quarta-feira....
Então falei sobre praticamente tudo que havia ocorrido. Desde o posto de gasolina até a Naia. Ela quase se teletransportou pra me dar uns tapas quando contei que fui numa festa sozinha de noite sem meus pais saberem, ficou assobiando quando falei do Nicolas e do Gus (especialmente do Gus) e gargalhou alto quando disse que me transformava em sereia quando a água tocava minha pele.
— Eu quero provas. — Pediu ainda rindo.
— Tá doida?! — Exclamei. — É muito arriscado.
— Clara, eu sou sua melhor amiga. Pra que diabos eu iria usar esse vídeo contra você? Não precisa ter medo. Eu apago depois.
— Ai, ai, ai... Não sei se isso é seguro...
— Para de neura, Clara. Mostra logo sua cauda. Só acredito vendo.
Respirei fundo para não perder a paciência.
— Tudo bem, senhorita "Tomé". Já mando um vídeo.
A questão era: Como e onde eu ia gravar aquele vídeo?
O quintal estava fora de questão. A cozinha também. Só me sobrava o banheiro. O problema era o espaço... a única forma de gravar seria colocando o celular apoiado na saboneteira de porcelana, ficando de frente para o box, cujo vidro se estendia até a metade do espaço onde a água do chuveiro caía.
Como aquela era a única opção, foi o que fiz.
Na frente da câmera, mostrei o anel com a pedrinha e me molhei para que visse que com ela eu não me tornava sereia. Depois tirei o anel e liguei o chuveiro, escorregando quando a cauda surgiu.
Só então notei que não havia pensado em como iria levantar e parar a gravação, porque não havia nenhuma toalha por perto.
Droga!
Então, como um peixe-lanterna no fundo do mar(eu tinha que parar com aquelas piadinhas), lembrei do que Naia dissera a respeito de minhas habilidades de sereia.
Eu conseguia manipular os estados físicos da água. Ou seja: Podia fazê-la entrar no estado gasoso e me secar.
Se aquela série estivesse certa, era só erguer as mãos como a Drica e fazer "força" mentalmente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tudo Começou Aqui [Concluído]
FantasyMaria Clara tinha uma vida de adolescente quase normal. Terceiro ano do Ensino Médio, uma melhor amiga, um irmão mais velho chato, uma mãe louca, um pai implicante, colegas idiotas na escola e uma coisa detestável chamada "invisibilidade social". P...