NUMA ÚLTIMA FRASE

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Na volta do cemitério, vovó subiu uma última vez ao sótão para pegar uma caixa de sapatos que, entregou à minha mãe com algumas palavras de explicação.

- Estou entregando-lhe isto porque acho que, é do seu direito saber o motivo disso tudo ter acontecido.

Dentro da caixa de sapatos havia dois cadernos que minha mãe decidiu lê-los assim que se retirou para o seu quarto. A única coisa que pediu antes foi que, minha avó lhe preparasse um quente e forte chá preto. Então fechou a porta, sentou-se a cama sob a luz do abajur, e pegou o primeiro caderno para o ler.

Ao passar os olhos e ler com toda sua atenção o primeiro caderno, mamãe ficou levemente fascinada, pois lhe pareceu ser somente um simples caderno com algumas anotações sobre dias e noites de felicidade. Algumas páginas, ela encontrou em branco, outras foram escritas do início até o fim, passando muitas vezes da última linha.

O primeiro caderno até parecia contar uma história de amor. De como era bom estar junto de quem se gostava. Mas à medida que se chegava ao final tudo ficava estranho e confuso. Muitas vezes parecendo que a felicidade dava lugar para pensamentos onde a solidão e a morte se fazia presente.

Ao fechar o primeiro uma sensação preocupante e hesitante tomou conta de seus pensamentos, mas mamãe se viu obrigada a pegar o segundo e começar a lê-lo sem mais demora.

Até aquele momento, mamãe não sabia que os dois cadernos eram meus - um garoto com apenas 15 e que, por motivos que eu não soube explicar nesses dois cadernos, teria

perdido a paixão pela vida. Peço desculpas a todos que conheci por toda a minha vida, ou por alguns instantes apenas.

Ao pegar e abrir aquele segundo caderno, mamãe folheou suas primeiras páginas, e achou estranho ver que todas elas estavam em branco. Então ao abri-lo feito um leque notou que, na última linha da última página daquele caderno surrado e já amarelado, havia uma frase que ao ler não foi possível conter as lágrimas. O ritmo do seu coração ficou mais acelerado. Com ele nas mãos trêmulas, mamãe leu baixinho aquela única frase que escrevi:

"Vivi o suficiente para perceber que aqui não era o meu lugar."

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