Os dias passaram rapidamente. Meus pais estranhavam a minha ausência com eles, mas entendiam que Dylan precisava de apoio. Todas as tardes passava ao lado dele, tentando fazê-lo esquecer as coisas por um momento. Depois de um tempo com a minha insistência, ele se rendeu e aceitou dar uma volta no jardim, e isso foi se repetindo até seu sofrimento diminuir. Um pouco, pelo menos. Eu me esforçava ao máximo para fazer com que ele se sinta confortado para ser consolado, e acho que isso ajudou sua dor diminuir. Aos poucos, fui recuperando o Dylan que eu conhecia. Um dia desses, quando eu estava caminhando no jardim, o vi olhando distraído para um aliança. A minha aliança. Antes que ele pudesse notar que o observei, fui embora silenciosamente. Pela primeira vez, hoje sairíamos da propriedade. Combinamos ver um filme, e eu escolhi uma saia preta esfumaçante e uma blusinha branca. Sai no corredor e bati na porta do quarto de Dylan.
- Já tá pronto?
Ele abriu a porta e deu um giro.
- Que tal?
Dei um sorrisinho.
- Você não está nada mal.
E não estava mesmo: trajava uma roupa social amarela e calças pretas. Seu cabelo estava arrumado, pela primeira vez.
- E você está linda, como sempre.
Eu senti um súbito desconforto. Um calor percorreu meu corpo.
- Vamos?
- Ãhm... sim, claro!
Ele me envolveu pelos dedos e um calafrio percorreu minha espinha. Eu realmente não poderia ficar perto dele sem pensar em... certas coisas.
- E aí? Tá tudo bem?- eu mal perguntei quando percebi que fui muito idiota.
- Sim, se você tirasse os últimos acontecimentos.
Merda!
- Desculpa, eu não quis...
- Tudo bem.
Andamos até a sombra de a árvore que possuía uma densa copa. O horário do cinema ainda estava longe.
- E o cachorro... como ele está?
- Ah, ele tá bem.
Um silêncio desconfortável.
- Desculpe por ter sido um imbecil com você esses dias... Primeiro o negócio da sua família, que eu te garanto que não vai acontecer. Depois eu bebo feito um condenado e te trato mal. É só que eu... gosto muito de você. E não acho que eu te mereça, então qualquer um que se aproxima de você é meu inimigo.
Eu fiquei atônita. Não sabia como reagir.
- Eu... Não sei o que dizer.
- Só diga que me perdoa.
- Claro que te perdoo. Mas eu realmente... isso não é para mim. Esse lugar.
- O que você quer dizer? – perguntou ele, nervoso.
- Eu não acho que dará certo. Essa coisa toda de casamento.
Ele parecia devastado.
- Mas...
- Eu só não estou preparada!- disse, medindo as palavras.- Acontecei tanta coisa nesses dias que... eu realmente preciso por minha cabeça no lugar. Desculpa.
Ele estava em pânico.
- Tudo bem. Você... sei lá... você escolhe o que quiser. Sabe. Ok. A gente se vê, então.
E num impasse, ele sumiu pela floresta.. Eu me sentei no chão e comecei a chorar. Porque eu simplesmente não aceitei me casar com ele? Por que as coisas não podiam ser mais fáceis?
- O que alguém tão linda como você faz sozinha aqui?
Virei para trás com espanto. Um cara que aparentava seus quarenta me observava com um sorriso malicioso.
- Não, o Dylan veio comigo.
- O príncipe Dylan?
- Ele mesmo.
- Poxa. Não estou vendo ele aqui. Na verdade, não estou vendo ninguém aqui.
- E daí? Isso não te interessa.- estava ficando muito nervosa.
- Pelo contrário. Me interessa. E muito.
Com espanto, observei ele caminhando em minha direção. Comecei a correr, porém ele me alcançou.
- Onde pensa que vai?- suas mãos agarraram firmemente meus braços.
- Me solta, porra!- tentei me debater, mas ele me segurava firmemente.
Ele exalava álcool e mais alguma coisa, sua aparência era suja. Ele me apertou contra uma árvore, e para meu nojo, foi chegando cada vez mais perto. Eu gritava tanto que provavelmente ficaria rouca.
- Seja boazinha que acaba logo.
Então ele pressionou seu corpo contra o meu, colocou sua boca nojenta em meus lábios tentando penetrar minha boca. Eu mordi seu lábio, na tentativa de afasta-lo, mas isso só o deixou mais raivoso. Ele me jogou no chão, desferindo um soco na minha cara, e começou a puxar minha roupa.
- Lily! – ouvi Dylan gritar.
O homem se levantou, tentou correr, porém Dylan o alcançou, e começaram a distribuir socos. Dylan jogou o idiota no chão e bateu tanto nele que seu rosto estava sangrando. Quando o homem não podia mais levantar, Dylan veio em minha direção, os olhos aflitos, buscando algum sinal de dor. Ele percorreu os olhos sobre meu corpo, e vendo minhas roupas, soltou um suspiro, aliviado. Porém, seus olhos pararam em meus lábios inchados, e uma raiva homicida tomou conta dele. Ele estava relutante em ir bater mais no corpo jogado no chão do cara, gemendo de dor, ou ir me ajudar. No fim, ele acabou indo em meu encontro.
- Droga. Desculpa. Não deveria ter te deixado sozinha!
Ele me pegou no colo e olhou para o guarda que chegava.
- Prenda esse desgraçado e se segure que ele fique na cadeia por no mínimo vinte anos.
- Sim, majestade.
Ele me olhou por um momento, relutante no que fazer.
- Você tá bem? – fez uma voz carinhosa.
Dei de ombros.
Ele suspirou.
- Desculpa! Desculpa, desculpa, desculpa!
- Tá.
- Eu... Você quer que eu fique aqui com você?- ele perguntou quando chegamos no meu quarto.
- Não precisa se dar o trabalho.
E assim, depois de me olhar magoado, saiu do quarto sem falar nada.
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Casamento Arranjado
RomanceLily tem apenas dezenove anos e já tem que arcar com as imposições que é recebida por ser princesa. Seus pais andam forçando a barra para ela se casar com o príncipe Dylan (o lindo!) mas ele parece ser mulherengo, safado... Para convencer a filha a...