O Túnel

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Aos poucos uma dor de cabeça incomoda-lhe, seus olhos abrem sem receber luz, seus dedos e juntas doem de frio, seu rosto está encostado numa poça gelada e sua força está reduzida. Confuso, ergue-se trêmulo e tenta recordar o que acontecera. Já de pé lembra do menino, do grito e da queda. Encostando os dedos no supercílio descobre um sangramento. Se pergunta quanto tempo esteve desacordado e qual direção deve seguir para sair. Pensa resistentemente em acender uma vela, para analisar melhor o caminho, pois talvez haja alguma pista, algo que indique uma direção. Mesmo com receio de acordar as Criaturas, tira uma vela e fósforos da bolsa e acende.

A chama inicia minúscula e se expande lentamente até sua luz dar uma visibilidade de quase cinco metros. O ambiente tem uma neblina fina e sucata por todos os lados num túnel que parece ter sido pensado e projetado. A vela é a única fonte de calor existente, o restante do local é de um frio intenso e doloroso. Encontra-se com uma das passagens a direita e outra a esquerda que dão ambas para um desconhecido sombrio. As paredes repelem-se da chama da vela se expandindo onde a luz toca como se um ímã as empurrasse. Ignora completamente este fato julgando ser ilusão. Observando o chão vê à sua esquerda uma poça pequena de sangue com seu rosto carimbado e o aro de algum carro onde tropeçou. Deduz então que a saída é para o lado oposto e caminha depressa buscando minimizar o momento de agonia.

Minutos depois à sua frente o túnel torna-se corredor novamente, almeja estar perto do banheiro. Repentinamente a sucata produz um som ensurdecedor, o lugar vibra por completo e do fim do túnel um frio intenso e gelado acerta seu corpo como um soco nas costas. Volta o olhar para trás e nada se revela, sabe que algo está prestes a acontecer. Prepara sua besta e caminha lentamente para fora do túnel sem tirar os olhos nem a besta apontados para a escuridão.

A vibração e o barulho se tornam mais intensos, a sucata do teto solta pequenos objetos, tudo se move como se tivesse vida.  Algo surge correndo da escuridão. Por pouco não atira novamente na criança que passa correndo apavorada ignorando-o completamente. Sente a necessidade de correr junto ao garoto, mas algo o congela. Observa a escuridão esperando o motivo da fuga do pequeno. Vê saindo do túnel uma criatura demoníaca que um dia já foi humana. Sem roupa, com pele enrugada e com falhas expondo alguns músculos e ossos, dentes à mostra com uma espuma preta escorrendo da boca e uma expressão de ódio desumana. Movendo-se como um animal quadrúpede a Coisa se assusta com a luz, recebe uma flecha no braço e derrapa  no chão sujo, o que dá margem para fuga. Aproveita a oportunidade e corre o mais veloz que consegue, alcança o garoto que resiste, mas se acalma ao receber sinais de conforto. A vela apaga-se e o breu toma de conta novamente.

Com uma criança ferida na perna, a criatura aproximando-se em velocidade e completa falta de visão, o futuro não parece agradável. Não adiantaria esconderem-se, o odor dos sangramentos denunciariam suas localizações. Seguindo pelo corredor o mais rápido que for possível a coisa os alcançaria fácil. Mas é sua melhor chance.

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