- Delphine! O que você está fazendo aqui? – Meg, a enfermeira-chefe, desaprovou com a cabeça enquanto Delphine lhe entregava o atestado médico que lhe permitia voltar ao trabalho, se juntava à turma de enfermeiras que iria tomar parte no plantão daqule dia e estava ali para receber suas tarefas.
- Estou bem para trabalhar, ontem tive outra consulta com meu obstetra – Delphine explicou.
Meg verificou o atestado e, mesmo depois de ler que estava tudo bem e que Delphine podia trabalhar, não tinha muita certeza.
- Você estava exausta quando a mandei para casa na semana passada, Delphine. Fiquei muito preocupada com você.
- Estou bem agora, depois da licença saúde e de ter descansado tanto.
Quando Meg não pareceu muito convencida, Delphine abriu o jogo:
- Meu teste de tolerância à glicose veio um pouco alto, era esse o problema comigo, mas faz dez dias que comecei a dieta e, além disso, venho descansando, fazendo ioga e caminhando pela praia. Eu me sinto fantástica, e algumas pessoas trabalham direto até as últimas semanas de gravidez!
- Não na Emergência – disse Meg – e você certamente não irá tão longe. Com quantas semanas você está?
- Trinta – disse Delphine – e o médico disse que estou ótima.
Meg não pôde mais discutir depois dessa declaração e, de qualquer forma, aquele não era o lugar ideal para esse tipo de conversa. Então, ela mostrou o quadro de avisos para as enfermeiras, explicando o histórico dos pacientes dispersos pelas diferentes salar que compunham a Emergência.
- Quando a sala de observação abrir, Delphine pode ficar lá...
- Eu não preciso ficar plantada em um lugar só – disse Delphine, culpada por estar recebendo a tarefa mais leve do plantão, mas Meg a encarou.
- Eu não tenho pessoal suficiente para passar todo meu tempo poupando você por conta de sua gravidez, Delphine. Se seu médido diz que você está bem para trabalhar, e você concorda, tenho que aceitar. Estou apenas distribuindo as tarefas aqui.
Delphine concordou com a cabeça, mas não importava o quanto Meg agisse como se não desse a mínima, ela sabia que os colegas estavam zelando por ela. E pela décima vez desde que descobrira que estava grávida, ela se sentiu culpada.
Descobrir que estava grávida já tinha sido bem ruim, mas os acontecimentos seguintes foram espetaculares.
Sua família não falava mais com ela, especialmente depois que ela se recusara, repetidas vezes, a dizer o nome do pai do bebê. Mas como ela poderia fazer isso? Após descobrir que, não apenas seu "namorado" era casado, descobriu ainda que a mulher dele trabalhava no setor administrativo do hospital onde ela mesma trabalhava, apesar de ninguém saber de nada, deixara Delphine tão culpada e envergonhada que ela não tivera alternativa, a não ser esconder essa informação. E quando tudo parecia perdido para ela, fora aceita no programa de graduação em enfermagem de emergência no UCSF Medical Center, que ficava do lado oposto da cidade. Ela não estava grávida quando se candidatara ao emprego e a coisa correta a fazer seria recusar a vaga, talvez isso fosse o esperado dela, mas com um futuro tão incerto se aproximando, um salário mensal seria a melhor coisa que poderia lhe acontecer a curto prazo. Além disso, já que ela obviamente seria mãe solteira, obter mais qualificações profissionais não seria de todo mal. E, por último, afastar-se de sua família e amigos poria fim às perguntas que não podiam ser respondidas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pequeno Milagre
FanfictionPassaram-se quatro anos desde que a médica Cosima Niehaus perdera sua esposa. Mas ela ainda não conseguira superar a dor. A fim de buscar um recomeço, aceitou trabalhar na emergência. Um dia, durante uma caminhada pela praia, cia estarrecida ao ver...