Capítulo 1

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Um novo dia.

Um novo começo.

Mais um.

Caminhando pela praia, Cosima Niehaus estava com a cabeça baixa e perdida demais em seus pensamentos para realmente notar o magnífico céu cor de rosa sobre as águas calmas da Baía de São Francisco. Ela havia sido aceita como residente da Emergência no UCSF Medical Center e estaria lá em algumas horas para começar seu primeiro dia de trabalho. Só que não havia o nervosismo típico do primeiro dia enquanto ela avançava ao longo da praia, afinal, ela tinha tido muitos recomeços antes. Esse seria seu quarto emprego nos três anos desde a morte de Shay... não, agora eram quase quatro anos. O aniversário de morte dela estava se aproximando e Cosima temia essa data. Tentando e falhando em não pensar sobre ela, tentando e falhando em não pensar constantemente sobre como a vida deveria ser, se elas tivessem tido tempo de vivê-la. Se ela tivesse se estabelecido no Toronto General Hospital, se a vida para ela não tivesse mudado tão dramaticamente, agora ela estaria se candidatando a cargos de consultora. Mas permanecer lá não havia sido uma opção. Havia lembranças demais para ela. Após seis meses de tentativas, Cosima havia percebido que não podia continuar trabalhando no mesmo local onde um dia trabalhara com sua esposa e tinha aceitado, depois de alguma autoanálise, que as coisas nunca mais seria as mesas. Elas nunca mais poderia ser as mesmas. Então, ela havia se mudado para Vancouver, o que pareceu certo por um tempo, mas após 18 meses, bem, aquele sentimento de inquietação havia começado novamente e ela mudou-se para outro hospital, em Seattle. Só que... era a mesma melodia, apenas numa canção diferente. O lugar era ótimo, as pessoas também...

Mas simplesmente não funcionou sem Shay. Então, ela decidiu-se por San Francisco, sua cidade natal, mais perto de sua família e entre seus velhos amigos.

Não, ela não estava nervosa sobre este recomeço. A diferença era que, desta vez, estava ansiosa por ele, pronta para ele, até mesmo animada com a perspectiva de seguir em frente. Já era tempo.

Ela tinha decidido viver perto da praia e fazer caminhadas rápidas ou correr toda manhã. Mas no terceiro dia após a mudança ela havia apertado o botão "soneca" de seu despertador algumas vezes.

Cosima aumentou a velocidade e começou a correr, sua estrutura dimunuta escondendo sua destreza e bem rapidamente ela alcançou seu destino: a casa na qual ela estava de olho havia algumas semanas.

Enquanto cumpria seu período de aviso prévio em Seattle, Cosima fizera a viagem até lá para encontrar um lar perto do hospital. Procurando pela internet e conversando por telefone com corretores de imóveis, ela havia se deparado com várias possibilidades a serem visitadas durante o final de semana, pois estava determinada em conseguir uma casa antes de começar seu novo trabalho, percebendo que, se fosse a dona de uma propriedade, tazves se mostrasse mais inclinada a acomodar-se por mais tempo.

O corretor tinha mostrado a ela um apartamento típico de solteiro, um novo empreendimento junto á praia, com vista maravilhosa para a baía e a cidade. Era claro e arejado e tinha todos os confortos modernos com a vantagem de uma grande varanda, o que seria bom quando ela recebesse a visita de suas irmãs e sobrinha. Ele realmente tinha tudo e Cosima quase o comprara naquele mesmo dia, mas, enquanto esperava na varanda, que o corretor separasse os documentos, Cosima viu a casa ao lado. Ela era mais antiga e se projetava um tanto a mais para dentro da praia que o bloco de apartamentos. O jardim, que tinha acesso direto à praia, era um oásis verde coberto de ervas comparado com a varanda de assoalho de lei e paredes claras que ela estava. Em vez de olhar para a magnífica praia, Cosima ficou encantada com o jardim do quase vizinho. Um enorme salgueiro projetava sua sobra em grande parte dele, havia um escorregador, um balanço e uma cama elástica ali, mas o que realmente chamou a atenção de Cosima foi o borco estacionado junto à lateral da casa. Um homem por volta de seus 40 anos que jogava água no barco com uma mangueira olhou para cima e acenou quando eles saíram para a varanda, e Cosima balançou a cabeça rapidamente num cumprimento, não percebendo que o homem na verdade estava acenando para o corretor e não para ela.

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