Capítulo 9

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"Eu me lembro dos dias em que os conheci. Lembro como passei a ama-los, lembro o quanto passaram a ser importantes para mim.
E eu nunca, nunca vou esquecer o dia em que os perdi. A dor sempre me impedirá disso."

Eles não podem estar mortos.
Não podem.
Ela deve estar me manipulando novamente.
Não pode ser verdade.
Não pode.
Estou tão fraca.
Tão fraca.
E não sei de onde tiro forças para me arrastar a um dos corpos.
Não pode ser verdade.
Não pode.
Arrastando meu corpo no chão frio de madeira, sinto farpas entrarem.
Uma.
Duas.
Três.
Até que chego ao cadáver.
Não pode ser verdade.
Mas estou em pânico.
Algo em mim grita que é real.
É real.
E eu desabo em prantos.
Choro cada vez mais alto.
Posso ver suas órbitas azuis claras.
Não tenho outra reação que não seja chorar mais.
Estou chorando tanto.
Tanto.
Ergo a mão em direção aos seus cabelos castanhos escuros.
E ponho uma mecha atrás de sua orelha.
Eles estão tão macios.
Tão macios.
Mesmo que com o sangue os manchando.
Sangue dele.
O que ela fez com você, Noah?
O que ela fez...?
Por que?
O que eu fiz de tão horrível a ponto de ela matar meu melhor amigo?
Meu melhor amigo.
Noah.
Noah está morto.
E eu estou destruída por dentro.
Passo a mão por sua bochecha sardenta.
E tento ignorar o sangue que mancha ela.
Eu tento.
Mas eu não consigo.
E seus olhos sem vida me dão calafrios.
Aqueles olhos azuis que eu invejava dele.
Me forço a alcança-los e fecha-los.
Ele não merecia morrer assim.
Ele era a melhor pessoa que eu já havia conhecido.
Das poucas memórias que tenho.
Das poucas, eu não pude esquecê-lo.
Mas ele está morto.
Por que?
Por que ela precisou matá-lo?
O garoto que se preocupava mais com os outros do que a si mesmo.
O garoto que não tinha coragem de matar uma mosca.
O garoto que me chamava de Mel.
Mel.
Noah.
Não consigo parar de chorar.
Eu não consigo.
Por que eu lembro.
Eu lembro do dia em que o conheci.
Lembro que estava chovendo.
Que fui me esconder sob o carvalho.
E ele estava lá.
Ele que não me deixou ter medo.
Ficamos esperando a chuva passar.
Foi quando nos tornamos amigos.
Foi quando ele prometeu que seria meu amigo para sempre.
Para sempre.
Para sempre que durou tão pouco.
Tão pouco.
Tento tirar meus olhos dele.
Mas não desvio o olhar de seu rosto.
Pois eu não quero encarar o estado em que se encontra seu corpo.
Eu não quero.
Posso ver somente sangue.
Seu sangue.
E não quero ver mais do que isso.
Não posso dar um funeral decente a ele.
E sequer sei o que vai acontecer com seu corpo.
Meus pelos da nuca arrepiam.
Estou com tanto medo.
Tanto medo.
Estou com tanta vontade de gritar.
Tanta vontade.
Mas eu não consigo.
Olho seu rosto por uma última vez.
Uma última vez.
Nunca pensei que ia dar adeus tão cedo.
Eu nunca pensei que ele morreria tão novo.
Nunca havia pensado que ela iria aparecer na minha vida.
E que ia bagunçar tudo.
Memórias e mais memórias de meus momentos com ele retornam.
Elas retornam.
E tudo parece tão mais triste.
Tão mais triste.
Olho para sua mão direita e prendo meu mindinho no seu.
Mas eu não posso fazer uma promessa.
Igual quando ele fez.
Eu não posso, pois não sei se sairei viva daqui.
Eu não sei.
E as lágrimas retornam.
Mesmo que com pouca intensidade.
Não olho para o lado.
Não olho para o outro corpo.
Fito apenas sua mão.
E aperto com mais força meu mindinho no seu.
Eu gostaria que seus belos olhos azuis estivessem aqui.
Como estavam naquele dia de chuva.
Ou em qualquer outro dia em que eles brilhavam de felicidade.
Eu gostaria de encará-los mais uma vez.
Então fito seus olhos fechados.
Imaginando-os como se estivesse feliz.
- A-a-adeus...
Uma despedida tão simples.
Tão simples.
Mesmo eu sabendo que ele ficaria feliz apenas com isso.
Ele merecia mais.
Mas eu não consigo.
Eu não consigo dizer o quanto ele foi importante para mim.
Durante todos esses anos em que ele esteve ao meu lado...
Eu não consigo por em palavras o quanto seu sorriso me fazia bem.
Não consigo dizer o quanto eu gostaria de vê-lo sorrir de novo.
Isso dói.
Tanto.

"-Você Promete? Promete que vai continuar sendo meu amigo? Promete que nunca vai me abandonar?
-Eu prometo, Mel. Mesmo se o mundo inteiro se virasse contra você. Então seríamos eu e você contra o mundo."




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