* Capítulo 2 - A carona

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Bartolomeu dirigia sua picape Chevrolet voltando para casa após passar alguns dias e noites caçando nas montanhas. Com o rádio ligado e as janelas abertas, tentava fugir do forte calor. Mais à frente avistou um homem caminhando, parecendo estar perdido. Bartolo ligou a seta e, assim que se aproximou puxou conversa.

- Ei, você está indo pra onde? Quer uma carona? - perguntou, quase parando sua picape.

Do lado de fora, um homem caminhava lentamente sob o forte sol de verão, não dando muita importância para a pergunta.

A picape continuou em marcha lenta, parando alguns metros à frente do homem, ele tirou as mãos do bolso de sua jaqueta de couro cor de avelã, ajeitou o boné preto recém comprado e andou até a porta do carona.

- Para onde você está indo? - indagou mais uma vez Bartolo, esticando o braço, deixando a porta do carona entreaberta.

O homem do boné preto colocou a mão sobre a porta, puxando-a lentamente.

- Meu nome é Bartolo - disse, esticando a mão na direção do homem que, fechando a porta, se acomodou no banco colocando a perna para fora, a apoiando no retrovisor. - Vejo que essa vai ser uma viagem longa.

A Chevrolet ficou roncando e, em seguida, saiu pela estrada, rumo ao norte.

Bartolo voltou a ligar o rádio e endireitou os óculos de grau. Os dois ouviam "Where Did You Sleep Last Night" na versão do Nirvana.

- Eu adoro essa música. - comentou Bartolo.

- Prefiro cantada pelo Leadbelly - retrucou o homem, com a voz abafada por causa do boné sobre o rosto.

"Lamentamos interromper a música - começou a falar o locutor. Mas temos péssimas notícias" - ele fez uma pausa e, com a voz cortante, voltou a falar: "Hoje pela manhã, a polícia achou o corpo de uma jovem no quarto do Motel 96. Mônica Andrade, de 21 anos, estava desaparecida desde ontem... ela foi brutalmente assassinada... E o que mais chamou a atenção dos policiais... - o locutor sussurrou um 'meu Deus!' Era que todas as unhas de suas mãos haviam sido arrancadas. Daqui a pouco voltamos com mais informações"

Um silêncio mórbido surgiu no rádio, mas logo foi quebrado com o retorno da música.

- Você reparou que tem sangue na traseira da sua camionete? - falou o estranho, levantando um pouco a aba do boné.

Bartolo deu uma cuspidela pela janela e o olhou com rabo-de-olho.

- Ah, o sangue? É da raposa que eu matei. Eu caço animais, faço taxidermia.

- E por que você faz isso? Eles lhe fizeram algum mal?

- Não. - respondeu, com a voz um pouco presa. - Eu empalho e depois os vendo.

- O que você acha? - indagou o homem, parecendo mudar de assunto.

- O que eu acho do quê?

- Da jovem... que mal ela deve ter feito na vida para morrer desse jeito?

Bartolomeu, com seus 53 anos, não sabia como responder aquela pergunta, e não estava nenhum pouco a fim de conversar sobre o assunto.

- Eu fico pensando... Isso que é estar na hora e no lugar errado, você não acha?

- É. Eu acho.

Bartolo ligou o esguicho e o limpador para tirar os restos de moscas do para-brisa.

Mais à frente eles pararam em um posto de gasolina. Bartolo desceu para abastecer, enquanto o outro caminhava até a loja de conveniências.

Depois de abastecer, Bartolomeu foi até a loja. Ao entrar, não conseguiu ver o homem, o que o fez pensar que, por algum motivo deveria ter ido embora.

Quando começou a sair do posto, Bartolo levou um tremendo susto ao ver aquele homem se enfiar na sua frente, colocando as mãos sobre o capô da picape.

- Você está louco? - bradou. - Você só pode estar louco.

- Desculpe, fui ao banheiro.

O sol brilhava forte sobre eles fazendo o asfalto parecer molhado no horizonte. De repente, os dois ouvem um estouro, vindo da traseira.

- Mas que merda! - esbravejou Bartolo. - Isso só pode ser brincadeira.

A picape parou mais à frente fora da estrada. Com um trancão, ele abriu a porta, andou até a traseira, enfiou a mão para o lado de dentro da carroceria para pegar o macaco hidráulico e a chave de roda.

O estranho também desceu.

- Não se preocupe. Eu resolvo isso rapidinho.


O homem não deu importância para o que Bartolo havia falado, pois adentrando na mata, sumiu por entre algumas árvores.

- Ah, você está aí... pensei que tivesse sumido de novo.

Bartolomeu sentiu algo penetrar seu pescoço, antes de cair morto.

Com um forte estalo metálico, a carroceria foi fechada. O estranho homem arrumou a aba do boné para trás e andou em direção à frente da picape. Com as mãos sujas de sangue ele deu a partida e, em seguida, ligou o rádio. Andréa Bocelli cantava forte o refrão de "Con Te Partiro".

O retrovisor interno foi ajeitado, revelando sobrancelhas grossas e olhos profundos.

- Muito prazer Bartolo, meu nome é Charles.

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