10 AÇÕES E REAÇÕES

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Eu não acredito! Como ela pode?

Depois de tudo.

É por isso. Por isso que não largo Eva. Elena não muda, nem sequer tenta fingir o contrário.

Um sentimento primal e instintivo toma conta de mim. Sinto a descarga de adrenalina pulsando em minhas veias a medida em que espasmos agitam minha musculatura. Sou capaz de dizer que todo meu corpo entrou em colapso. Um colapso chamado Elena. A vontade é de reservar o primeiro voo para o Brasil é ir busca-la. Arrasta-la pré-historicamente pelos poucos cabelos que restam naquela cabeça teimosa. Mas nem isso posso fazer.

Ah inferno!

Nessa hora me levanto da cadeira e começo a passear pelo escritório tentando conter essa enxurrada de sensações nada agradáveis. Coço a cabeça, esfrego as mãos nas pernas. Não funciona muito. Preciso colocar para fora. Preciso parti-lá ao meio assim como ela está me partindo.

Raios que ódio!

Em um acesso intempestivo giro de frente para minha mesa apoio as mãos paralelamente uma a outra no lado direito, de forma que cubro quase toda a extensão de seu tampo e com um grito gutural de raiva arremesso tudo como uma avalanche no lado oposto. Pareço um rolo compressor esmagando e jogando tudo fora.

O barulho é tão alto que chama a atenção de minha secretária e outras pessoas em salas próximas. Sei disto porque antes mesmo de me desapoiar da mesa Mary entra desesperada

— Está tudo bem Ian?

Um pequeno silvo de surpresa. É tudo que ela consegue emitir ao me ver de costas para a porta, punhos cerrados apoiados sobre o tampou da mesa, agora completamente vazio, e todas as minhas coisas espelhadas pelo chão.

Com muito esforço consigo emitir uma única frase trincada entre os dentes.

— Saia já daqui.

Torno a cabeça em sua direção, consigo ver olhares curiosos nos corredores, mas ninguém se atreve.

— Por favor! Agora.

— Sim senhor.

Quando ela está fechando a porta vejo Joshua se encaminhando em direção a minha sala. Ah não, não tenho estômago para isso agora. Bato no bolso e vejo que as chaves do carro estão dentro. Dou meia volta em torno de mim mesmo e saio batendo minha porta.

Josh me olha e tenta

— Ian, o...

— Agora não.

Ergo minha mão espalmada em sua direção num claro sinal de alerta. Preciso sair daqui.

Não acredito já está na hora das meninas voltarem. Deus como foi bom! Estamos no aeroporto de Recife aguardando para fazer o check in. Pela primeira vez desde que cheguei ao Brasil sinto uma pontada de tristeza. Ao contrário da maioria absoluta das pessoas, meu happy end não é a dois. São elas. E o Isaac. Queria que entendessem isso. Não preciso de um par. Preciso dos meus amigos, meu referencial. Isso sim me faz feliz.

— Elena, está aí algo que não vejo sempre. Você está com cara de boba sorrindo para o nada.

— Estou é? Aff!

— Pensou em quem?

— Em vocês. Pensando que desde que cheguei, essa é a primeira vez que lamento não estar indo embora. A separação de vocês. Não importa o quanto briguemos, vocês são meu referencial. O que dá um norte ao meu mundo. Sinto falta da presença de vocês até quando estão me enchendo o saco.

Mundo Nada Ordinário - Série Garota Ordinária (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora