Capítulo XIV

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Sorria!
Pois enquanto tiver nuvens no céu você irá conseguir.
Por isso sorria para sua tristesa e seu medo.
Smile- Charlie Chaplin


Pov. Léo

O relógio marcava sete horas em ponto da manhã, o clima estava gostoso, nem muito quente e nem muito frio. Cumprimentei os funcionários que encontrei no caminho até meu andar, assim que o elevador abriu as portas dei de cara com minha secretária.

-Bom dia senhor Watt. Saudou a sra. Palumbo.

Assenti com a cabeça na sua direção.

Falou já seguindo em direção a minha sala me acompanhando. Deixei meu notebook e pasta em cima da mesa e fui em direção a uma mesinha de canto, onde as senhoras da copa sempre deixavam café, leite, chá, água e alguns biscoitos. Assim, não precisava pedir a ninguém e me servia sempre que queria. E nesse momento uma xícara de café forte era meu maior desejo.

- Hoje o dia vai ser corrido pelo que vejo, Sra. González já chegou? Perguntei já com a xícara na mão levando a boca e tomando um longo gole. O calor e sabor descendo pela minha garganta me deixava quase que imediatamente relaxado.

Ela tinha me dado um cronograma com as atividades programadas para garantir que nada passasse por mim. Como uma espécie de reforço do cronograma.

- Sim senhor, ela se encontra no RH.

-Ótimo, assim que ela subir mostre a sua sala e lhe diga que guarde suas coisas e venha me encontrar. Hoje o dia vai ser longo e quanto antes começar melhor. Sentei e abri o notebook, ele já estava ligado e na página do projeto do sr. Bartolomeu, para não perder tempo já adiantei algumas coisas no caminho e queria finalizar ainda hoje.

- Será feito senhor, qualquer coisa estou na minha mesa, com licença.

Sra. Andrea Palumbo foi indicação de Liz, elas eram amigas desde a época da faculdade e apesar de ser uma indicação não me arrependo, ela sempre se mostrou uma excelente profissional.

Na próxima hora reorganizei todo trabalho enquanto aguardava minha nova arquiteta.

Uma batida suave me desperta e com um entre meu sra. González abriu a porta e se fez presente na minha sala espalhando seu cheiro de canela e banana pelo ar.

-Bom dia Sr. Watt . Sorriu ao me cumprimentar.

Sorri de volta mesmo sem querer, era algo automático. Quase impossível não corresponder.

-Bom dia Sra. González. Agora pela manhã vamos à obra do Bartolomeu. E isso é para você. Levantei lhe entregando as pastas com todo o material das outras obras. - Amanhã vamos nos reunir e já quero saber de suas ideias. Precisamos agilizar tudo porque o tempo está curto. Terminei já me levantando e organizando as coisas, precisamos sair.

Ela apenas assentiu.

Lhe ofereci um café, a mesma rejeitou e seguimos rumo ao carro.

Sra. González era uma mulher bonita. Não , bonita não, ela era uma mulher belíssima, e chamava atenção por onde passava. Era engraçado tanto quanto era irritante observar os homens e algumas mulheres virarem o pescoço para observá- la melhor.

Mas a mesma parecia não notar ou apenas ignorar porque não dava a entender se gostava ou não. Apenas seguia cumprimentando as pessoas com educação.

No carro eu pude notar sua ansiedade.

Era engraçado ver suas pernas balançavam freneticamente enquanto a mesma se perdia na leitura dos arquivos.

-Ansiosa? Perguntei a surpreendendo.

Não era muito de falar mas naquele momento senti essa necessidade.

- Muito, sempre fico na verdade quando inicio o novo trabalho. Mas esse é mais que especial. Quero honrar a lembrança da Sra. Cassandra. Sorriu

Seus olhos brilhavam de um jeito diferente quando falava do assunto.

Sra. González parecia uma que gostava de chamar atenção e explorava muito bem sua sensualidade mas a maioria de suas atitudes lembrava mais uma mulher feminina, delicada e uma romântica incurável. Ela era cheia de surpresas e nuances. E talvez, só talvez, isso não fosse ruim.

-Cassandra era uma mulher admirável, um ser humano ímpar. É triste ver Bartolomeu definhar na sua ausência. Foram 60 anos juntos. Nunca tiveram filhos, Bartolomeu nunca pode engravidar sua esposa mas não me lembro de ver Cassandra triste ao seu lado por isso mesmo sendo tão maternal. Ele está com quase 86 anos agora. E ela se fosse viva faria 82 anos. Uma perda lastimável. Confessei

Um amor assim poderia ser muito bonito mas esse fim era cruel demais no meu ponto de vista.

-Discordo senhor Watt, foram 60 anos de amor, cumplicidade, carinho e lembranças doces e calorosas. É triste não ter mais a presença física daquela pessoa, mas acredito que um amor assim vai além do físico. Virou na minha direção fechando as pastas.

- Sabe quantas pessoas podem falar que viveram 60 anos com o amor da sua vida? Pouquíssimas. O sr. Bartolomeu é um homem que amou e foi amado. Ele precisa se apegar a tudo que teve de maravilhoso com a sra. Cassandra.

Essa obra é importante demais para mim pois é através dela que a lembrança dessa mulher tão especial vai viver através de outras pessoas. Cada jovem e criança que dançar nesse centro será um pedaço do sonho da sra. Cassandra se tornando realidade. Ele é um privilegiado por carregar esse amor no peito. Sorriu emocionada.

Doce, intensa e única.

Esmeralda González, tinha algo peculiar. Algo doce e picante. É uma visão muito bonita das coisas. Era bom saber que toda essa paixão pela vida ainda existia mesmo para alguém como eu tão desconfiado da bondade humana.

-Sr. Watt, como diz uma música de uma cantora brasileira , Elis Regina, viver é melhor que sonhar. É fácil se esconder da vida, difícil é realmente vivê-la.

Meu peito apertou um pouco. E minha cara deve ter mostrado algum tipo de insatisfação pois logo falou.

-Desculpe se falei demais, às vezes não consigo me controlar. Disse meio sem jeito.

-Não, você está certa. Gosto da sua sinceridade, sra. González. É bom trabalhar com pessoas transparentes assim. Já vivo com muita neblina para querer mais. Sorri ao vê-la de volta.

-Talvez o senhor só precise de um farol de milha, ele vai lhe guiar na sua passagem e quanto menos esperar a neblina não passou de um obstáculo superado. A olhei de novo surpreso.

-E se a neblina não for só um obstáculo e sim densa demais para o uso do farol, o que recomenda a sra. González?

Não sei porque perguntei mas queria muito ouvir sua resposta inteligente.

- Então talvez o farol que você está usando não seja o que realmente precisa. Sorriu voltando a atenção as pastas se acomodando melhor no banco do carro.

Também me acomodei no banco mudando minha atenção para a janela.

Será? Será que meu farol precisa ser trocado?

Leonardo Watt Onde histórias criam vida. Descubra agora