Onde Eu Estou?

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Acidente

Jonathan acordou um tanto confuso. Abrindo cada vez mais os olhos, sua vista, que antes estava embassada, foi ficando nítida. Sentiu suas mãos em um lugar áspero e sujo, respirou fundo e detectou um forte cheiro de fumaça e gasolina. Ao ouvir um carro buzinar, abriu bruscamente os olhos assustado.
Notou ele que estava no meio de uma rua em uma cidade muito agitada. Para todos os lados que ele olhava, haviam pessoas andando para lá e para cá ocupadas demais com seus próprios afazeres. E por essa ocupação, não notaram o garoto no meio da rua confuso.
Jonathan levantou meio tonto e girou observando os prédios altos e as lojas lotadas de pessoas vaidosas. Então, ele ouviu alguém gritar.

- CUIDADO!! -gritou uma menina do outro lado da rua. Assim, um carro atropelou Jonathan.

Chamaram a ambulância e levaram Jonathan até o hospital. Como ele não tinha documentos, ou um responsável, o internaram em um hospital público.
Ao acordar, Jonathan sentiu vários fios em seus braços, e uma de suas pernas engessadas. Ele se encontrava em um quarto com uma cortina grande que parecia tapar a luz do sol que queria invadir o lugar.
Respirou fundo e tentou entender a situação que estava. Afinal, por mais louca que a realidade tivesse se tornado antes, ela estava ficando mais louca ainda.
Depois de três dias de cama no hospital, Jonathan começou a receber doações e fazer alguns amigos ali no hospital. Como o mesmo não tinha onde morar, os médicos decidiram deixar ele ficar lá até se curar completamente da perna.
Em mais um dia naquela outra realidade para Jonathan, ele decidiu correr com a cadeira de rodas pelo corredor do hospital. Então ele se esforçou bastante para ir rápido, e acabou sendo parado por uma menina com a mão estendida.
Ele a observou perplexo por um tempo, e a cumprimentou em seguida.
Era um sentimento novo para o jovem menino. Ele conseguia sentir um céu de borboletas dentro de sua barriga, suas mãos suavam como um corredor no meio de uma maratona, seu coração estava acelerado como um carro de fórmula 1, e seus olhos fixados em outro par de olhos aos quais o encantavam.
A menina continuou o observando com um sorriso tranquilo e despreocupado. Até que ambos foram chamados para voltarem aos seus quartos.
Ali, Jonathan já sabia que estava encrencado. Ele tinha certeza de que seu coração estava quase que completamente doado para ela.
Jonathan estava apaixonado.

Mochila

Caden abriu os olhos devagar e notou que estava cochilando em uma cadeira. Ao ver onde se encontrava, ficou assustado. Porém, mais do que assustado, Caden estava confuso. Minutos atrás ele tinha visto um clarão, e estava caindo enquanto perdia suas asas.
Tentando encarar aquele novo, olhou para a bolsa do seu lado que deduziu ser sua. Lá tinha um computador, dinheiro, documentos, alguns livros, e uns papéis aleatórios. Ele pegou o dinheiro, e foi até uma loja que viu ali perto. Comprou um macarrão instantâneo, pediu para fazer o macarrão ali na loja, e quando pronto, o saboreou.
Minutos depois disso, Caden viu uma menina entrando apressada na loja fazendo um barulho alto na porta. Ela tinha a expressão de alguém que estava nervosa com alguma coisa, mas tentava ser "invisível". Depois que algumas pessoas na loja pararam de olhar para ela, ela começou a pegar algumas coisas ali e esconder na roupa com intenção de roubar.
Caden viu a cena e não pode manter-se parado. Ele pegou uma bolsa, colocou tudo aquilo dentro, pagou por todos os produtos, e a entregou.
A menina saiu batendo o pé com uma expressão de raiva, mas parou a caminhada antes que sumisse da vista de Caden. Virou para trás, e foi de volta até ele.

- Olha, eu não tenho pra onde ir, você também parece que não, então vamos só... Sair? -ela falou o convencendo.

- Feito. -Caden a cumprimentou e os dois começaram a andar sem rumo pelas ruas.

Depois de passarem por algumas lojas de comida e roupa, foram tentar arranjar um lugar temporário pra morar.
O estranho ali era que eles haviam acabado de se conhecer, e já pareciam próximos como irmãos.
Caden e a menina pararam numa linha abandonada de trem, e começaram a conversar. Então, Caden teve alguns flashbacks rápidos dele e mais seis meninos naquele mesmo lugar. Ele não conseguia lembrar quem eram os meninos, mas podia sentir que os amava muito.
Enquanto observava o horizonte, na mente de Caden vieram muitos pensamentos sobre o valor que ele dá as coisas e pessoas. Ele simplesmente levantou, colocou seu celular em cima de uma garrafa plástica em pé ali, pegou um graveto cumprido, e bateu no celular como uma bola de golfe.
Mais interessante foi o rosto da menina atrás de Caden. Ele esperava que ela se assustasse e reclamasse com ele, mas ela apenas continou neutra do jeito dela.
Caden olhou para um lugarzinho abaixo da ponte perto deles. Lá parecia ser confortável e longe de todo mundo.

- Achei. -Ele se levantou, foi até lá, e começou a arrumar as coisas.

- Vai tentar construir uma casa aí, senhor engenheiro? -Ela riu em tom de deboche.

- Vou conseguir construir uma casa, senhorita pessimista. -Ele falou com ênfase em "conseguir", e continuou a arrumar as coisas usando tudo disponível.

O Bolo

Eu estava numa sala de dança pequena e empoeirada com o Loui. Ele me pediu para gravar um teste que ele estava fazendo para ver se entrava em uma agência famosa que ele era muito fã. Então gravamos várias vezes, e em maioria delas eu ria com as expressões que Loui fazia durante a dança. Até que mais ou menos uma hora e meia depois, a irmã de consideração do Loui entra na sala. A medida que meu coração começa a acelerar, minhas mãos começam a tremer. Eu já gostava dela faz tempo...

Quando Loui era pequeno demais para entender qualquer notícia "drástica", a sua mãe o levou ao parque. Lá, ela fingiu que eles estavam brincando de esconde-esconde, e abandonou Loui. Ela só o deixou uma barrinha de Snickers. Nenhuma carta, ou foto, nem nada. Loui foi parar no orfanato. Semanas depois, uma família foi visitar o orfanato onde Loui estava, e a criança daquela família simpatizou muito com Loui. Acabou que o menino foi adotado por eles. Eu, que na época era o melhor e único amigo de Lexa (irmã adotiva do Loui), tenho que admitir que fiquei um tanto enciumado com a aproximação de Lexa com Loui. Mas mesmo assim, achei uma boa alternativa eles terem adotado o Loui. Porque alguns anos antes, os pais de Lexa haviam se separado. E nessa época, ela tinha um irmão chamado Caden. Quando seus pais se separaram, seu pai levou Caden com ele, então Lexa e sua mãe nunca mais tiveram notícias.

Ao reparar nas mãos de Lexa, vi que ela trazia consigo um bolo cheio de velas. Então Loui fez uma expressão chocada e confusa.

- Lexa, obrigado, mas... Não é meu aniversário.

- Loui, lembra quando eu e nossos pais fomos adotar você?

- Claro que lembro. Foi um dos melhores dias da minha vida! -falou Loui sorrindo enquanto milhares de flash backs se passaram em sua cabeça.

- Fazem exatamente quatorze anos que você chegou em casa. É uma data muito especial pra mim, maninho. -sorriu Lexa de lado olhando pra baixo.

- Pra mim também, mana.

- Então faça um pedido.

Lexa acendeu as velas, e Loui fixou os olhos nelas. Em seguida, se lembrou de sua mãe o levando ao parque. E assim, desejou que sua mãe não se esquecesse dele. Will notou o forte sentimento que transbordava em Loui naquele momento, e começou a cantar parabéns junto a Lexa.

A Ponte

Eu estava numa ponte. Não sei bem porquê eu estava lá, mas consegui ter alguns flash backs de um clarão enorme enquanto sentia uma forte dor de cabeça. A ponte começou a ficar movimentada e várias pessoas andavam para lá e para cá, tomando conta de sua própria vida.

Dentre eles, tinha uma garota. Ela estava assustada com o movimento ali e acabou derrubando algumas folhas que carregava consigo. Corri para ajudá-la e ao lhe entregar os papéis, olhei nos seus olhos e ela olhou nos meus. Contando o clima, puxou os papéis da minha mão andando em frente rápido.

Enquanto eu não conseguia tirar meus olhos dela, em um certo momento, ela olhou para trás. Mas apenas brevemente. Então continuou a andar. Olhei para baixo, e vi que ela tinha deixado cair uma presília de cabelo no chão. Peguei, guardei no meu bolso, e coloquei um pirulito na boca.

Assim saí andando por aquela cidade, sentindo o vento gelado, e imaginando se eu encontraria aquela menina de novo. Eu deveria ter ido atrás dela, eu deveria ter corrido.

Na verdade, não há nada que eu pudesse ter feito... Eu a conheci agora. Meu coração bateu mais rápido agora. Estou confuso sobre meus sentimentos e o que devo fazer com eles. Estou confuso sobre o lugar que vivo e o lugar do qual vim.

Sinto que nenhum dos meus reais sentimentos é válido. Apenas o que eu consigo sentir é o gosto doce da bala na minha boca, a presília nas minhas mãos, o vento gelado me dando arrepios... E um gosto estranho de álcool no fundo da minha garganta.

PILLSOnde histórias criam vida. Descubra agora