Epílogo

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Nunca, nem por uma vez sequer, ela vacilou, ou duvidou.


Nem mesmo um pouquinho.


Apesar das previsões negativas de sua mãe, apesar do que ela lera sobre as "famílias agregadas" em um livro sobre psicologia infantil, que Delphine acabara atirando na parede, nem por uma vez sequer ela pensou que o bebê delas iria mudar os sentimentos de Cosima por Charlotte.


Porque sem Charlotte, elas não existiriam.


- Não falta muito agora – Cosima apertou os ombros dela, deitada na mesa de cirurgia, com toda a paixão de um médico por uma paciente, mas era aquilo que ela fazia, às vezes. Elas, haviam, somadas, passado por três gestações, e todas haviam sido bem diferentes.


Aquela havia sido uma gravidez exemplar (descontando o grande ganho de peso que ela tivera), e tinha sido excepcionalmente bem até o último momento; mas depois de oito horas de trabalho de parto, respirando e fazendo força, o bebê ainda não queria nascer!


Ela trabalhara meio-expediente até o sétimo mês, porque escolhera assim.


Delphine havia contado a Cosima sobre a dor nas costas, e os tornozelos inchados e doloridos, mas quando tivera uma enxaqueca fortíssima, preferira conversar com o obstetra, e não com ela.


E Cosima havia massageado seu estômago, e beijado sua barriga, e feito todas as coisas certas, durante toda a gravidez. As duas tinham feito tudo certo. Incentivado uma a outra ao longo do caminho, e assegurado uma a outra que tudo daria certo.


- Eu estou com medo... – ela não estava nem sequer sedada; os médicos haviam sido tão mesquinhos a respeito da anestesia que ela estava pensando em escrever uma carta de reclamação. Do que adiantava ser a esposa de uma médica? Uma epidural podia anestesiar seu abdômen, mas não anestesiaria o cérebro dela.


- E se as coisas mudarem agora?


Não importa quão bem você a arrume e o quão segura você a mantenha, sua bagagem sempre viaja com você; e de vez em quando, você tem de pagar pelo excesso, ou observar impotente enquanto o pessoal da alfândega abre o zíper e exige que você explique o que uma barra de chocolate estava fazendo escondida no seu sutiã.


Como se você pudesse explicar como ela fora parar lá.


E como se você tivesse pensado em contrabandeá-la para o outro lado do mundo.


Só que você tinha.


- Eu não quero que nada mude – ela chorou.


- A mudança pode ser uma coisa boa – Cosima disse, tentando confortá-la.


Eram só as três; Cosima, ela e Charlotte. E ela temia por elas, e temia pelo bebê que estava chegando; temia a mudança. Mas aquilo estava acontecendo, não importava se ela gostasse ou não.

Pequeno MilagreOnde histórias criam vida. Descubra agora