"Parece que eu estou a tanto tempo aqui. Tanto tempo... E em nenhum momento senti fome.
Como eu gostaria de conseguir dizer se isso é algo bom ou ruim"A dor se alastra pelo meu corpo.
E eu sinto tanto frio.
Tanto frio.
Não sei como esfriou tanto.
Pois não tem uma janela ou algo do tipo para que o vento possa entrar.
É tudo selado.
Existem apenas pequenas frestas.
Mas elas não são capazes de deixaram tanto frio entrar.
Tanto frio.
Meu corpo todo dói.
E então percebo que estou no meio da escada.
Estou jogada no meio da escada.
Uma mancha de sangue.
Uma mancha de sangue do alto da escada até mim.
Meu sangue.
Meu.
Mas não sinto nenhum ferimento em mim.
Tateio a lateral do meu corpo.
E encontro.
Uma grande de cicatriz.
Meu estômago revira.
Mas eu não consigo vomitar.
Eu não consigo.
E não sei se eu gostaria de conseguir.
A cicatriz alcança da minha cintura até meu seio.
E ela parece tão recente.
Tão recente.
Chega a arder quando toco.
Está ardendo tanto.
Tanto.
A quanto tempo estou aqui para um ferimento horrível ter começado a cicatrizar?
A quanto tempo estou aqui?
Me sinto sem fôlego.
E o resto de meu ar vai embora.
1, 2, 3...
Me forço a respirar.
E cada tentativa faz doer mais.
Dói cada vez mais.
Respirar está tão difícil.
Estou tão ofegante.
Tão ofegante.
E não tenho escolha que não seja me manter respirando.
Ou ao menos tentar.
Conto até três e inspiro o ar novamente.
Ele vai ardendo por onde passo.
Mas continuo.
Eu continuo.
Até que consigo normatizar minha respiração.
Ou, ao menos, me acostumo tanta dor.
Tanta dor.
Meus olhos marejam.
E sem que perceba.
Eu estou chorando.
Estou chorando por medo.
Estou chorando por pânico
Estou chorando por que ela sabe meu nome.
Por que ela conseguiu me manipular.
Por que faz tanto tempo que estou aqui.
Tanto tempo.
Tento me agarrar à escada.
Mas meus dedos falham.
Meus dedos falham.
E escorrego um degrau.
Dois.
Estou caindo escada a baixo.
Estou escorregando.
E a mancha de sangue aumenta.
De acordo com que vou a encontro do chão a mancha vai aumentando.
Mas eu não estou sangrando.
Eu não estou sangrando.
E sinto o impacto no chão de madeira.
Dói tanto.
Tanto.
O ferimento está ardendo mais.
E a mancha de sangue está tão grande.
Tão grande.
Do topo da escada até aqui.
Estou com tanto medo.
Tanto medo.
A dor se alastra mais.
E tão rápido.
Tão rápido.
Tento me apoiar sobre os braços.
Mas eu caio.
Eu caio.
E corto minha boca.
Está ardendo tanto.
Sinto o gosto de sangue preencher minha boca.
E não abro os olhos.
Eu não abro os olhos.
Rasgo um pedaço da manga da blusa e ponho em minha boca.
Não sei onde consigo força para isso.
Estou tão fraca.
Tão fraca.
Mesmo que me sinta mais forte do que antes.
Ainda estou fraca.
E abro os olhos.
Não demora para o pano ficar inteiro vermelho.
Então o jogo para um canto qualquer.
Mas não tenho força o suficiente para que ele alcance qualquer parede que fosse.
Meus lábios estão ardendo tanto.
Tanto.
Fecho meus olhos com força para reprimir a dor.
E tento me erguer mais uma vez.
Tento.
Forçando minhas mãos me ergo por meio corpo.
Meus braços falham.
Mas sento antes de cair mais uma vez.
E fico bem de frente para a porta.
A porta.
A porta está manchada de sangue.
Uma mancha de sangue tão grande.
Tão grande.
E pisco os olhos.
Tentando livrar a imagem da minha mente.
E minha visão clareia.
Então eu vejo.
Eu vejo.
E sinto enjôo.
Agradeço por estar sentada.
Porque eu não conseguiria me manter de pé.
Meu estômago revira.
E eu vomito.
Eu vomito tanto.
E vagalumes prateados adentram meu campo de visão.
Tem dois corpos aqui.
Dois corpos.
Um em cada canto da parede da porta.
Perco o ar mais uma vez.
E sinto meu coração apertar.
Tenho a impressão de que já os vi antes.
Então choro.
Meus soluços ecoando por toda a casa.
Eu grito.
Um grito tão agudo.
Tão agudo.
Que meus ouvidos chegam a doer.
Mas eu não me preocupo com isso.
Não agora.
Porque eles...
Eles estão mortos.
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Vagalumes
HorrorNão a escute Não a encare Acalme-se E tente, tente fingir que ela não existe Não olhe para os lados Não responda suas perguntas Não caia sobre suas tentações Você não está sozinha Ela está com você 1, 2, 3... Respire fundo E, acima de tud...