O Primeiro da Cidade

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Ouviu falar que o primeiro da cidade que virou Coisa, foi ao hospital com uma mordida inflamada e convulsões sem explicação. Quando exposto à luz solar, as crises não ocorriam. Então pega a criança no braço e a leva pra fora, na esperança de que o Sol cesse a agonia.

O sol ainda não nasceu, mas falta pouco, deita-o no chão senta ao lado e espera.

Enquanto assiste o garoto sua mente divaga na história do primeiro da cidade. Teme que seja real e que o pobre rapaz sofra tanto quanto ele. Uma semana depois de dar entrada no hospital, além das convulsões se coçava por inteiro arrancando fios de cabelo e pedaços de si até expor seus músculos de onde escorria uma gosma preta, continuava cavando até encontrar os ossos. Suplicava em gritos insanos que tirassem algo de dentro dele. A maior parte do tempo estava sedado. Os hospitais das cidades mais desenvolvidas recusaram o paciente. Uma noite uma crise muito forte atacou, os sedativos não faziam efeito e seu coração batia em um ritmo irregular e frenético. Esforçaram-se para impedir sua morte, mas não foi possível. Seu coração parou e declararam óbito. Foi um alívio. Na sala não se ouvia nenhuma voz humana, apenas os gemidos das máquinas anunciando o fim da situação deprimente que simpatizou a todos da cidade.

O silêncio profundo que pairava foi bruscamente cortado por um grito surpreso de alerta. O paciente respirava ofegantemente sem pulso. Seus olhos totalmente brancos. Batia e cerrava seus dentes com uma força sobrenatural. Se movia como se buscasse força pra levantar. Num desses movimentos cai da mesa de bruços no chão. Confusos os médicos aproximam-se em auxílio. Levantam-no e antes que pudessem pô-lo novamente na mesa são atacados. O homem que fora paciente deixou aquele corpo junto com seus batimentos cardíacos, o que habitava ali agora era uma das Coisas.

Não deseja isso ao garoto, e se não conseguir fazer nada, terá que matá-lo.

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