A PICAPE BRANCA

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Era um sábado de sol. Passava da uma hora da tarde quando Alex, Sid e Ademir me chamaram em frente de casa.

- E aí? - perguntei ao chegar perto do portão.

- Vamos até as pedreiras pegar goiaba? - disse Alex. - O Junior e o Jorge já estão vindo aí.

Andamos por meia hora sob um forte sol queimando nossas cabeças. Até chegarmos às pedreiras.

Passamos por uma cerca de ferro, e subimos até encontrarmos uma grande caixa d'água feita de cimento.

Alguns garotos tomavam banho lá dentro, mas naquele sábado não havia ninguém.

Enquanto olhávamos em volta, Alex pegou um pedaço de tijolo e desenhou na caixa a cabeça de um diabo com orelhas pontudas e cavanhaque comprido em forma de V.

Seguimos em frente e antes de catarmos as goiabas, fomos nos divertir, escorregando em um barranco, usando um pedaço de papelão.

As goiabas ficavam do outro lado, e o único jeito de chegarmos até elas, era descendo o famoso paredão de pedra.

- Ei, lembrei de uma coisa. - disse Alex, com a boca cheia de goiaba. - Da última vez que viemos aqui, encontramos na rua da fábrica de papelão, três baús de caminhões. Um deles está aberto. Vamos lá?

Empolgados com o que íamos encontrar e, sem demorar, seguimos para o que era, um pequeno galpão velho de madeira.

Em um dos lados da esquina da rua onde estavam os baús, ficava a grande fábrica de papelão. Do outro lado um vigia tomava conta de outra fábrica. Assim que surgimos pela calçada, ele nos alertou para não passarmos pelo canteiro.

- Vamos passar Jorge? - provocou Ademir.

- Tô dentro. - respondeu ele, aceitando a provocação. Mas Junior o alertou e ele acabou desistindo. Já Ademir não deu à mínima e, passou ligeiro pelo canteiro, correndo em seguida.

Um "Ei" surgiu vindo da guarita.

Junior e Alex que estavam perto de Ademir, também saíram correndo em disparada pela rua adentro. Jorge, Sid e eu saímos correndo para o outro lado. Sid até colocou os chinelos nas mãos, para correr mais rápido.

- Fala pro teu amigo que da próxima vez dou um tiro na perna dele. - resmungou o vigia, voltando para a guarita. Foi quando vimos em sua cintura, um revólver calibre 38.

- Corre em ziguezague, corre em ziguezague, eu disse pra eles - falou Alex, ofegante - Assim, se ele atirasse ficava difícil de acertar a gente. - concluiu, com uma larga risada.

Mais à frente estava o velho galpão.

- Explodiram uma das portas! - falou Sid.

Uma das portas do baú estava arrancada e a espuma usada para vedar, estava preta.

Ademir sentou em alguns troncos e comeu uma goiaba.

- Se alguém aparecer vai achar que foi a gente que fez isso - falou Junior ao entrar no baú.

Lá dentro não percebemos, mas, minutos depois uma picape parou na rua em frente ao galpão.

- Tem uma picape aqui na frente. - alertou Ademir. Ele foi o único que não entrou no baú. Ficou lá de bobeira comendo sua goiaba.

Eu acabara de subir. Voltei para a porta de trás, colocando a cabeça para fora. Em seguida vi Ademir sair correndo. Pulei para fora e percebi um cara vindo ligeiro em minha direção.

"Tem um cara aqui!" - berrou um de nós.

Saímos correndo para os fundos do galpão, indo parar em um terreno para plantação.

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