A SACOLA COM SABÃO

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Um homem andava calmamente pelas ruas de um bairro. Sobre os ombros carregava um tipo de mochila que ia até a cintura.

- Olá, moço! O que o senhor tem aí dentro dessa sacola? - perguntou um menino que brincava na rua.

- Tenho um monte de coisas - respondeu o homem. - Você mora aqui por perto? Sua mãe, ela está em casa? Tenho sabão para roupas... quem sabe ela queira comprar alguns. São de ótima qualidade!

O garoto saiu correndo para sua casa que ficava quase no fim da rua. Entrou apressado chamando pela mãe que, em seguida, apareceu na porta.

- Olá! - falou o estranho com um sorriso. - Seu filho é muito simpático - disse ele levantando um pouco a boina. - Será que a senhora teria um copo com água? Estou com muita sede.

- Claro que sim. Espere um minuto.

Ao voltar com a água a mulher levou um susto ao ver o homem de pé em sua sala, ele segurava um dos vários porta-retratos espalhados pelo lugar.

- Seu filho? - perguntou ele, colocando a foto no lugar e pegando em seguida o copo com água.

- Sim. Mas... faz anos que ele sumiu - respondeu a mãe com a voz embargada. - Não só ele, outros garotos também desapareceram e...

- E nunca deram algum sinal de que estão vivos? - descontinuou o homem.

Ela assentiu com a cabeça.

- Me desculpe - disse ela, levando a mão até o rosto, limpando uma lágrima.

O homem olhou fixo para a mulher que parecia que ia cair aos prantos.

- E se ele voltasse para casa, o que a senhora ia fazer? - indagou o homem, andando até a sua sacola que estava no chão, perto da porta.

A mulher sentiu a mão trêmula e, balbuciando falou o nome do filho.

- To-bi-as?

O homem parou em meio passo se virando para a mulher, que não conseguia mais conter as lágrimas.

- Não, não senhora... Sinto muito - disse ele. - Mas seria uma grande surpresa, não seria? Eu ser seu filho desaparecido.

Sem saber o porquê, a mulher soltou um leve sorriso, talvez pelo constrangimento que o fez passar.

- A senhora ainda vai querer comprar algumas pedras de sabão? Essas são especiais!

- Ah, minha nossa. Eu aqui falando bobagens e o senhor querendo vender a sua mercadoria. Sim. Vou querer dois pacotes.

- Muito obrigado pela água. - agradeceu o homem passando pela porta.

- Me desculpe pelo que falei lá dent...

- Tudo bem - interrompeu ele. - Sei que não é fácil para a senhora suportar a perda de um filho. Bom, agora tenho que ir. Aproveite bem essas pedras de sabão. Como já disse, são especiais - concluiu ele dando um sorriso amigável.

A mulher voltou para dentro de casa colocando os dois pacotes de sabão no armário. Em seguida saiu para chamar o filho que brincava na rua.

Do portão ela observou o homem que conversava com ele e com outro menino.

- O que vocês estavam conversando? - perguntou ela, assim que o garoto passou correndo portão adentro.

- Nada. É que o Guga estava indo embora e aquele homem perguntou se podia acompanha-lo até em casa.

No dia seguinte quando preparava a máquina para lavar as roupas, a mulher abriu o armário e sentiu um aperto no peito ao ler o nome que estava impresso na embalagem do sabão em barra. Com as mãos trêmulas pegou o pacote e sentou-se no chão com as pernas encolhidas. Ó Deus - balbuciou ela, então começou a chorar.

Bem-vindo à Escuridão - ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora