Capítulo 8

92 10 1
                                    


Cosima foi visitar Delphine enquanto ela ainda estava internada, e ocasionalmente a via na cantina, e parava para conversar um pouco e saber como ela e Charlotte estavam indo.

E ela estava indo muito bem.

Delphine via progressos todos os dias.

E não apenas com Charlotte. O gelo estava derretendo entre ela e sua mãe, também. Ela fazia uma visita dia sim, dia não, inicialmente com o pretexto de ver a neta, depois para levar suprimentos para Delphine, e finalmente, apenas para levar um presente.

Também foi Marie quem mostrou ser uma improvável fonte de conforto, quanto o leite de Delphine começou a diminuir de repente.

- Quanto mais você se estressar com isso, pior vai ficar – Marie disse firmemente, enquanto Delphine chorava, usando a bomba para tirar o leito do seio que tanto detestava. Mas com apenas três semanas, Charlotte mamava muito pouco no seio da mãe antes de ficar exausta, e tinha que receber a alimentação por meio de um pequeno tubo, que ia de sua boca até seu estômago. Delphine estava lutando para produzir leite suficiente, e odiava a sala asséptica onde sentava por horas, para produzir apenas uns poucos mililitros.

- É importante que ela receba o meu leite – Delphine rangia os dentes. O especialista em lactação havia dito aquilo a ela.

- É mais importante que ela se alimente – Marie se recusou a recuar; ela estava cansada da pressão que a filha estava sofrendo, e frustrada por causa de Delphine – Eu também não pude amamentar você, Delphine. Eu tive que começar a dar a mamadeira quando você só tinha quatro dias.

- E olhe só pra mim agora.

Ela estava sobrecarregada; sentada ali, chorando frequentemente, os nervos á flor da pele, olheiras escuras e profundas por causa das mamadas a cada duas horas, falida, e ainda por cima, mãe solteira. Aquele era, na verdade, a sua primeira vaga tentativa de brincar com a mãe nos últimos tempos, e por um momento Marie não entendeu. Então, ao abrir a boca para continuar com o sermão, a ficha caiu; ela olhou nos olhos da filha e começou a rir, e Delphine também.

- Você se deu muito bem – Marie disse, quando as gargalhadas diminuíram e as lagrimas, que nunca demoravam muito a chegar naqueles dias, enchiam os olhos de Delphine. Aquela era a coisa mais amável que sua mãe lhe dizia em muito, muito tempo – Vá almoçar – Marie apanhou a mamadeira com a quantidade pequena de leite, colou um rótulo com o nome de Charlotte e colocou-a na geladeira – Eu termino tudo por aqui. Vá relaxar um pouco.

Mas Delphine não conseguia relaxar.

Delphine preferia muito mais a rotina segura que ela mesma havia estabelecido. Vivendo na pequena área reservada para as mães, ela estava feliz com seu quarto espartano, e as noites que passava conversando com outras mães ansiosas. Seus dias eram preenchidos amamentando Charlotte ou retirando leite, ganhando mais autoconfiança com a filha sob o olhar vigilante da enfermeira, e demorando horas para escolher o que comer no cardápio que recebia uma vez por dia. Mas de vez em quando, sua mãe insistia para que ela fosse "relaxar". E Delphine detestava aquilo.

Não havia muita coisa para fazer.

Chamar os jardins do hospital assim era um grande exagero; o estoque dos caramelos preferidos de Delphine na lojinha de presentes acabara havia tempo; e ela já tinha lido cada uma das revistas disponíveis pelo menos duas vezes. Ela havia ido visitar o setor de emergência algumas vezes, mas parecia sempre chegar na hora errada, o departamento estava constantemente cheio e as pessoas ocupadas; e ela ficava sentada, sentindo-se estranha e sozinha, na sala de convivência. Mas, acima de tudo, ela detestava a cantina, onde o melhor meio de se autodescrever era "quase, mas não exatamente".

Pequeno MilagreOnde histórias criam vida. Descubra agora