Vagalumes

Capítulo 12

"Posso me forçar a ter força, realmente parece que fui possuidora da mesma em momentos atrás.
Mas eu não sei o quanto vou poder mantê-la. Ela pode, até mesmo, acabar bem agora.
Agora que mais preciso."

Não demorou até que cheguei ao topo da escada.
Foi tão rápido.
Tão rápido.
É estranho saber andar de novo.
Mas não ouso reclamar.
Eu não ouso.
Me recuso olhar para trás mais uma vez.
Vejo três mais duas portas de frente para mim.
E posso jurar que uma está com duas manchas de sangue.
Como uma palma da mão.
Ela está tão longe.
Tão longe.
Me recuso ir até ela.
Eu não preciso.
Eu não quero.
Não.
Dou mais um passo para frente.
A primeira porta.
Primeira.
E do meio.
Ela tem maçaneta.
Maçaneta.
Não me lembrava dessa palavra.
Não sei exatamente o que ela quer dizer.
Mas, no fundo de minha mente.
Me lembro.
Algo me faz lembrar.
Mas não acho que tenho tempo para isso.
Até respirar se torna difícil aqui.
Meus dedos tocam o frio metal.
E percebo que tem o formato de algum animal.
Corvo.
As penas desenhadas com tanta perfeição.
Tanta.
Mas não tiro minha mão dali.
Não tiro.
Apertando-a com força, Giro-a.
Ouço um click.
Um click baixo.
Eu acho.
Já não tenho certeza.
Mas isso não me assusta.
Não me assusta.
Mesmo assim escuto meu coração palpitar mais.
Minha respiração está pesada.
Tão pesada.
Ignoro-a.
Empurrando a porta de madeira.
Sem farpas.
Não há ruído quando a abro.
Por um momento penso estar segura.
E penso estar em perigo.
Fecho meus olhos.
Temo abri-los.
Respiro fundo.
E os abro.
A sala não está vazia.
Não, ela não está.
Tem um espelho.
Um espelho.
Não dou um passo na sua direção.
Não sei se quero olhá-lo.
Meu reflexo.
Eu sei que não vou ser a mesma pessoa de antes.
Nunca mais.
Sequer lembro como era de fato minha aparência.
Eu estou com medo.
Tanto medo.
Meus pelos se arrepiam.
Estou tremendo.
Eu não quero dar um passo.
Eu não quero.
Sinto a madeira sob meus pés ranger.
E por um momento a escuridão se dissipa.
E se torna mais escura.
Dou um passo.
Dois.
Três.
Mas meus olhos estão fechados.
Eu não quero olhar.
Sequer queria chegar perto.
Mas eles abrem.
Meus olhos.
Calmamente.
E passo a fitá-los.
No espelho.
Começo a tremer.
Eu sinto.
Minhas pernas bambeiam.
E eu caio.
Meus joelhos atingem o chão com força.
Tanta força.
Eu não posso esquecer.
Eu não posso.
Não agora.
Não posso esquecer como andar.
Não posso esquecer deles.
Meus olhos se dirigem para cima.
Eu estou com medo.
Tanto medo.
Está ficando quente.
Eu estou suando.
E tremendo.
Posso ver seus olhos.
No lugar dos meus.
Ela me manipula.
Ela está aqui.
Ela se esconde em mim.