Capítulo 5

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"Eu não sei o que ela é, e ainda não sei do que ela é capaz. Eu a temo.
Mesmo sabendo que é exatamente isso que ela quer."

Eu respiro com força.
E o ar queima por onde passa.
Inala-lo nunca foi tão difícil.
Minha garganta está tão seca.
Tão seca.
Eu vomitei mais vezes do que pude contar.
Meu coração ainda não se acalmou.
E meus olhos ardem de tanto chorar.
Eu estou com tanto medo.
Tanto medo.
Mas definitivamente estou melhor do que quando vi a cena.
Aquela cena.
Não sei de quem eram os corpos.
Mas eu também não sei se quero saber.
Eu me lembro que tinham os rostos desfigurados.
Eu me lembro.
Mas eu queria esquecer.
Rostos que me amaldiçoarão em pesadelos.
Me amaldiçoarão para o resto da minha vida.
Minha vida que não sei quando vai terminar.
Eu posso morrer hoje.
Ela pode me matar agora.
Mas eu não entendo seus jogos.
E temo não entender.
Sinto o enjoo.
E desvio os olhos da poça de vômito ao meu lado.
Passo a fitar minha frente.
E percebo.
Está tudo mais claro.
Mesmo que ainda escuro.
Eu posso ver além de três palmos na minha frente.
Eu posso ver algo como uma porta.
Está a passos de distância.
Passos.
Mas eu não sei se consigo me levantar.
Estou tão mais fraca.
Tão mais fraca.
Que não sei se quero tentar.
Mas eu quero sair daqui.
Eu quero.
Então apoio minha mão esquerda na parede ao meu lado.
E sinto os sulcos da mensagem.
Minhas pernas bambeam.
Estou tão perto de cair.
Tão perto.
Mas me forço a me manter de pé.
Apoiando a outra mão na outra parede.
Sinto uma farpa adentrar minha mão.
Mais uma.
Sem contar as outras que arranquei com os dentes.
Minha roupa está manchada de sangue.
E escuto o mesmo pingando no chão por eu ter me levantado.
Tento me manter de pé sobre a poça escorregadia de sangue.
E não olho para o vômito também misturado nela.
Forço minhas pernas a pararem de tremer.
Me solto das paredes.
E tento dar um passo.
Um passo em direção a porta.
Mas minha perna direita fraqueja.
E não estou perto o suficiente para me apoiar.
Demoram segundos para que eu atinja o chão.
E meus joelhos o acertam com tanta força.
Tanta força.
Eu sinto-os arranhar.
Quase tombo para frente novamente.
Então me apoio com as mãos no chão.
Eu não consigo.
Eu não consigo.
Não tento me levantar aqui de novo.
A poça mista de sangue e vômito mancha ainda mais a minha blusa.
Ainda mais.
E me arrasto até a porta.
Ralo ainda mais os joelhos.
E deixo um rastro pelo chão de madeira.
Estou tão próxima.
Tão próxima.
Eu toco o batente com uma das mãos.
E fica a marca ensanguentada dela.
Meus olhos marejam.
E eu repouso minha cabeça nesse pedaço de madeira.
Dói tanto.
Tanto.
Fecho os olhos.
E tento reprimir a dor.
Tento.
Mas não consigo.

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