"Foi me ensinado a não ter medo de escuro, mas nunca me preparam para um momento como esse.
Olhando agora, parece que foi tudo em vão."Eu abro os olhos.
Estou de pé.
E estou no breu.
Em um breu tão intenso.
Tão intenso.
Como eu queria que não importasse.
Como eu queria.
Mas importa tanto.
Tanto.
Vejo sangue.
Muito sangue.
E meu corpo está todo manchado.
Mas eu não matei ninguém.
Eu não matei.
Eu não matei.
Mais sangue.
O chão está manchado também.
E as paredes.
E o teto.
Sangue escorre de algum lugar.
De algum lugar que eu não consigo ver.
Um corpo.
Dois.
Três.
Meu estômago embrulha.
E eu vomito.
Minhas pernas bambeam e eu caio de joelhos.
Mas meus olhos não desprendem da cena.
Eles não me obedecem.
Não me obedecem.
O que está acontecendo aqui?
E eu vejo.
Eu vejo as pernas brancas de alguém.
São dela.
E ela caminha.
Posso ver parte do seu corpo.
Posso ver até as coxas.
E o breu cobre quase todo resto dela.
Mas claramente vejo seus olhos.
Seus olhos brancos.
Perolados.
Como se não possuísse alma.
"Não a encare."
Mas não consigo desviar o olhar.
Ela pisa sobre os corpos empilhados.
E escuto um barulho de guinchos vindo de um deles.
Ainda tem alguém vivo.
Algum deles ainda está vivo.
Posso vê-la.
Vagalumes de luz prateada voam próximos a ela.
Eu não sei de onde vieram.
Mas eles iluminam seu sorriso.
E meus pelos da nuca arrepiam.
Ela aperta os corpos com mais força.
Tanta força.
E os guinchos se tornam mais altos.
Tão mais altos.
Um barulho estridente.
E eles param.
Eles pararam.
Ele morreu.
Ela o matou.
E seu sorriso se alarga.
Ela levanta o pé ensanguentado e pisa sobre a cabeça do outro corpo.
Eu quero gritar.
Mas o som não sai.
O som não sai.
Eu quero fechar os olhos.
Mas eu não consigo.
Eu não consigo.
Estou chorando.
Eu estou chorando sem sequer piscar.
As lágrimas frenéticas caem sobre a poça de sangue.
E lá se perdem.
Ela força a perna.
E escuto o ranger dos ossos.
Eu escuto.
Mas eu não quero escutar.
Seu sorriso se alarga.
E por fim eu consigo piscar os olhos.
Os corpos sumiram.
Ela sumiu.
Mas estou sentada de joelhos.
E estou sobre uma poça de sangue.
Não é tão grande.
Mas eu não sei de onde veio.
Meu estômago revira e tapo a boca.
Eu estou em pânico.
E ainda choro.
Eu não sei o que aconteceu agora.
Ela.
Ela me manipulou.
E me deu uma visão do que ela pode fazer.
Me implantou medo.
Instaurou terror.
Meu coração bate tão rápido.
Tão rápido.
Eu sequer consigo me por de pé.
E sequer consigo pensar sem que aquele par de olhos invada meus pensamentos.
"Não a encare"
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Vagalumes
HorrorNão a escute Não a encare Acalme-se E tente, tente fingir que ela não existe Não olhe para os lados Não responda suas perguntas Não caia sobre suas tentações Você não está sozinha Ela está com você 1, 2, 3... Respire fundo E, acima de tud...