CAPÍTULO SEIS
Embora seus pensamentos a direcionassem para outro lugar, Zoe tentava assistir televisão acomodada em uma das poltronas confortáveis da sala.
Por alguns segundos, começou a recordar-se de Hellen. Questionou-se se realmente havia tratamento para o vício da esposa, temendo que tudo fosse uma perda de tempo. Teria permanecido em suas divagações, se não fosse por Rafaela, a empregada, andar pela sala, avisando que o seu expediente já havia encerrado.
— Estou indo embora. Precisa de alguma coisa? — a secretária do lar indagou de modo solícito.
— De jeito nenhum — a menina respondeu enquanto mexia a cabeça. — Mas você sabe quando a senhora... Digo, quando a Maitê volta pra casa?
Ajeitando a regata que trajava, Rafaela exibiu meio sorriso para a menina, como se estivesse se divertindo com a ingenuidade de uma criança e falou:
— Dona Maitê não tem hora pra voltar.
— É que eu ainda preciso resolver umas coisas — disse, arqueando as sobrancelhas.
A mulher de tez bronzeada mordiscou o lábio inferior e encarou Zoe com curiosidade durante alguns segundos.
— Por um acaso você será a "mãe de aluguel" da patroa?
Rapidamente, as bochechas de Zoe tornaram-se ruborizadas e ela sentiu como se as palavras interrogadas pela mulher, houvessem lhe apertado o estômago.
Titubeou por um momento, pensando no que responderia, afinal, Maitê ainda não havia lhe esclarecido se gostaria que aquela ideia fosse revelada.
— Não! — mentiu. — É que tive uns problemas em casa e ela vai me acolher por um tempo — justificou-se.
— Perguntei apenas por curiosidade — Rafa retrucou, dando de ombros. — Queria muito saber quem vai ser a maluca a se submeter a isso.
Desconcertada, Zoe forçou um sorriso para a empregada e, concordou, acenando com a cabeça. Rafaela, por sua vez, despediu-se, deixando a jovem na companhia de seus devaneios.
*.*.*.*
Beiravam dez horas da noite e Zoe ainda estava passeava pelos canais da TV, tentando ocupar a mente ansiosa. Por fim, entediada, decidiu dar uma volta pelo apartamento novamente.
Aproximou-se da estante planejada que havia do outro lado da sala e analisou cuidadosamente as fotografias que haviam por ali. Pegou-se sorrindo ao observar uma das fotos em que Maitê apresentava um sorriso discreto nos lábios, com os cabelos loiros mais curtos e aprumados e ao fundo um gramado bem cuidado.
Fechou os olhos ao sentir o vento leve entrar pela porta de vidro, tocando-lhe o rosto e soprando a rápida lembrança do contato de mãos com a diretora naquela tarde.
Dedilhou as lombadas dos livros metodicamente enfileirados por cores e tamanhos e também as esculturas modernas que enfeitavam cada uma das prateleiras.
Olhou os quadros de arte, cujos desenhos eram respingos de tintas e imaginou a fortuna que aquilo teria custado a executiva em uma dessas famosas exposições artísticas.
Por fim, passou pelo corredor comprido e abriu a porta do quarto de hospedes, observando cada detalhe. Respirou fundo e sentou-se a beira da cama de solteiro, mirando os olhos por entre as frestas da persiana. Tentou imaginar como seria conviver durante quase um ano na companhia da senhora Martineli.
— Vai dar muito certo ou muito errado — sussurrou para si mesma.
Colocou as mãos no baixo ventre e encarou o reflexo no espelho do espaçoso guarda-roupa, imaginando-se nas últimas semanas de gestação. Sorriu.
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Acordo Perfeito (COMPLETO)
RomanceApós um grave problema de saúde que lhe resultou em sequelas, Maitê abdicou-se do desejo em se tornar mãe, buscando dedicar-se inteiramente a sua empresa. Em meio às faltas injustificadas e atrasos no trabalho, para cuidar da esposa dependente quími...