Capítulo 14

21 4 0
                                    

"Não pode ser. Não, não pode. Eu e ela não temos nada a ver, nós não podemos ter...
Eu não quero que tenhamos."

Eu não sei o que eu faço.
Eu não sei.
Meus olhos.
Onde estão os meus olhos?
Esses brancos não são os meus.
Não são.
Não quero que sejam.
Eu lembro deles sendo castanhos.
Castanhos.
Eu quero essa cor de volta.
Eu quero tanto.
Estou com medo.
Aperto os olhos tentando apagar.
Apagar tudo.
Não consigo.
Eu não consigo.
Quero gritar.
Mas não consigo.
Também não.
Eu quero levantar.
Mas eu esqueci.
Esqueci.
O que ela está fazendo comigo?
Eu preciso de ajuda.
Eu quero minha mãe.
Eu quero meus irmãos.
Eu quero Noah e Nat de volta.
Eu quero tanto.
Tanto.
Estou chorando.
Eu não sou ela.
Não, eu não sou.
Não posso ser.
"Eu nunca machucaria ninguém."
Machucaria?
Minhas memórias estão confusas.
E minha cabeça dói.
Dói como nunca doeu antes.
Eu acho.
Eu não lembro.
Não consigo mexer mais que os olhos.
Eu não sei porque.
Eu não sei.
Eu estou com tanto medo.
Tanto.
Tem algo escrito no espelho.
Tem algo.
Escrito.
Com sangue.
Meu estômago revira.
Mas eu não vomito.
Eu não vomito.
"Não olhe para os lados"
Não olhe.
Não olhe.
Não olhe.
Como não olhar?
Como fingir que ela não está aqui?
Eu estou com tanto medo.
Tanto medo.
Não faz mais sentido.
De onde surgiu essa mensagem?
Esse sangue...
Esta seco.
Tão seco
Como se estivesse sido escrito a anos.
Anos.
Mas ele não estava aqui.
Ele não estava.
Mas eu ainda tenho o mesmo rosto.
A mesma idade.
Eu tenho.
Eu acho.
Quem escreveu o que está aqui?
O que está acontecendo?
A quanto tempo estou nesse lugar?
Nessa casa?
Nas mãos dela?
Eu quero ajuda.
Eu preciso de ajuda.
E eu grito.
Todas as palavras engasgadas saem.
De uma vez.
E sinto o ar vibrar.
O medo aumenta.
E diminui.
Está ficando frio.
E eu escuto.
Eu escuto o espelho rachar.
As dezenas de cacos caindo.
Se quebrando em muitos.
O que eu fiz?
Eu estou com medo.
O que aconteceu?
Os cacos de espelho perfuram minha pele.
E arde tanto.
Tanto.
Não sei como fiz isso.
Eu não sei.
Não sei se quero saber.
Mas o medo dissipa.
Por um momento.
E tudo fica mais claro.
Tão mais claro.
Que vejo os quatro cantos do cômodo.
Quatro.
O número que vem depois do três.
Eu lembro.
Quatro.
Um leve alívio me preenche.
Eu lembrei de algo.
Ela deixou lembrar.
E por um momento esqueço que seus olhos estão aqui.
Temo que ele veja o que eu vejo.
Talvez sinta o que eu sinto.
Grito mais uma vez.
De medo.
Raiva.
Dor.
Eu não sei.
Eu não sei.
E aperto os olhos com toda minha força.
Tanta força que eles doem.
E quando os abro, ainda vejo.
Tudo ainda está claro.
Então, percebo.
Sangue.
Há sangue por todos os lados.
Meu estômago revira.
De novo.
Mas eu não consigo vomitar.
Eu não consigo.
Outra mensagem.
Tão antiga.
"Não responda suas perguntas"
Perguntas.
Perguntas.
Ela nunca me perguntou nada.
Ela nunca perguntou.
Meu sangue gela.
A temperatura oscila.
O medo me atinge.
Sinto minha visão turvar.
Meu corpo que não está por todo erguido fraqueja.
E antes que eu caia sobre os cacos de vidro.
E que minha visão se apague.
Vejo mais uma mensagem.
Mais uma.
Apenas mais uma.
"Não caia em suas tentações"
E sinto meu corpo amolecer.

VagalumesOnde histórias criam vida. Descubra agora