Chegamos na famosa Lapa. Uma das regiões mais antigas da cidade do Rio de Janeiro, hoje é o point de animação da noite carioca. Vários bares com música ao vivo, muitas pessoas no meio de um grande pátio com a estrutura por onde passavam os bondes e trens ao fundo. Para nossa surpresa há um pequeno palco montado em frente aos grandes arcos símbolos do lugar, nele uma banda puxa o que acredito serem canções famosas. Conversando com algumas pessoas descobrimos que o palco na verdade faz parte de um projeto cultural que leva grandes artistas da MPB para apresentações gratuitas ao ar livre. A noite promete, ainda bem que vim de sandálias rasteiras.
A tensão do telefonema agora é passado. Resolvi aproveitar o momento, mas sem criar expectativas. Segunda tudo volta para o seu devido lugar, mas hoje eu apenas quero curtir a noite, dançar, comer, beber e para terminar com chave de ouro, matar Ian na cama.
Circulamos um pouco para ver o movimento e nos acomodamos em um bar um pouco mais distante cujas mesas estão dispostas na calçada. Assim podemos aproveitar o que rola no palco sem precisar ir para o meio da muvuca.
— Cerveja Elena?
— Sim, por favor.
A garçonete se locomove em nossa direção em cima de sandálias de saltos largos e altíssimos, seu gingado natural faz parecer que ao invés de caminhar a menina dança por entre as mesas. Uma bela morena, digna de ser passista de escola de samba. Que por sinal, descobrimos que é função para lá de glamourosa por aqui. Top e shortinho acomodando seios fartos, tamanho quarenta e seis ou quarenta e oito eu diria. Cintura fina, abdômen trabalhado ostentando um piercing em formato de esfera brilhante no umbigo, coxas grossas com músculos rígidos de muita malhação e a famosa bunda brasileira. Para fechar com bônus, um largo sorriso de dentes brancos perfeitamente alinhados emoldurados por lábios grossos e carnudos. Porra, que mulher! Fico impressionada, Ian também. Mal consegue disfarçar a avaliação minuciosa que faz da moça. Apesar de notar, a situação mais me diverte do que incomoda.
— Olá! Sou Clara e vou atender vocês. Como hoje está muito cheio estamos trabalhando com comandas nominais. Qual os nomes por favor?
Durante a noite de ontem e todo dia de hoje, uma dinâmica predominou em nossas atividades. Ian detesta se sentir excluído das conversas, mesmo das que ocorrem em português. Com isso praticamente impôs que antes de responder ou dar continuidade a qualquer conversa, tenho que traduzir para ele o que está sendo dito.
Assim que termino de traduzir a fala da garçonete e vou me dirigir a ela, Ian me atropela com um português muito precário respondendo a simpática moça com um largo sorriso que faz a morena se encabular. É, eu sei bem o quanto ele consegue desarmar alguém com essa cara de safado. Oh se sei!
— Sr. E Sra. Clarkson.
Eu não acredito no que acabei de escutar. Vamos combinar que ele abusa do direito, e muito!
Já na segunda cerveja da noite a banda que não conhecemos termina sua apresentação e uma cantora assume o palco. O ritmo é o samba, ela tem uma voz macia, daquelas que acalma batidas cardíacas galopantes. Acabo não resistindo aos acordes contagiantes e me levanto para dançar. Ian fica me observando com admiração e choque. A cantora de voz doce narra uma desventura amorosa com uma batida contagiante enquanto canta que perdoa seu amor.
Lá vai o criador e suas piadas. Mas no momento estou mais interessada em deixar a batida me levar. Rapidamente aparece um jovem negro como ébano, cabeça raspada, ombros largos, deve ter na casa dos um e noventa e poucos de altura, nem forte nem magro, mas exalando simpatia. Ele começa a dançar comigo, fazendo das mãos um pandeiro improvisado, eu deixo a música me levar. O vestido é longo, para não atrapalhar seguro o meio da saia dos dois lados e suspendo. Lances de minhas panturrilhas e parte baixa das coxas são dados à medida em que sambo inclinando o corpo para frente e dando giros em torno de mim mesma. A sensação é tão boa que não consigo parar de rir.
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Mundo Nada Ordinário - Série Garota Ordinária (Livro 2)
RomanceApós meses brincando de gato e rato Ian e Elena estão cada vez mais perdidos em meio aos sentimentos que nutrem um pelo outro e as características nocivas de suas personalidades. A força da química que os mantêm juntos parece não ser suficiente para...