Passo número 2 - Seja genuína (Parte 2)

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Edmund não parecia muito confortável, apesar de eu ter dito "sinta-se à vontade". Imagino que essa frase funciona tão pouco quanto "meus pêsames". Frustrante, mas o importante é tentar. Sentei em minha cama com o balde de pipoca no colo e uma caneca de Londres na mão. O notebook estava sobre a cama, chamando-me para mais uma rodada de episódios incríveis. Ele sentou em minha escrivaninha, olhando para mim com curiosidade. Não entendi sua reação, pois era eu quem deveria estar curiosa. E eu estava, bastante. Queria saber onde ele me vira pela primeira vez, e o que pensara. É engraçada essa situação, sabe? Eu sempre sou a primeira a saber da existência das pessoas, seja através de terceiros ou através de observações. Sempre sei algumas coisas antes de conversar com alguém. Sei o curso da pessoa, a reputação pela faculdade, às vezes até o que os professores dizem sobre ela. Só que a situação era inversa com Edmund. Era óbvio que ele já sabia algumas coisas sobre mim, talvez importantes até. Ele sabia uma parte de minha personalidade que ninguém sequer desconfiava. Todos achavam que eu passava meu tempo livre estudando, e por isso conseguia obter notas tão impecáveis. Mas essa não era uma verdade absoluta. Vez ou outra eu estudava, quando considerava alguma matéria um pouco mais difícil. Entretanto, geralmente preciso apenas prestar atenção nas aulas para lembrar de tudo nas provas. É uma vantagem e tanto, se quer saber. Quando eu estava na escola, isso funcionava muito bem para as Humanas no geral, além de matemática e química. Para as matérias que sobravam eu tinha que estudar, e muito. Agora, na faculdade, apenas tenho assuntos de Humanas, principalmente de História, então não é difícil entender tudo. Então o que eu faço com meu tempo livre? Além de sair com Nick para passeios históricos, a outra coisa que mais faço em meu tempo livre é assistir séries e filmes no Netflix. E isso Edmund sabia, muito bem. Portanto, tinha uma vantagem sobre mim.

— Pode sentar na cama, sabe? Eu não mordo. — Ri, batendo no espaço vago ao meu lado. — Ela é pequena, mas eu divido sempre com Nick.

— Você acha isso normal? — Perguntou, as bochechas vermelhas.

— Isso o quê?

— Deixar um cara sentar na sua cama.

— E por que não seria? Até parece que vamos fazer algo de errado!

— Não sei... — Ele olhou para o chão, encabulado. — Eu nunca entrei no quarto de uma garota.

— Certo. — Eu disse, depois ri. Ele ficou ainda mais envergonhado, o que me fez parar por alguns segundos e encará-lo, pensando no quanto isso era inédito para mim. — Está falando sério?

— Sim. — Disse, um tanto quanto baixo, mas eu consegui ouvir da mesma forma.

— Sua família é conservadora demais? — Perguntei, tirando uma conclusão precipitada de Edmund, o que geralmente não fazia, pelo menos não se pudesse evitar.

— Pode-se dizer que sim. — Bufou. — Não sabe o inferno que foi para eu conseguir vir estudar aqui! — Não devia ter sido tão mais difícil do que foi pra mim, não é? Não consigo pensar em um jeito mais difícil de entrar para Harvard além de ser estrangeiro, ainda mais de um país de terceiro mundo. O que me deixou com uma possível conclusão: que ele não era americano.

— Eles não queriam?

— Minha mãe não queria, e é ela quem manda em tudo.

— Entendo.

— Acho que não.

— Por que diz isso?

— Você teve problemas com seus pais para vir estudar em Harvard?

— Não.

— Então não me entende. — Pontuou.

— Verdade, mas eu posso tentar. — Sorri, batendo novamente no espaço vago ao meu lado. — Sente-se aqui e tente me explicar como é sua vida, Edmund. Prometo não te atacar.

Realeza Assistida (Completo na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora