Capítulo 10

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Ela provavelmente deveria ter ido visita-la.

Tentado consertar as coisas.

Voltado ao ponto "apenas amigos".

Mas era tarde demais para isso agora.

O outono estava chegando. Toas as noites, o vento arrancava mais algumas pétalas dos girassóis. Chegando à casa do trabalho, quase uma semana depois, e cansada das lembranças constantes, Cosima arrancou as flores do vaso e jogou-as no lixo reservado para material orgânico. Centenas de sementes se espalharam pelo jardim quando ela fez isso, e Cosima rangeu os dentes. Que jeito ótimo de esquecer! Se ela não apanhasse as sementes, ela precisaria de uma foice no ano seguinte, só pra chegar à porta da frente!

Ela estava em toda parte.

Em sua cabeça, em seus sonhos, e enquanto Cosima entrava em casa e subia as escadas para trocar de roupa, seus olhos se dirigiram para a praia, para onde ela havia visto Delphine pela primeira vez, e não para a fotografia de Shay na mesinha de cabeceira.

"O que devo fazer? " Ela apanhou o porta-retratos de prata e olhou para os olhos claros de sua esposa, e desejou ter apenas mais dois minutos com ela.

Dois minutos dos conselhos lógicos e práticos dela, o que era uma coisa idiota de se desejar; como se ela pudesse perguntar a Shay como agir com Delphine!

Ela queria que sua esposa lhe mandasse um sinal, um pequeno sinal, mas nem sequer sabia o que estava pedindo. E então ela olhou para a fotografia inteira, e não apenas para o rosto de Shay. Cosima correu o dedo sobre a barriga dela, onde o bebê delas vivera; tocou-a através do vidro, tocou o que nunca, nunca pudera segurar nem por uma única vez. Mas não havia tempo para lamentações. Ela tivera visitas naquela noite, o que já havia sido difícil, e depois ela fora chamada ao hospital para lidar com uma emergência às dez horas da noite. Ela pôde ouvir a música muito alta que tocava na casa dos vizinhos de Delphine quando passou pela unidade dela, e, apesar de suas melhores intenções, aquilo foi difícil de ignorar. Contudo, ela continuou a dirigir com determinação, esperando que a festa acabasse logo, ou que ela tivesse levado Charlotte para a casa dos pais. Certamente, uma festa na casa ao lado era a última coisa de que uma mãe recente precisava, poucos dias depois de trazer o bebê para casa.

Mesmo assim, não era problema dela agora.

- Eu sinto muito! – Belinda olhou para ela em meio ao setor de ressuscitação lotado, enquanto Cosima abria caminho – Eu acabei de lhe enviar uma mensagem dizendo que não estamos mais precisando de você.

- Tem certeza? – Cosima perguntou, porque o lugar estava movimentadíssimo.

- Nós recebemos um aviso de dois traumas múltiplos – Belinda explicou – além dessa montanha de pacientes, e eu pensei que podíamos chamar alguma ajuda extra, embora você não esteja de prontidão.

- Onde estão as vítimas de trauma?

- Uma morreu a caminho, e a outra não está seriamente ferida. Eu vou ligar para os pais; quem quer ter filhos adolescentes? Talvez eu devesse ter esperado antes de chamar você.

- É sempre melhor não esperar para ver – Cosima realmente não se importava de ser chamada; aquilo era parte de seu trabalho – Eu vou te ajudar, agora que estou aqui.

- Não, não vai – Belinda retrucou, examinando alguns raios-x no computador – Vá dormir um pouco; esta é apenas uma noite normal de sexta-feira.

- Eu realmente não me importo – ela insistiu.

- Mas eu me importo – Belinda disse – Você vai me substituir amanhã, lembra?

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