Vidas Aleatórias

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Jonathan

Seres humanos são fúteis demais para ter sentimentos. Provavelmente, o universo não foi feito para que existissem pessoas verdadeiras. Eu sempre fui a criança perfeita, com a vida perfeita, e... Bom, resumindo, nada disso é verdade. Meus pais se casaram por causa de um contrato que as famílias deles fecharam. Claro, depois desse contrato, nunca nos faltou dinheiro pra nada. Mas isso não foi suficiente para eles. Apenas o dinheiro não era bom o bastante. Eles queriam reconhecimento, queriam poder. Então me criaram para ser a criança perfeita. Quer dizer, eu nasci por miscigenação artificial. Eu era como um "robô". Eu só tinha os amigos que eles permitiam, eu só comia o que eles permitiam, eu só falava quando eles permitiam. E bem, isso foi até uma vantagem de certa forma. Meu corpo e cérebro me favorecem muito. Durante meu crescimento, eu sempre ouvi eles falando sobre algo relacionado a algum tipo de pílula. Acho que meu pai é um traficante. Não sei. Eu não posso ter certeza de nada, então prefiro apenas guardar o que já está na minha mente. Bom, como toda noite às 18h p.m. em ponto, eu desci para jantar. No caminho pelo corredor até a escada, eu comecei a observar algumas caixas deixadas por lá, e me intriguei a ver o que havia dentro delas. Cheguei perto da caixa quando ouvi minha mãe gritar:

- JONATHAN! -gritou num tom de estresse.
- Já estou descendo mãe! -gritou para que ela o ouvisse do andar de baixo. Desceu as escadas correndo e chegou na sala de jantar onde seus pais o esperavam autoritários.
- Quem você acha que é para desrespeitar a regra da pontualidade? -falou o pai numa única pauta vocal.
- Mas ainda são... -olhou para o relógio e viu que tinha se atrasado 2 minutos.- São dezoito horas e dois minutos.
- Seus dois minutos de atraso terão uma punição. -falou sério.
- MAS SÃO SÓ DOIS MIN -foi interrompido pela faca que seu pai cravou na mesa.
- Repita a frase que eu e sua mãe lhe ensinamos quando você tinha 3 anos. -segurou a mão de sua esposa.
- "Erros são erros. E precisam ser corrigidos." -falei desanimado e se jogou na cadeira deslexado.
- Coma os legumes que estão no seu prato. -ordenou, e Jonathan o obedeceu.

Eu comi devagar tentando adiar a hora da minha punição. Mas eu sabia que jamais escaparia dele. Então me rendi. Me levantei, empurrei a cadeira para dentro da mesa, e segui meu pai até o porão. Desde os meus 5 anos de idade, nós usamos esse porão para castigos. Como um calabouço. Meu pai é bastante bruto nessa questão de castigo. Se eu pudesse escolher, escolheria minha mãe com certeza. Ele me virou de frente para a parede, eu levantei meus braços, e ele chicoteou-me com uma corda. Nem murmurei. Eu sabia que ele não faria só aquilo. Após me chicotear, me disse para tirar minhas roupas. Eu o obedeci com medo. E então, me mandou subir em um banco e amarrou minhas mãos com um nó mal feito.

- Eu vou tirar esse banco dos seus pés, e você vai se pendurar a essas cordas até aprender a respeitar os horários. Se por acaso ousar se soltar... -foi até o canto, se abaixou para pegar algo debaixo da sua mesa, e pegou um furador de pneus.- Você sofrerá as consequências.

Eu comecei a suar frio após ver o furador de pneu. É como um tapete. Porém, tem pontas afiadas e amoladas todas as semanas pelo meu pai. Ele me banhou de óleo, e tirou o banco dos meus pés. Eu tenho um bom físico, então consegui resistir com facilidade os primeiros minutos. Logo após, meus braços começaram a querer desistir, e tentei de todas as formas resistir. O óleo fazia minhas mãos escorregarem da corda, e meu peso não favorecia quando a mesma. Quando vi, eu estava aos gritos e cheio de lágrimas no rosto. Uma das minhas mãos se soltou da corda e eu furei o meu pé esquerdo. Gritei de dor, e depois de alguns segundos, ele tirou o tapete e me deixou descer.

- Agora dê um jeito de sair daqui limpo. Não queremos esse odor de óleo e esse sangue no seu pé espalhados pela casa. -subiu as escadas e parou na porta.- Queremos vê-lo na sala em dez minutos. -saiu e fechou a porta.

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