Acordei numa tosse, à medida que uma piscina de água que saía da minha boca caia na areia e eu olhava ao redor, confusa.
— Tudo bem? — Nicolas, com seus os lábios carnudos pingando água, perguntou.
— O que aconteceu? — Indaguei passando a mão na testa, que latejava.
— Você se afogou...
Opa, opa... ele tinha feito respiração boca a boca em mim? Os lábios daquele Deus grego tinham mesmo tocado os meus? Aquilo era real?
Enquanto eu olhava pra ele, ou melhor, pra boca dele, boba, perplexa e sem reação, uma das garotas que estavam na ilha antes de nós e que eu nem mesmo havia notado que estavam ali na roda olhando pra mim desmaiada e cuspindo água, decidiu abrir a boca:
— Qual é o seu nome? — A loira de olhos azuis perguntou.
— Maria Clara. — Respondi tentando me levantar e falhando terrivelmente. — Ai!
O infeliz do meu tornozelo ainda estava rasgado. E nessa tentativa frustrante de me levantar, um mar de sangue começou a sair dele.
— Ai meu Deus! — A outra menina, de pele morena e cabelos castanhos exclamou tomada de susto. — Espera só um segundo. Eu tenho uma camiseta velha aqui na mochila.
— Ok... — Murmurei com a mão no ferimento e rangi os dentes pela dor que senti.
O céu estava com um tom de azul mais escuro, o que me arrepiou de medo. Meu Deus... já deviam ser mais de 5 horas da tarde! Meus pais iriam me comer viva!
— Pronto! — A garota disse ao retornar com a camiseta em mãos.
— Obrigada. — Sorri ao segurar a roupa, que tinha uma cor vermelha e desbotada. Ótimo. Não estava fazendo a coitada perder uma camiseta em boas condições.
— Quer que eu coloque pra você? — Nicolas ofereceu.
— Obrigada, Nicol...
— Clara, pode me chamar só de Nic, ok? — Ele riu um pouco.
Ah, certo. Nós dois nos conhecíamos havia menos de 3 horas e ele já estava me dando a liberdade de o chamar de Nic? Ok, certamente a terra estava girando do Leste para o Oeste.
— O-o-ok. — Ri, desconcertada. — Nic. Obrigada, mas acho que posso fazer isso sozinha.
— Tudo bem. — Ele sorriu, entendendo.
Amarrei a camiseta ao redor do meu calcanhar e dei um nó forte. Aquela porcaria não iria se soltar tão fácil da minha perna.
— Vamos atrás dos seus pais? — Nicolas, opa, Nic, se levantou e estendeu a mão para que eu me erguesse do chão também.
— Vamos. — Aceitei-a.
Com meu braço direito apoiado nele, e o esquerdo dele ao redor da minha cintura, começamos a caminhar pela praia. Eu não conseguia parar de pensar na surra que iria tomar quando meus pais me vissem.
— Léo, que horas são? — Perguntei ao loiro, que, assim como Gustavo, estava um tanto mudo diante da situação.
— São... — Ele consultou o celular. — cinco e quarenta e dois.
Ótimo. Eu havia saído às 15:30 e agora já eram quase 18:00. Jesus Maria José, eu era uma garota morta!
Não sabia o que era pior: Não encontrar meus pais, ou encontra-los. Dos dois jeitos, eu estaria completamente ferrada.
Foi quando, pela primeira vez na vida, agradeci aos céus por meu irmão ter aquela droga de saco sem fundo que chamava de estômago. Se não fosse por ela, eu não iria ter encontrado o abençoado comprando um pastel num dos quiosques à beira da praia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tudo Começou Aqui [Concluído]
FantasyMaria Clara tinha uma vida de adolescente quase normal. Terceiro ano do Ensino Médio, uma melhor amiga, um irmão mais velho chato, uma mãe louca, um pai implicante, colegas idiotas na escola e uma coisa detestável chamada "invisibilidade social". P...