*Capítulo 5 - A garota

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A porta do quarto fez um estalo metalizado quando Rebeca a fechou; fazendo com que o ar ainda gelado não mais escapasse.

- Você precisa ver isso. - disse Nicolas indo ao encontro da jovem deitada na cama fria.

O sol da manhã batia na janela transpassando a cortina cor bege, que pendia tocando de leve o chão coberto por um carpete marrom.

Nicolas ficou diante do corpo, olhando aquela cena nauseante - a garota estava seminua estendida de bruços sobre a cama. Com os braços esticados - um deles a mão pendia para fora da cama. Tendo o rosto virado, seus olhos estáticos pareciam duas esferas opacas fitando algo além da janela. O sangue dos dedos deixara um borrão vermelho-escuro no lençol branco, e também alguns pingos no carpete.

- Tem marcas de agressão? - indagou Rebeca analisando algo sobre o sofá.

- Parece ter algo no pescoço. Marcas de mãos, talvez. E as unhas devem ter sido arrancadas com alguma espécie de lâmina pequena.

- Um canivete? - soltou Rebeca. - Nicolas... Venha ver isso.

- Mas que merda é essa?

Nicolas entrou tão rápido no quarto que não notou as coisas que foram deixadas no sofá. Sobre ele jazia as roupas da jovem: uma camiseta regata branca colocada no encosto para as costas. Uma calça jeans seguia em linha no assento, e um par de botas formava o manequim invisível.

- Ele arrumou as roupas como se ela ainda as fosse vestir?! - soltou Nicolas estupefato. Dando alguns passos para trás, ele tentou, mas não conseguiu entender o que aquilo significava. - Você conhece a história do homem do velório?* - indagou ele.

Rebeca seguiu para o quarto, para junto da jovem. Sua pele estava ainda mais branca e gelada. Rebeca sentiu estar do mesmo jeito, mas viva.

- Estamos no meio de um assassinato e você quer me contar uma história?

- Você já ouviu? - insistiu.

- Não! - respondeu com certa braveza.

- Duas irmãs viviam juntas com a mãe - começou Nicolas a contar a história. - Um dia as duas foram pegas pela tragédia de a perderem. No velório, muitos eram os parentes e conhecidos. Mas alguém, um homem que ninguém, nem parentes e nem vizinhos conheciam apareceu para o velório. Um cara alto, tipo boa pinta, entende?

- Por que não vai direto ao ponto? - retrucou Rebeca cruzando os braços lhe dando atenção.

- É o enredo que fará sua resposta ser avaliada. - sobrepôs Nicolas, andando feito um advogado querendo persuadir os jurados. - Deixe-me continuar. Depois desse dia a irmã mais velha começou a ter um relacionamento com o tal homem enigmático. Coisa de um mês mais ou menos. Depois ele sumiu. Não foi mais visto... o que deixou a moça triste, pois os dois tiveram momentos de muito amor e prazer.

- Lá vem você.

* Teste feito pela polícia para identificar se uma pessoa tem indícios de um psicopata. [NT]


- Shhh... estou no fim. - disse mexendo os braços. - Semanas depois a tragédia invadiu de novo a casa das garotas. A irmã mais velha matou a mais nova. - Ele fez uma pausa. - Agora vem a pergunta valendo um milhão. - disse com ar de suspense. - Por que a irmã mais velha matou a outra?

Rebeca pensou por um instante e disse:

- A mais velha descobriu que os dois tiveram um caso! Esse foi o motivo do tal homem sumir. - respondeu ela agachada, analisando o corpo da jovem morta.

- Humm... - pensou Nicolas esfregando de leve o queixo. - Tenho que dizer uma coisa: você errou! Mas isso é bom sabia?

- E qual foi o motivo? - indagou Rebeca pensativa.

- A irmã matou a outra para ver se o tal homem apareceria de novo para o velório. É assim que a mente de um psicopata funciona. Para eles os fins justificam os meios.

- E o que isso tem a ver com a morte dessa garota? - subjugou Rebeca.

- Não temos só um assassino aqui, e sim alguém muito perturbado. Se fosse outro, ele mataria, roubaria, mas, pelo que notei nada foi levado da bolsa e... - Nicolas fez outra pausa. - Deixar as roupas da vítima desse jeito. Precisamos acha-lo, pois ele vai matar de novo.

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