4 SEM MÁSCARAS - Part 1

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Ele continua me observando sem dizer nada. Até que o silêncio é quebrado.

As coisas não precisam voltar a serem frias e distantes.

Ergo uma sobrancelha e o encaro com expressão de descrença. Fecho o computador, apesar de minha vontade abissal de ler um e-mail do Isaac que acabou de aparecer em Minha caixa de entrada. Vamos jogar seu jogo Ian!

— E como elas devem ser na sua opinião?

— Elena, nós temos algo, e você sabe. Eu vi no fundo dos seus olhos. Vamos tentar alinhar as coisas. Em dois anos conseguiremos estabelecer as bases para um relacionamento sólido e sadio. Aí assumimos nossa relação para os outros. Por que não nos dá uma chance?

— E na sua versão de conto de fadas, no espaço de tempo que se desenrola até os dois anos se concluírem eu faço o que exatamente? Fico letargicamente enfeitando a cabeceira da sua cama, esperando você não estar com a Eva para me dar migalhas de sexo e algo similar a atenção? Você realmente acha que isto combina comigo? Nós nem nos conhecemos Ian. Eu não sei nada da sua vida, nem você da minha. Como isso poderia dar certo? Temos uma química monstruosa, mas isso é o que acontece quando se colocam dois predadores na mesma cama, e você sabe disto. Foi divertido, gostoso, mas o tempo do verbo que conjuga nós dois é passado Ian. Aceite isso.

E pela expressão facial dele, lá vem aquela explosão de fúria comum aos momentos em que faço ele encarar o fato de que isto não tem como ter um futuro.

— Alto lá! Você sabe muito bem que se tem alguém vivendo a base de migalhas nesta estória toda, não é você.

— E essa coisa de não conheço você? Quem disse? Posso não saber os detalhes da sua vida, mas lhe conheço muito mais do que qualquer outra pessoa com quem já tive um relacionamento, e infinitamente mais do que você acha que a conheço. Você, não sabe de mim apenas o que não quer. Pergunte, demonstre interesse por mim. Se permita, pare de ter medo de mim. E por favor, pare de nos comparar aos outros. Nem em um milhão de anos o que acontece entre a gente séria "comum".

Medo? Essa foi boa! Balanço a cabeça como forma de demonstrar que aquilo tudo é inútil. Mas ele não desiste.

— Você já parou para pensar como é descobrir que o seu herói é na verdade o bicho papão da estória? Que sua família é apenas uma fachada e que qualquer fio dental com perfume barato faz o cara que deveria ser o seu exemplo de figura paterna e protetora da família mais feliz que a companhia da sua mãe você e seu irmão?

E o que exatamente eu tenho haver com isso?

Bem, isto sou eu. E só sei ser assim. Mas estou disposto a tentar mudar para ficar com você. Só que eu preciso de um gesto de boa vontade da sua parte, porque eu sei que você é tão predadora quanto eu, e não vou mergulhar de cabeça sozinho. A queda é muito alta Elena, só vou me arriscar a pular se souber que você está pulando comigo.

Eu quero dar corda a essa loucura dele? Será que quero mesmo saber onde esse raciocínio distorcido vai dar?

— E o que exatamente você chama de um gesto de boa vontade?

— Concorde em me esperar. E não, você não vai ficar de enfeite na minha cabeceira. Mesmo a ideia sendo absurdamente tentadora, devo admitir.

Ele rir com malicia. Depois o silêncio se instaura novamente. Retorno para minha cerveja disposta a encerrar o assunto. Isto nunca chegará em lugar nenhum!

— Meu sonho de criança era ser piloto.

Numa virada brusca de direção, ele retoma a conversa com uma abordagem totalmente diferente. Onde ele quer chegar?

Mundo Nada Ordinário - Série Garota Ordinária (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora