Cosima não se preocupava.
Ela ficava apreensiva por seus pacientes de vez em quando, mas preocupação não era com ela.
O pior dia da vida dela acontecera havia muito tempo, e ela sabia que as coisas jamais poderiam ficar tão ruins novamente; consequentemente, ela apenas seguia em frente. Não se afligia, nem ficava se remoendo ou se preocupava.
Ela não se preocupava fazia anos.
Mas agora havia alguma coisa lhe incomodando, e, ainda que tentasse ignorar o fato, o incômodo persistia.
Era apenas o segundo dia dela no UCSF Medical Center, e haviam aberto a porteira.
Uma pessoa afogada havia sido trazida às pressas, assim como as vítimas de um engavetamento na estrada à beira-mar. Estava fazendo mais de 40 graus, e as pessoas estavam desmaiando por toda a parte. Era mais um daqueles dias em que todos se esforçavam para dar conta do trabalho, e trabalhavam até o limite e além.
Inclusive Delphine.
Ela podia ver os tornozelos dela inchando à medida que o plantão prosseguia, a observava expirando pesadamente pela boca e suas faces vermelhas, enquanto ela esvaziava mais um carrinho e o preparava para a interminável lista de recipientes; podia ver o esforço nos movimentos dela, e, então, finalmente, a expressão de puro alívio em seu rosto às 3:30 da tarde, quando o plantão dela acabou. Enquanto a observava caminhar trêmula, gostando ou não, Cosima estava preocupada.
- O que você vai fazer esta noite? - Belinda estava digitando rapidamente em seu computador. No final da casa dos 30, e absolutamente estonteante, ela era também inteligente. Com cabelos negros compridos, tinha olhos castanhos amendoados, lábios vermelhos e grossos, e se vestia como se tivesse acabado de sair de uma capa de revista.
Felizmente, felizmente mesmo, Cosima não se sentia nem um pouco atraída por ela, o que significava que não havia problemas em dividir uma sala minúscula e que elas podiam conversar com facilidade sobre as coisas, o que faziam naquele momento, enquanto Cosima encerrava seu expediente e arrumava sua maleta. Era apenas o segundo dia de trabalho dela, e a papelada já estava se acumulando.
- Eu vou dar uma parada no escritório do corretor de imóveis, e então vou até a delicatessen comprar uma salada de galinha em vez de um hambúrguer - Cosima pensou por um momento - e depois eu vou me obrigar a ir correr esta noite. E você?
- Eu vou te mostrar... - ela sorriu maliciosamente - Venha cá.
Curiosa, Cosima foi até a mesa dela e olhou para a tela do computador, deparando com a imagem de uma mulher de aparência bem comum.
- Clínica geral, perto dos 40, tem filhos, mas não quer envolve-los ainda...
- Como? - Cosima não fazia idéia do que ela estava falando.
- Isso é bom - disse Belinda - A última com quem saí levou os filhos no segundo encontro! Nós conversamos pelo telefone - Belinda explicou para uma divertida Cosima - e ela parece ótima; nós vamos sair para tomar um café esta noite.
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Pequeno Milagre
FanfictionPassaram-se quatro anos desde que a médica Cosima Niehaus perdera sua esposa. Mas ela ainda não conseguira superar a dor. A fim de buscar um recomeço, aceitou trabalhar na emergência. Um dia, durante uma caminhada pela praia, cia estarrecida ao ver...