"Ser forte não é uma opção, é minha única escolha."Eu estico minha mão.
E fecho seu olho.
Mas não olho para a cicatriz.
Eu não olho.
Está doendo tanto.
Mas não preciso transparecer isso.
Ela não precisa saber.
Não precisa saber o quanto estive em pânico.
E novamente me ergo.
Apoiando meu braço na parede ao lado.
Eu aprendi a andar.
Eu lembrei.
Lembrei como se anda.
Mas não sei se há ligação com as memórias.
Talvez tenha.
Provável que não.
Mas talvez eu tenha frustado ela.
Talvez ela não quisesse que eu andasse.
Eu adoraria se acontecesse isso.
Apoiando minha mão na parede.
Sinto um sulco.
Mais palavras.
Outra mensagem.
Como eu não vi isso antes?
Passando meus dedos por ele.
O sulco.
Ele vai para a outra parede.
Onde realmente está escrito.
E eu posso ver.
Eu posso.
"Acalme-se. E tente, tente fingir que ela não existe."
Acalme-se.
Ficar calma.
Impossível.
Impossível.
Mesmo que eu tenha mantido a calmaria.
Mesmo que na hora em que fitava Nat estivesse calma.
Ser forte não é fácil.
Ser forte é quase impossível para mim.
Que sou tão fraca.
Tão fraca.
Mas eu consegui segurar o choro.
Eu consegui.
Talvez não seja tão difícil.
Talvez não seja.
E eu odeio essa palavra.
Talvez.
Eu odeio.
Eu odeio.
Eu odeio.
Mas ainda amo.
Eu amo.
Porque ela me dá a sensação de que não tenho esperança.
Ao mesmo tempo que dá a sensação de ter a mesma.
É como se talvez pudesse ser o sim.
Mas que também pode ser o não.
"Tente fingir que ela não existe."
Fingir.
Parece mais difícil.
Tão mais difícil.
Por que só de ter a possibilidade de ela estar me observando veemente...
Sinto minha nuca arrepiar.
Eu a temo tanto.
Tanto.
Mesmo que eu tente ser forte perante ela.
Seus olhos me paralisam.
E me fazem não conseguir reagir.
Eu não reajo.
Tente.
Posso tentar.
Eu posso tentar.
Mesmo sem achar que consigo.
Mesmo no fundo, bem no fundo sabendo que não consigo.
Talvez consiga.
Talvez.
Ainda odeio essa palavra.
Ainda amo.
Mas prendo-me à esperança que ela me traz nesse momento.
Esperança.
Esperança que pensei estar morta.
Esperança que não lembrava que existia.
Vou tentar.
Tentar.
E foco meu olhar de volta aos sulcos.
Alguém está me ajudando.
Alguém que morreu por isso.
Pois duvido estar vivo.
Duvido.
E os sulcos...
Tem só isso.
Só isso.
Não sei se é bom.
Não sei.
Mas não tem uma mancha de sangue.
Não tem uma mancha de sangue como a última vez.
E mesmo que já estivesse.
Mesmo assim.
O sangue de Nat cobriria.
Nat.
Eu tenho que subir logo.
Eu tenho que ir lá para cima.
Pode ter algo lá.
Talvez.
Eu posso achar algo útil.
Eu posso achar algo para sair daqui.
E eu espero que tenha.
Espero tanto.
Tanto.
Dou um passo em direção à escada.
Um passo para longe de meus amigos.
Dou dois.
Respiro fundo.
E três.
Estou no meio.
Bem no meio de antes do primeiro degrau.
Sobre a mancha de sangue de quando chorava.
Chorava por eles.
Ainda choro.
Por dentro.
E sem olhar.
Sei que estou de costas para a porta.
Sei que estou bem no meio da sala.
E não me contenho.
Não me contenho a olhar para eles mais uma vez.
Estão tão pacatos.
Tão pacatos.
E meus olhos marejam.
Porque eu sei.
Eu sei.
Eu sei que é um adeus.
E cada passo para longe deles dói.
Eu sei que ainda vai doer.
Mas tenho que tentar.
Respiro fundo.
E olho para frente.
Então subo o primeiro degrau.
"Tente"
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Vagalumes
HorrorNão a escute Não a encare Acalme-se E tente, tente fingir que ela não existe Não olhe para os lados Não responda suas perguntas Não caia sobre suas tentações Você não está sozinha Ela está com você 1, 2, 3... Respire fundo E, acima de tud...