Capítulo 7

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"É aterrorizante o fato dela saber o meu nome...
E é aterrorizante pensar em quais meios ela pode ter usado para descobrir."

Eu não quero me virar.
Eu não quero.
E estou com tanto medo.
Tanto medo.
Ela está tão perto.
Ela está tão perto.
Está tão perto.
Eu não quero me virar.
"Não a encare."
Eu não devo olhar para ela.
E não posso olhar para ela.
Não quero olhar para ela.
- Melanie...
Sua voz é como um sussurro.
Um sussurro misturado ao vento.
Vento que eu não sei de onde veio.
Está ventando.
E está frio.
Tão frio.
Quando esfriou tanto?
Minhas pernas bambeam.
Não só pelo frio.
Mas também pelo medo.
Principalmente pelo medo.
E estou tremendo.
Minha visão fica turva.
E tudo parece mais escuro.
Não vejo mais que alguns palmos à minha frente.
Mas sei que se eu virar eu vou poder vê-la.
Eu não quero vê-la.
E eu caio.
Eu caio de joelhos mais uma vez.
E eles ardem ainda mais.
- Melanie
"Não a escute."
Não é para eu prestar atenção no que ela fala.
Eu não devo prestar atenção.
Não é para eu escutar.
Mas até mesmo sua voz me dá medo.
Sua voz me dá tanto medo.
Tanto medo.
- Me-la-nie.
Uma longa pausa entre cada sílaba de meu nome.
Ela parece se deliciar com ele.
E posso jurar que ela está sorrindo.
Eu não posso sentir medo.
Eu não posso sentir medo.
Eu não posso sentir medo.
Mas é tão difícil.
Tão difícil.
E já estou com tanto medo.
Tanto medo.
-Me
Ela está se aproximando.
-La
Ela está se aproximando.
-Nie
Escuto ela pisando sobre o primeiro degrau.
E a tábua range.
A tábua range.
O primeiro barulho que escuto.
E que não vem dela.
Escuto ela subindo o segundo.
Três.
E subindo.
Um.
Dois.
Três.
Um.
Dois.
Três.
Um.
Dois.
E agora ela está tão perto.
Tão perto.
Eu posso escutar.
Eu posso escutar o barulho de tecido roçando em sua pele.
Mais um passo.
Mas não emite mais barulho.
Qualquer que esse devesse ser.
Tudo ficou tão quieto.
Tão quieto.
Pisco os olhos para afastar o leve marejar.
E ela está aqui.
Ela está aqui.
Na minha frente.
Olhando para mim.
Ela está olhando para mim.
Que ela não me encoste.
Que ela não me encoste.
Não me encoste.
Ela usa uma espécie de blusa comprida.
Uma espécie de blusa comprida e branca.
Mas não tão branca quanto sua pele.
Não tão branca quanto seus olhos.
Mas incrivelmente limpa.
Ela estica sua mão branca.
Ela estica em minha direção.
Em direção ao meu rosto.
E passa as costas de sua mão na minha bochecha.
Eu estou chorando.
Estou chorando.
Pânico está tomando conta de mim.
Meus olhos sozinhos encontram os seus.
Eu não quero encara-la.
Eu não quero.
Mas eu encaro.
E vejo seus olhos perolados mais uma vez.
Vejo seu rosto nítido.
Mesmo que minha visão fosse para ser embaçada.
Mesmo que fosse para ser.
Posso ver fios negros de seu cabelo sobre seu rosto.
Seu cabelo é incrivelmente comprido.
Só não mais comprido que a blusa
E tem mais algo.
Tem mais algo.
Eu posso ver algo em sua cabeça.
Minha cabeça dói.
Tento desviar meus olhos dela.
Mas ela puxa meu queixo.
Ela me força encara-la.
Ela me força encara-la.
E meus olhos se prendem à sua cabeça.
Ao que está nela.
Me sinto tonta.
E vejo-a sorrir.
De orelha a orelha.
Estou com tanto medo.
Tanto medo.
Tudo começa a girar.
O frio envolve meu corpo.
E sou lançada ao breu mais uma vez.
Mesmo que eu ainda consiga vê-los.
Seus chifres.
Demônio.

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