Humanos e Teorias

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Uma pesada chuva caía sobre os heróis, escondendo suas lágrimas. A dor de perder alguém é imensurável, seja por distanciamento, seja por conflitos, seja por morte. Hendrick, o Baal e Hashmalin, havia marcado a vida deles e deixado várias dívidas. Crowley se perguntava como ficaria Alice, sua protegida. Alucard duvidava do potencial da Rebelião de Gabriel, agora sem um de seus melhores soldados. Netero não aguentava mais perder pessoas ao seu redor. Aos poucos, os heróis pensavam sobre o que Sky havia dito, se realmente valia a pena lutar por aquilo. De qualquer forma, eles não mudaram de ideia naquele dia. Talvez, no futuro, seus olhos seriam abertos para a realidade.

Kira tentava reanimar Hendrick fazendo pressão em seu peito, mas já era tarde.

– Não adianta... – Dizia Alucard, com os cabelos encobrindo seu rosto. – O corpo dele está muito mal. Já perdeu muito sangue, os ossos e órgãos foram praticamente triturados, não tem mais nenhuma força vital... – Cada palavra proferida acertava a todos como um soco no estômago, era doloroso ouvir aquilo. Alucard olhou para o céu enquanto lágrimas rolavam e as íris de seus olhos se tornavam cada vez mais avermelhadas. – A alma dele, já está subindo.

Perto do corpo de Hendrick, um órgão se contraía. O coração de Molag pulsava como se o mesmo ainda estivesse vivo. O som era irritante e perturbador, não como uma pulsação normal, e sim como algo se apertando, tentando encontrar espaço em si mesmo. Netero, cansado de ouvir aquilo, caminhou até o coração e o esmagou com suas mãos. Um sangue laranja e brilhante espirrou para todos os lados, cobrindo o monge e sujando os outros. Além da excreção, a própria corrupção se espalhou. Era como uma tinta negra, espessa e asquerosa. Ao ser liberada no ar, a mesma flutuou por alguns estantes, porém logo se reuniu num único ponto onde brilhou em uma luz roxa e explodiu, deixando de existir. Aos poucos, o corpo de Hendrick começou a se desfazer em cinzas, como acontece com a morte de qualquer demônio, porém ao mesmo tempo se enchia de luz, como a morte de qualquer anjo. Ele morreu como os dois, de uma forma única e nova porém mesmo assim, era só mais um naquele imenso universo.

– Vocês conseguiram... – Disse Gabriel, pelo comunicador.

– Mas a que preço? – Perguntou Alucard, retoricamente, enquanto se levantava e limpava o sangue do Escolhido de suas vestes. – Se quiser vir conosco, Rolf...

– Você, seu desgraçado... – Netero pegou o comunicador de Alucard. – Você está nos matando lentamente! Nos mandando em missões suicidas, vê agora o resultado? Pelo menos sente a consequência de seus atos?!

– Se não querem mais fazer isso, sigam o conselho de Sky e desistam. – A voz de Gabriel soava com um pesar. Ele não queria dizer aquilo, mas era necessário.

– Às vezes, realmente penso em desistir, porém não posso. – Netero se limpou e caminhou em direção ao Cadillac, os outros o seguiram. – Mas saiba de uma coisa. Quando tudo isso acabar, e eu tiver certeza que todos estão salvos, eu vou até você, e irei matar você.

– Ah...Sei que vocês têm muito a dizer, mas por favor, me escutem... – A voz de Gabriel foi interferida por vários chiados, até que o comunicador se desligou.

Com o silêncio que se fez, os heróis resolveram voltar para o carro. Os equipamentos de Hendrick foram levados ao porta malas. Alucard dirigiu pela fria e vazia estrada, ninguém disse nada no caminho. Ao passarem pela oficina de Lisa e Hansel, viram o comum prédio abandonado e fantasmagórico, e o carro continuou em silêncio. Ao chegarem no hotel Cairo, a música já não era mais tão animadora. As bebidas perderam o gosto. A tristeza os assolou. A iluminação do bar agora era um azul claro como água do mar.

– Eu vou subir... – Disse Alucard, enquanto seguia para as escadas que levavam até o quarto. Ao chegar se jogou na cama, depois colocando o comunicador ao seu lado.

New Light - Do Apocalipse ao ArmagedomOnde histórias criam vida. Descubra agora