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No dia seguinte, sentada no banquinho de madeira de um quiosque em frente à praia, o vento soprava lentamente, arrastando consigo o calor e a fina areia debaixo dos meus pés.

Minha mente vagava em pensamentos.

Com o anel pra me proteger da cauda de peixe, já me sentia mais segura. Claro, saber que eu era uma sereia continuava não sendo algo lá muito normal, mas teria que me adaptar, já que não tinha muito tempo de vida pra ficar me lamentando por aquele novo corpo.

Tinha muitas curiosidades a respeito daquele vírus. Pra começar: Era um desequilíbrio no ciclo ambiental por conta da extinção de algum peixe? Algum tipo de produto tóxico sendo derramado na água? Era poluição? Pesca ilegal? Veneno?

O que poderia ser, afinal?

Mesmo não sendo exatamente uma expert em química, a única forma de ter pelo menos uma pista do que poderia ser o motivo do vírus atlântico era colhendo amostras da água e de algum peixe morto para análise.

O problema era: Aonde cargas d'água eu iria encontrar essas coisas, uma vez que o mar do Rio de Janeiro, pelo que eu sabia, ainda não havia sido infectado?

E, como se lesse meus pensamentos, Naia surgiu outra vez do nada.

— Clara? — Escutei uma voz atrás de mim. Era ela.

— Naia! — Sorri e me virei no mesmo instante. — Eu precisava falar com você justamente agora!

— Uau, que coincidência... — Ela riu um pouco confusa. — Porque dessa vez eu realmente te encontrei por acidente.

— Como sabia que era eu? — Perguntei.

— Bem... conhece alguma outra pessoa nessa praia que usa o cabelo solto e camiseta preta em pleno sol de meio-dia? — Debochou.

— É que eu fui ao shopping com meus pais de manhã. — Expliquei.

— E o cabelo solto? — Continuou.

Mordi um canto do lábio. Droga, ela tinha mesmo que tocar na minha insegurança?

— Eu tenho vergonha das minhas orelhas...

— Ah, quê isso! Não pode ser tão ruim. Deixe me ver... — Falou já colocando as mãos no meu cabelo e fazendo um coque.

Droga, eu ia matar a Naia se o Nicolas passasse por ali e me visse daquele jeito.

— Pronto. — Falou satisfeita ao terminar o penteado. — Agora vamos ver como ficam suas... — Os olhos dela se perderam olhando para minhas orelhas.

— O que foi? — Indaguei, mesmo já sabendo a resposta.

— Ainda bem que eu comprei um anel e não brincos... — Resmungou.

— Naia! — Dei um tapa em seu ombro.

— Ai! — Ela exclamou rindo enquanto passava a mão pelo ombro.

— Nunca mais falo sobre minhas inseguranças com você!

A mulher riu mais um pouco.

— Era brincadeira, sua boba. Você fica linda de coque. — Sorriu.

— Como posso ter certeza de que não está mentindo? — Cruzei os braços.

— Hum... — Pensou um pouco. — Ali do lado tem um banheiro. — Sugeriu.

Estreitei um pouco os olhos.

— Ok. — Concordei por fim.

E quando vi minha cara no espelho...

Tudo Começou Aqui [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora