Desventuras

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Isqueiro

Aquelas teclas do piano... A melodia que parecia percorrer na minha cabeça como o vento que balançava as cortinas. A minha casa nunca foi muito grande... Na verdade, ela é do tamanho de um quarto. Mas isso não importa. Apenas a presença do piano, já me acalmava.

Peguei um cigarro, coloquei na boca, e quando fui pegar o isqueiro para acender, ela o pegou primeiro.
A Lana nunca gostou muito desse meu hábito de fumar, e ela sempre tenta me convencer a não fazer isso.

Ela pegou uma canetinha permanente e riscou ali minhas iniciais. Levou até o violão, amarrou no braço dele, e levantou um pirulito. Eu ri, fui até ela, peguei o pirulito e ficamos conversando até entardecer.
Ela acabou me convencendo a não fazer mais isso, ao mesmo tempo que me viciou em doces.

Chegou a noite, e ela disse que tinha que ir resolver algumas coisas. Nós nos despedimos, e ela saiu.

Passei um bom tempo deitado no sofá olhando pro teto. Eu sentia algo estranho dentro de mim, mas eu tentava ignorar isso. Horas depois, meu celular fez um barulho das notificações de mensagem. Caí no chão ansioso pra ler a mensagem e vi que era dela.

Nesse momento, eu só li as várias mensagens seguidas mandadas. Percebi que quem estava mandando as mensagens não era ela. Um policial infelizmente me explicou toda a situação, e eu fiquei chocado.

Lana havia saído para seu trabalho, e lá, aconteceu algum problema na cozinha que acabou formando um incêndio no local.
Poucas pessoas foram salvas, mas essas poucas contaram histórias para o policial que mandou as mensagens sobre o quão heroína Lana foi.
Ela subiu até o último andar e conseguiu salvar todas as crianças que estavam fazendo um passeio da escola ali.
Ela não saiu do edifício até todas as crianças saírem. Mas quando foi sair, a chama cresceu e ela acabou... Morrendo queimada...

Meu coração parou ali mesmo.
Lana havia se tornando uma das minhas únicas boas lembranças...

Flores

Aaron estava em uma estação de trem, enquanto observava a velocidade na qual eles passavam ali.
Ele se lembrava de tudo o que havia feito. E então, tomou consciência de que aquela viagem à uma realidade aleatória, tinha acontecido por sua causa. Percebeu ele que esse era seu poder. Ele poderia alterar a realidade e o tempo.
Ao se surpreender com seu poder, ficou eufórico. Mas então, lembrou de sua outra realidade, onde seus pais, junto com 99,9% da população haviam morrido. Assim, escorreu uma lágrima de seu rosto.
Foi aí, que ao passar mais um trem ali fazendo seus cabelos voarem, pôde ver uma menina do outro lado da estação. Ela parecia estar um tanto ocupada, porém tranquila.
Ao ver o sinal de permissão para a passagem dos pedestres, ela passou correndo apressada até a saída da estação.
Olhei para o chão e vi que ela tinha deixado cair um diário.
Ao ler aquelas páginas, começou a crescer em mim um certo desgosto por mim mesmo. Como algum nível leve de baixa autoestima.
Assim, levei esse diário para casa, e li ele inteiro. Lá, encontrei o número dessa menina e resolvi ligar para ela.
Passamos quase que a tarde inteira conversando.
Eu só conseguia gostar mais e mais dela a cada momento. Foi assim que viramos amigos bem próximos. E a noite, criei coragem e chamei ela pra sair. Eu tinha tudo arquitetado:
Eu apareceria como um príncipe encantado, a levaria as flores que estavam num vaso do meu apartamento a muito tempo (porém continuavam lindas), a pegaria em casa, e levaria a mesma para um restaurante famoso, depois, passaríamos por todo aquele bairro, e eu me declararia para ela.
Eu sei, é cedo até demais pra se declarar assim. Mas eu ainda acho que é a hora certa. Porque se não for agora, eu vou acabar perdendo a coragem de fazer isso.
Então, passei o dia seguinte inteiro preparando as coisas e me preparando.
À noite, coloquei minha melhor roupa, e dirigi até o endereço que ela me deu. Parei o carro do lado contrário a casa dela na rua, e a avistei de longe. Ela acenou para mim, e eu sorri para ela. Mostrei as flores, e ela, sorrindo, veio em passos rápidos até mim.
Foi quando eu vi os faróis do ônibus, que senti as flores escorregarem da minha mão e caírem no chão.
Aquela cena passou em câmera lenta para mim. Havia conhecido ela ontem, mas perde-la agora doeu tanto quanto meus próprios demônios.
Não caiu lágrima nenhuma de meus olhos. Eu apenas voltei ao carro enquanto uma grande multidão se formava ali.
Dirigi o carro numa velocidade a qual eu com certeza seria multado se tivessem policiais por ali. Foi quando minha vista começou a embassar com as lágrimas alojadas nos meus olhos, e tudo pareceu muito menos nítido.
Cheguei em casa, e me deitei na cama. Não esperei muito, e adormeci. 

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