Estou para lá de satisfeito com meu pequeno ato de rebeldia. Agora é só rezar para ela não surtar quando descobrir. Vou até o minibar e pego uma garrafa de água, sirvo dois copos. Deposito um ao lado dela, na mesinha de cabeceira da cama, depois de tudo que fizemos ela acordará com sede. Com o segundo caminho de volta até o que posso chamar de minha cadeira predileta em todo o planeta. Sento e a observo, tranquila e delicada enquanto dorme. Uma mistura de santo e profano compõe a cena, isso me faz refletir que está com ela é exatamente isso. Oscilar entre subir aos céus e descer ao inferno. Ai Elena, meu fascínio por este jogo perigoso só aumenta. Fico embevecido por entre as muitas memórias que já temos. A reunião de ex alunos, a noite do basquete, a primeira briga, o dia da morte do meu pai, ontem, enfim, são muitos momentos de intenso significado afetivo que me transformam num pequeno inseto preso em uma grande teia que é nosso relacionamento.
≈
Um branco toma conta da minha mente. Cai no sono tão exausta que nem senti. O corpo está levemente dolorido e entre abro um dos olhos com muita dificuldade. Só então me vem à mente um flash do final da noite anterior. Ian saindo de cima de mim, enquanto me acomodo de barriga para baixo com uma perna esticada e a outra encolhida em um ângulo de noventa graus. Ele se acomodando ao meu lado, pousando uma das suas pernas entre as minhas, passando um dos braços na Minha cintura e descansando o rosto próximo a parte de trás da minha cabeça. Ele dormiu aqui! Será? Com muita dificuldade giro o rosto para o outro lado e fito a cama vazia. Súbita e curiosamente me flagro sentindo um baque no fundo da alma com a possibilidade de ele ter ido embora no meio da noite. É então que escuto uma voz rouca
— Estou aqui.
Levando a cabeça e não vejo nada. Giro-a de volta ao lado original e o vejo, sentado só de cueca boxer na cadeira que utilizei para dar meu showzinho, um copo vazio está apoiado na mesa um pouco mais atrás. Ele estava bebendo a está hora?
— Bom dia!
— Boa tarde!
— Como assim boa tarde? Temos um voo as onze horas, nem brinque com uma coisa dessas.
— Tínhamos um voo as onze horas porque eu acordei a uma hora atrás e já eram 11:15.
Dou um pulo da cama para alcançar o celular e lá está o relógio marcando meio dia e vinte e três.
— Caralho!
— Calma Figura! Já pedi para minha secretária remarcar nosso voo para amanhã no meio da tarde.
— Não tinha vaga para hoje?
— Não sei. Achei melhor marcar para amanhã à tarde que assim podemos ir a essa tal de Lapa que tanto comentaram ontem sem correr o risco de perder outro voo.
— Ian! Não estou sozinha em Recife. Passar o final de semana com você no Rio vai chamar atenção da minha funcionária.
— É só dizer que perdemos o voo e não tinha vaga antes.
Me jogo com tudo de costas na cama e levanto os braços em protesto.
Ele parece se divertir com a cena. Não sei se estou feliz ou irritada, sua voz interrompe minha autoanálise.
— Você se nina.
— Oi?
Levanto o corpo novamente para interrogar a informação proferida.
— Você se nina quando está dormindo. Eu vi. É uma graça.
— Não tinha nada para fazer não?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mundo Nada Ordinário - Série Garota Ordinária (Livro 2)
RomanceApós meses brincando de gato e rato Ian e Elena estão cada vez mais perdidos em meio aos sentimentos que nutrem um pelo outro e as características nocivas de suas personalidades. A força da química que os mantêm juntos parece não ser suficiente para...