New Light - Do Apocalipse ao Armagedom

Hendrick, O Anjo Renegado

Em uma casa na Terra, uma jovem menina e um anjo conversavam.

– Escute bem, garota. Vou te contar algo, mas quero que você leve como um segredo por toda a sua vida...

O anjo andava em círculos no quarto, se perguntando se aquilo era a coisa certa a se fazer, se algo mudaria ao contar o destino do mundo para uma criança. Talvez tivesse esperança de que ela crescesse e se tornasse um anjo. Ou que ela se afastasse de toda a guerra e morte que ocorria ao seu redor. A menina admirava suas asas enquanto esperava o que o anjo tinha a dizer, já estava acostumada em vê-lo aflito e pensativo.

– Eu sou seu anjo da guarda, mas algo muito ruim aconteceu quando anjos diferentes...Anjos maus decidiram se rebelar. Um grande mal está vindo e eu quero que você e sua família se protejam, então juro que darei tudo de mim para poder estar com você, então...Aqui. – O anjo entregou a ela um broche feito inteiramente de ouro, com asas gravadas nele. – Quando sentir que está em perigo, quando precisar da minha ajuda...Toque o broche, e eu virei até aqui. Eu te amo. - O anjo deu um beijo na testa da menina e subitamente sumiu do quarto, levantando papéis e outros objetos para o ar.

Um grande mal estava por vir, o anjo tinha previsto. Haviam muitos conflitos ocorrendo no Céu, boatos de anjos interrogando, torturando, matando outros. Tudo apontava que alguém tentaria usurpar o lugar de Deus, mas quem seria louco o bastante para tal? Os Arcanjos protegiam o trono desde o fim do sétimo dia, quando Ele terminou a criação da Terra e tudo que existe, logo depois se ausentando do universo de todos. Então, quem desafiava os Arcanjos, os anjos mais poderosos da criação divina? Ele ainda não sabia, mas descobriria naquela noite.

Miguel havia convocado vários anjos para uma reunião, ninguém sabia ao certo o assunto mas obedeceram, afinal, ele era um Arcanjo. Todos comentavam sobre os rebeldes que estavam surgindo, se perguntando se eram eles quem tentavam usurpar o trono de Deus. O anjo, um Hashmalin, continuava preocupado com a menina, mas tentou desviar seu pensamento e focar no que estava acontecendo. Hashmalins são conhecidos por ter um ódio mortal dos humanos e estarem na Gehenna, o Purgatório, onde as almas eram julgadas; eles eram como juízes, mas esse anjo era diferente, não nutria raiva pelos mortais, muito pelo contrário, chegou a quebrar regras para se tornar protetor de um deles.

Miguel chegou no local com sua lança na mão esquerda, uma arma flamejante e dourada derivada da espada que todos os Arcanjos possuem, das quais suas chamas foram usadas para selar o Éden. Acompanhado de outros anjos, Miguel começou a massacrar seus irmãos, enquanto os aliados do Arcanjo formavam uma barreira impedindo que eles escapassem. O Hashmalin não entendia o que estava acontecendo, lutou contra dois anjos e os matou, não por maldade ou por vingança a seus companheiros que estavam sendo mortos, e sim por sobrevivência. Ele finalmente viu um caminho livre e tentou fugir, abriu suas grandes asas e voou o mais longe possível, porém Miguel não permitiria a fuga de nenhuma testemunha. Uma batalha foi travada entre o Hashmalin e o Arcanjo.

– Irmão...Por quê? – Disse o Hashmalin enquanto encarava Miguel nos olhos. Ele carregava um enorme machado em suas costas e era tão poderoso que, ao puxá-lo, conseguia usar com apenas uma mão sem se importar com o peso.

– É tudo pela evolução de nossa raça! Você não percebe? Nosso pai nos fez para servir os homens de barro, seres inferiores a nós, que nem sequer ligam pra própria vida! Eles roubam, matam, mentem uns para os outros a troco de uma vida curta! Eu me cansei de servir a seres tão...Estúpidos. Hipócritas. Fracos. – Miguel ergueu a lança flamejante na direção do anjo. – Você está comigo, ou contra mim?

– Eu fui criado por Deus, nasci para servi-lo, e não vou parar até que meu trabalho esteja completo! – O anjo partiu para cima de Miguel.

A batalha ocorreu no céu. A cada toque da lança de Miguel em algo sólido, um trovão era invocado. Na Terra, um vendaval catastrófico caía sem cessar. O anjo acertou a armadura de Miguel, mas não houve sequer um arranhão, ele recuou sem saber o que fazer.