CARNE FRESCA - VOL 1 - (Completo) lançado 20/07/18 - Sem revisão

MARTE

— Charles, poderia repetir como ele chegou na delegacia para falar com você? — Armando e Charles andam para o lado de fora do Iate, e o delegado de Ipojuca começa:

— Claro. Quando puxamos os dados da filha assassinada, o endereço dela estava junto com o da mãe, porém quem atendeu o telefone foi o pai. Ele, chegou na delegacia, mais ou menos depois de duas horas que recebeu a ligação, para reconhecer o corpo, e comuniquei o acontecido sem fornecer detalhes.

— Você que o viu no primeiro momento, como ele estava?

— Deplorável! Acabado! O cara parecia um Matusalém.

— Matusa o que?

— Matusalém é o personagem que mais viveu no mundo, segundo a Bíblia. É o mesmo que dizer que morreu e não sabia.

— Entendi. E o que mais?

— Eu não o reconheci de imediato, mas, quando fui levá-lo para reconhecer o corpo da filha, o escrivão me chamou, e comentou sobre quem era a personalidade que estava ali, então lembrei das histórias, lendas urbanas que cercavam o homem.

— Qual tipo de lendas urbanas?

—  Do tipo de histórias que se contam para assustar crianças, como "Biu dos olhos verdes", ou o "Veio do saco." , "Papa Figo"... Então, sorri para o escrivão e fui ao encontro dele.

— E lá, quando ele reconheceu o corpo?

— Foi muito estranho... Ele parece um gringo, falou algo que não entendi. Agora, O homem estava cansado, eu conseguia escutar a respiração dele. Mas, o que chamou a minha atenção, foi a mudança na cor dos olhos dele.

— Mudança? Como assim? — Armando ajeita o corpo.

— Ele, quando chegou na minha sala, estava com os olhos azuis, mas ao ver a filha morta, seus olhos ficaram pretos... E sua voz mudou para uma com timbre mais grosso e perturbador. Foi aí que arrepiei e comecei a pensar que talvez as lendas, não fossem tão lendas assim.

— E depois ele foi embora?

— Isso mesmo, ele foi embora puxando a perna direita, arrastando o corpo com um barrigão. Mas, ele me avisou que não iria sossegar até pegar todos os culpados... Eu o avisei para ficar fora do caso, por que éramos a polícia e seríamos nós a cumprir a lei e não ele.

– Logicamente ele te interrompeu, fazendo um discurso de vingança.

— Não, ele baixou a cabeça e deu um sorriso, sabe, daqueles que chama a pessoa de "otário"? Ou pobre coitado?

Armando balança a cabeça positivamente, como quem entendeu a mensagem.

— Pronto, foi um desses. Agora, depois de tantas perguntas, quem está curioso sou eu.

— Charles, o Juca relatou que a mulher que trabalha de serviços gerais passou uma outra descrição do assassino. Quando demos a batida na casa dele, o porteiro informou que o "velho" morava sozinho.

— Entendo Armando. Um homem com o potencial de matar, igual ele tem, com certeza terá vários amigos que o ajudarão. Até mesmo, quem sabe ele não tenha uma facção criminosa que ainda não foi descoberta? Mas, uma coisa que sei, é que o homem com seus quase setenta anos, não poderia está fazendo isso tudo, sozinho. — Charles aponta para o local onde está o homem morto. — Amarrar um cara do tamanho desse ator pornô... Duvido que ele conseguisse sozinho.

— Sim, inclusive o homem visto no aeroporto era esguio, cabelos um pouco acima dos ombros e aparentava uns quarenta e cinco anos.

— Como é? Não pode! Drake tem perto de setenta anos, cabelos brancos que são amarrados para trás, presos num "rabo de cavalo".